Corinthians: delegado crê em fraude via Bolsa Família no caso da Vai de Bet

O delegado Tiago Fernando Correia acredita em fraude via Bolsa Família na criação de empresa laranja para repasse de parte da comissão do patrocínio da Vai de Bet no Corinthians.

O que aconteceu

Tiago Fernando Correia, da delegacia de crimes financeiros do departamento de polícia de proteção à cidadania, ouviu o depoimento de Edna Oliveira dos Santos e atestou que ela é vítima.

O delegado crê que a assinatura de Edna foi fraudada por meio do cadastro do Bolsa Família ou do auxílio emergencial. Um e-mail da empresa de fachada da Neoway Soluções passou a constar no cadastro da moradora de Peruibe.

O e-mail estava atrelado no aplicativo Bolsa Família ao endereço eletrônico da Neoway. Levantamos a suspeita que os malfeitores podem ter subtraído os dados do Bolsa Família ou pelo Auxílio Emergência. Ela recebeu o auxílio. Podem ter obtido os dados nesses programas assistenciais

Tiago Fernando Correia

Edna, que vive do Bolsa Família e sustenta três filhos, foi envolvida em um esquema de lavagem de dinheiro de comissão do acordo de patrocínio da Vai de Bet no Corinthians. O acordo foi rescindido por meio de cláusula anticorrupção.

A empresa Rede Social, do intermediário Alex Cassundé, repassou pouco mais de R$ 1 milhão para a laranja Neoway. O Corinthians nega qualquer envolvimento como instituição e é potencial vítima na investigação.

O pagamento de comissão do Corinthians a Cassundé, apoiador da campanha do presidente Augusto Melo, foi autorizado pelo diretor administrativo Marcelo Mariano à revelia do ex-diretor financeiro Rozallah Santoro. Dias depois, a Rede Social de Alex Cassundé transferiu o dinheiro para a empresa de fachada Neoway, que aparece com Edna como proprietária.

Veja a entrevista completa do delegado

O depoimento

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"Formalizamos a oitiva da senhora Edna, que confirmou aquelas nossas suspeitas iniciais, tudo que suspeitávamos. Negou de maneira incisiva qualquer relação com a Neoway e outra MEI constituída em nome dela. Desconhece qualquer tipo de relacionamento, de ligação, com essas pessoas citadas na investigação. Esteve aqui presente com advogado que a acompanha e solicitou a nós que não perdesse o Bolsa Família junto ao governo federal. Ela mostrou print do aplicativo do Bolsa Família e os malfeitores cadastraram o e-mail da Neoway no Bolsa Família, inviabilizando o benefício. Me comprometi a solicitar na Jucesp a atualização do registro e notificar governo federal sobre tudo que acontece em relação à ela. Nossa conclusão com o depoimento é que de fato ela é vítima de tudo isso. Não tem relação com empresa, pessoas que investigamos. Ela é uma vítima e é trata como tal. Vamos tomar providências cabíveis para ajudá-la e protegê-la".

Medo

"Os policiais, enquanto formalizamos a oitiva, estiveram na residência dela, conversaram com vizinhos e parentes. Quem mora próximo comenta que a Edna só chora desde que isso eclodiu. Chora, abatida, deprimida. Está muito preocupada com tudo isso. A única fonte de renda da Edna que tem três filhos e não recebe pensão é o Bolsa Família. O maior medo é perder o programa e prejudicar os filhos".

Ameaças?

"Conversei com os advogados dela, perguntamos se ela sofreu ameaça, se foi procurada por alguém que a tenha intimidado. Ela foi categórica em dizer que não. Colocamos aparato judicial a favor dela. Estaremos à disposição. No dia 30 de abril, depois que foi procurada por uma mulher que motivou registro de B.O, no dia 22 de maio uma amiga viu reportagem no UOL dando conta dessas questões e a avisou do ocorrido. Então ela veio na delegacia e registrou B.O. Desde então, não sofreu mais ameaças ou intimidação".

A mulher que a procurou em casa

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"A mulher foi identificada, mostramos a foto da mulher que se identificou como Ana e ela será intimada para prestar esclarecimentos. Ela fez perguntas aos fatos, depósito de R$ 1 milhão, e a Edna, humilde, não soube esclarecer. Depois disso, não foi procurada por mais ninguém. Sabemos que mora no ABC, em São Bernardo do Campo, e será intimada para esclarecer de fato a relação com alguém. Se foi a mando de alguém".

As empresas abertas

"Reforçamos que a polícia está à disposição e fará de tudo para que não a prejudique. Vou oficiar Jucesp ainda hoje solicitando suspensão do registro e cancelamento dos CNPJs da empresa e colocando aparato à disposição para caso ela se sinta ameaçada. Manteremos contato constante nos próximos dias para aguardar o desfecho dos fatos".

Os próximos passos

"O depoimento da Edna foi importante, conferimos isso uma certa celeridade. Temos plena convicção que a Neoway e a outra MEI constituída são de fachada, especialmente a Neoway. As suspeitas se confirmam e robustecem que elas foram constituídas para prática de lavagem de dinheiro. Precisamos entender quem criou essas empresas. Notificamos gov.br pelo certificado digital. Vamos oficiar a empresa responsável pelo certificado para buscarmos geolocalização, IP da empresa, para sabermos quem constituiu a empresa. Próximo passo é ouvir o Alex Cassundé para que nos esclareça qual relacionamento entre a Rede Social e Neoway. Os motivos da transação de R$ 900 mil".

Corinthians será ouvido?

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"Por enquanto não. O Corinthians consideramos potencial vítima nessa investigação embrionária. Neoway é de fachada, vamos buscar bloqueio das contas bancárias e estabelecer a relação entre Alex Cassundé e a empresa de fachada".

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