Milly Lacombe

Milly Lacombe

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Seleção inglesa usa o tédio como esquema tático para ir à semi-final

Assistir ao jogo da Inglaterra de Gareth Southgate exige preparação. Coisas como xícaras de café são bem-vindas para evitar que o sono domine. Bebidas alcoólicas não são recomendadas porque elas causam torpor e o torpor, associado ao jogo inglês, certamente fará você dormir. Ficar acordado durante os 90 minutos em que o time do Rei joga é o desafio. Por dever de ofício, e ajudada por altas doses de cafeína, eu consegui.

Os ingleses se encontraram com os suíços nas quartas da Eurocopa 2024, um encontro que os deuses do futebol deveriam ter evitado dado seu coeficiente de rigidez tática de ambos.

No primeiro tempo um lance definiu o jogo: escanteio para os ingleses. Foden bate curto e a bola vai indo de pé em pé até Pickford, o goleiro. É o avesso de qualquer pulsação de vida. Um time que não chuta a gol, não cria nada de novo, não empolga a não ser com hora marcada. Você fica de frente para o monitor e sente a vida saindo de seu corpo. Então toma um gole de café, dá uns tapas no rosto, abre os olhos.

Os ingleses se gabam de terem inventado o futebol, o que é uma mentira. Eles regularam o esporte, mas não o inventaram. Jogos como o futebol existem há milênios. De qualquer forma, a seleção inglesa, embora sempre presa a um estilo de passes longos e cruzamentos, já fez mais do que faz hoje e chegou a montar times bastante bons e agradáveis de serem assistidos. O time da Euro de 2021, que perdeu a final para a Itália, era excelente e um prazer de se ver jogar. Mas isso passou. Hoje, ter um craque como Jude Bellingham e limitá-lo a funções táticas deveria ser considerado crime.

A suíça teve mais disposição do que a Inglaterra, pelo menos a partir da segunda metade do segundo tempo, e achou seu gol. Justíssimo. Logo depois, Southgate ensaiou tirar Bellingham e o estádio ficou estupefato. Uma reação tão orgânica que fez o treinador inglês rever a substituição que já havia sido anunciada no telão. O camisa 10 ficou no jogo e Saka, que tentava nos tirar do tédio como podia, resolveu chutar a gol. Marcou. Num lance idêntico ao de Advíncula contra o Fluminense na final da Libertadores 2023.

Então, finalmente por 15 minutos, vimos o time inglês jogar bola. Kane, Bellingham, Foden, Saka: craques não faltam aos ingleses. É preciso um esquema tático muito conservador para tirar o brilho de jogadores como esses. A TV informava que, na tribuna de honra, até o príncipe Williams, tão maravilhosamente treinado para não demonstrar nenhum tipo de emoção em público, já estava ficando bravo com o que via.

Prorrogação. Nem o juizão parecia estar feliz com o jogo e nos poupou dos acréscimos como pôde. Mas o time inglês volta com um pouco mais de vida. Não muita, verdade. O suficiente para tentar chutar a gol. Uma ou duas vezes. Só que foi a Suiça que tentou balançar a rede com mais ímpeto e, nessas, quase fez um gol olímpico. Mas não deu em nada. E então, damas e caballeros, é de mi agrado informales: penaltis. Deu Inglaterra. E eu já comprei mais pó de café para ver a semi.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes