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Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

Qual o prazo de Bolsonaro?

A eleição se aproxima, e o centrão não banca perdedor

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As pesquisas da semana passada frustraram o Palácio do Planalto. Os bolsonaristas esperavam uma diminuição substancial da distância entre Bolsonaro e Lula quando o Auxílio Brasil fosse pago. O candidato fascista conseguiu subir em alguns segmentos, mas, no agregado, não tirou votos de Lula. A frustração dos bolsonaristas nas redes sociais era evidente.

É perfeitamente possível que essa situação mude. O Auxílio Brasil, por exemplo, pode demorar para fazer efeito.

Os números da semana passada sugerem que os eleitores compreenderam o caráter eleitoreiro do Auxílio: todo mundo viu que Bolsonaro só lembrou que os pobres existiam quando faltavam três meses para a eleição, todo mundo sabe que o auxílio só é garantido por lei até dezembro, e o eleitorado, por experiência, sabe que Lula não cortará o auxílio se vencer a eleição.

O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia de entrega do espadim aos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, interior do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

No fundo, os pobres podem encarar o auxílio de Bolsonaro como os ricos encararam as isenções fiscais de Dilma: embolsando a grana, mas já de início supondo que a festa não vai durar.

Mesmo assim, pode ser que, de forma menos consciente, o alívio do auxílio gere uma sensação de bem-estar nas próximas semanas. Se isso acontecer, Bolsonaro pode finalmente invadir o território eleitoral lulista.

O problema com essa hipótese é que, se Bolsonaro precisa de tempo, falta só um mês e pouco para o primeiro turno.

E o prazo para que os aliados de Bolsonaro comecem a abandoná-lo pode ser mais curto do que isso. Talvez o prazo final para Bolsonaro não seja o dia da eleição. Talvez seu prazo final seja o último dia em que ainda dê tempo para seus aliados passarem para o lado de Lula.

Se, depois dessa data, Bolsonaro ainda tiver cara de candidato que não decola nem gastando bilhões e tendo a máquina do governo do seu lado, seus aliados vão embora.

Foi exatamente o que aconteceu com Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles na eleição de 2018: bem antes do primeiro turno, suas bases eleitorais já trabalhavam por Bolsonaro.

Quem traiu vindo em 2018 pode trair voltando em 2022 sem o menor constrangimento.

Isso já vem acontecendo. Os candidatos bolsonaristas a governador escondem Bolsonaro em suas campanhas. Se em 2018 tivemos o BolsoDoria, em Minas Gerais já há o movimento Lulema, de apoiadores do direitista Romeu Zema que votam em Lula. Essas coisas raramente são o começo de uma história que termina com a vitória do candidato traído.

Também é digno de nota que Arthur Lira, o mais bolsonarista dos líderes do centrão, descobriu semana passada que os ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas foram um erro. Pode ser que Lira tenha lido "Como as Democracias Morrem", de Steve Levitsky e Daniel Ziblatt. Também pode ser que só tenha lido as pesquisas.

Em um país com instituições fracas, como o Brasil, ninguém pode descartar a vitória do candidato que tem a máquina pública nas mãos. Bolsonaro ainda pode ser reeleito, seja pelo dinheiro que já gastou, seja por uma nova rodada de gastos e isenções, seja porque os líderes evangélicos podem escolher afundar com Bolsonaro dando ordem a seus fiéis para que votem contra seus interesses econômicos.

Mas, por mais que as projeções variem, restam duas certezas: falta cada vez menos tempo para a eleição, e o centrão não banca perdedor.

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