Técnico do Uruguai virou 'Loco Bielsa' após ameaçar torcedores com granada

É 'Loco' mesmo

A cena, que parece mais tirada de algum filme do que um acontecimento do mundo real, rolou em Rosario, cidade-natal do treinador, enquanto ele dirigia o Newell's Old Boys (curiosamente, o time de coração de Lionel Messi).

Em fevereiro de 1992, no terceiro ano da gestão Bielsa, a equipe estreou na Copa Libertadores da América levando 6 a 0 no clássico argentino com o San Lorenzo... e para piorar, atuando em seu próprio estádio. O resultado causou a revolta da torcida, que logo elegeu o jovem técnico de 36 anos como responsável pela humilhação.

Após a partida, já no meio da madrugada, um grupo de 20 pessoas se dirigiu à casa do treinador para cobrar satisfações dele. O comandante do Newell's não só atendeu ao chamado para que abrisse a porta, como saiu de lá com uma granada nas mãos.

Bielsa andou no meio dos torcedores, olhou na cara deles e mandou a ameaça: "Se não forem embora agora mesmo, tiro o pino e jogo em vocês".

Outras 'locuras'

A partir desse episódio, a Argentina passou a conhecê-lo como "El Loco". E é esse apelido que o tem acompanhado durante toda a carreira e todas as outras atitudes "diferentonas" que protagonizou.

Talvez a mais famosa delas tenha sido o relacionamento nada amigável que tinha com as estrelas da seleção argentina na Copa do Mundo-2002. O treinador resolveu não convocar Fernando Redondo para o torneio por "não gostar dele" e também fez uma enquete sobre qual era o esquema tático preferido dos jogadores (três zagueiros ou linha de quatro na defesa) para adotar justamente a opção contrária à decisão deles.

Na fase de preparação para o Mundial da Coreia do Sul e do Japão, Bielsa quase foi baleado na Argentina. Sofrendo de insônia, o treinador tinha o costume de ficar perambulando de fone pela mata nos arredores da concentração na madrugada. A polícia de Buenos Aires achou estranha aquela movimentação toda em um horário incomum e, imaginando se tratar de um possível bandido, abordou-o com revólveres em riste e lanterna na cara.

Estranheza, aliás, é um sentimento que o argentino costuma despertar por onde passa. No Lille, preparou um questionário aos jogadores com perguntas sobre a pobreza mundial e filmes preferidos para conhecê-los melhor. No Leeds, convocou o elenco para recolher o lixo e fazer uma bela faxina no centro de treinamentos. E, no Newell's, orientou que seu goleiro batesse os tiros de meta para fora porque percebeu que o time adversário mandava mal nas cobranças de lateral.

A 'locura' mais recente de Bielsa foi convocar um jogador amador para a seleção uruguaia. O atacante Walter Domínguez, que nunca disputou uma partida como profissional na vida e atua em uma espécie de segunda divisão da várzea local, chamou a atenção do treinador durante um torneio intercidades e acabou participando do amistoso contra a Costa Rica, no fim de maio.

E, no Uruguai, não há no momento quem reclame dos comportamentos excêntricos do treinador.

À frente da seleção desde maio do ano passado, ele implantou um pesado processo de renovação da equipe e só perdeu um jogo oficial até o momento (para o Equador, nas eliminatórias do MUndialo-2026). Além disso, conseguiu derrotar tanto o Brasil quanto a Argentina e passou com 100% de aproveitamento pela fase de grupos da Copa América.