Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)
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Passados 2.023 anos do nascimento do homem de Nazaré, o quanto aprendemos com as lições do profeta que defendeu os oprimidos e desprezados pela sociedade, pregou a solidariedade, o amor ao próximo e promoveu uma revolução que deu origem ao cristianismo, a religião mais difundida no planeta?
Quais as implicações cotidianas entre a representação eurocêntrica de Jesus e a afirmação teológica de que "os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus"?
Por que um judeu nascido no Oriente Médio, uma região afro-asiática, é retratado para a humanidade com olhos azuis e cabelos loiros?
Será que um Deus negro seria amado sobre todas as coisas num mundo racista e preconceituoso?
Cristo não é descrito fisicamente na Bíblia, que se limita a referir sua idade aproximada, cerca de 30 anos, pelos Evangelhos. Mas as representações mais antigas de sua imagem —encontradas na antiga cidade de Dura-Europos, na Síria, na década de 1920, num local reconhecido como das primeiras igrejas cristãs preservadas— não condizem com a de um homem branco. Tratam-se das pinturas "O Bom Pastor", "A Cura do Paralítico" e "Cristo e Pedro Caminhando sobre as Águas". Nelas, "Jesus é retratado com cabelos encaracolados, curtos e pele escura", observa o historiador Flavio Muniz. As imagens estão na galeria de arte da Universidade Yale.
Voltando à atualidade, a edição 2023 do Atlas da Violência (do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea) indica que a proporção de pretos e pardos assassinados no Brasil é a maior em 11 anos. No país mais negro fora da África, 8 em cada 10 vítimas de homicídio são negras. É o triplo do índice para outros grupos. Não pode ser considerado obra do acaso.
O ideário de Jesus Cristo transcende divisões raciais. Mas inúmeras Igrejas vêm sendo coniventes com o massacre de populações negras mundo afora.
Como seria o Natal se fosse um Deus negro pregado na cruz?
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