Por que n�o vale a pena matar as on�as que comem gado no Pantanal
Rafael Hoogesteijn | ||
On�a-pintada avistada no Pantanal |
Matar on�a-pintada que andou comendo bezerro desgarrado pode at� satisfazer o desejo do fazendeiro de ir � forra e n�o ficar no preju�zo, mas � uma p�ssima ideia do ponto de vista do bolso.
Pesquisadores calcularam quanto uma regi�o do Pantanal ganha por ano com o turismo de observa��o de on�as e compararam o valor com os preju�zos trazidos pelos felinos que gostam de comer picanha bovina de vez em quando. Resultado: o que se perde com as reses devoradas equivale a menos de 2% do que se ganha com os turistas f�s de on�a.
Em n�meros absolutos, estamos falando de quase US$ 7 milh�es amealhados em 2015 com o ecoturismo dedicado aos felinos, versus apenas US$ 121 mil perdidos por conta da a��o de on�as que enjoaram de comer capivara. Isso, � bom lembrar, em apenas um peda�o do Pantanal - a regi�o do Parque Estadual Encontro das �guas, nos munic�pios de Pocon� e Bar�o de Melga�o (MT).
Os dados, expostos em artigo na revista cient�fica "Global Ecology and Conservation", foram levantados por uma equipe que inclui Fernando Rodrigo Tortato, da Universidade Federal de Mato Grosso e da ONG Panthera, e Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido). "Nossos dados podem ser extrapolados para outras regi�es que exploram o ecoturismo e a observa��o da on�a-pintada no Pantanal, como C�ceres, em Mato Grosso, e Aquidauana, Corumb� e Miranda, no Mato Grosso do Sul", declarou Tortato � Folha.
Mesmo na �rea estudada, os n�meros obtidos pelos pesquisadores est�o claramente subestimados porque levaram em conta apenas os ganhos obtidos de forma direta com a observa��o de felinos, sem considerar coisas como as refei��es dos turistas em restaurantes da regi�o ou seus gastos com deslocamento.
POUSADAS
Para chegar aos resultados, Tortato e seus colegas visitaram sete pousadas da �rea estudada que oferecem pacotes especificamente voltados para saf�ris fotogr�ficos de on�as (com dura��o m�dia de tr�s dias). Computaram ent�o as di�rias de cada pousada por h�spede, o n�mero total de visitantes em 2015 e a taxa m�nima de ocupa��o di�ria nos estabelecimentos. S� esses dados entraram na conta.
Um pouco mais complicado foi definir a �rea impactada pelas on�as no parque e em seu entorno. Com a ajuda de coordenadas de GPS dos locais onde os bichos costumam ser observados (em geral ao longo dos rios), e levando em conta os deslocamentos t�picos da esp�cie, eles estimaram uma �rea de 81 mil hectares para o territ�rio das on�as na regi�o.
Considerando uma densidade de cabe�as de gado t�pica do Pantanal (0,2 cabe�a por hectare), eles estimaram que a popula��o bovina da �rea estaria na casa dos 16 mil animais. Cruzando esse n�mero com estudos sobre o impacto m�dio das on�as nos rebanhos daquela zona (uma mortalidade de 2,5% das reses ao ano), com um valor perdido de US$ 300 por boi morto, o grupo chegou ao preju�zo anual de US$ 121 mil.
Na �rea do estudo, a observa��o de on�as costuma ser realizada por empresas que n�o est�o ligadas �s fazendas de cria��o de gado. Os pesquisadores prop�em que uma parte muito modesta da renda gerada pela atividade poderia ser usada para cobrir os custos da perda de bois - turistas entrevistados por eles disseram topar que uma m�dia de 7% a mais de suas di�rias fosse usada para esse fim. Mas n�o seria mais l�gico que os fazendeiros tamb�m virassem empreendedores de ecoturismo?
"Na por��o sul do Pantanal, as pousadas normalmente est�o associadas �s fazendas. Com isso, a on�a-pintada pode representar lucro e preju�zo para o mesmo propriet�rio", diz Tortato.
"Mas n�o � necess�rio que todos os pecuaristas do Pantanal diversifiquem o seu portf�lio econ�mico. Acho que seria melhor que algumas propriedades se especializem em ecoturismo, enquanto outras podem se concentrar na pecu�ria extensiva com um manejo modernizado do rebanho", argumenta Carlos Peres. "O mais importante � que os pecuaristas possam exercer um regime de toler�ncia ao jaguar que possa ser financeiramente neutralizado por um sistema de compensa��o."
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
Pobreza, desmatamento e extração ilegal de madeira e ouro margeiam rodovia na floresta