Não é só onda de calor: entenda como crise climática afeta preço do azeite
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Onda de calor, aumento do nível dos oceanos, inundações. Está enganado quem pensa que a crise climática afeta apenas fenômenos naturais. Ela impacta também no nosso bolso, alterando o preço de produtos que usamos no dia a dia, como o azeite que você usa na salada.
Segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o óleo de oliva ficou 37% mais caro em 2023. E as mudanças climáticas que o planeta vem sofrendo são a principal vilã para essa escalada no valor do produto.
"Pela primeira vez desde que passamos a registrar estatísticas, tivemos duas safras reduzidas seguidas [2021/2022 e 2022/2023], justamente em um momento de novas plantações e novos investimentos", diz Jaime Lillo, diretor executivo do IOC (International Olive Council).
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O que claramente observamos neste momento são os efeitos das mudanças climáticas na produção de azeite.
Jaime Lillo
A Espanha, maior produtor mundial de azeite (cerca de metade de todo o volume consumido no mundo vem de lá) e país onde o IOC é sediado, registrou, entre 2022 e 2023, queda de 50% na produção.
Ciclo não-virtuoso
As duas últimas temporadas de primavera e verão foram excepcionalmente intensas na região do Mediterrâneo.
Com temperaturas batendo os 46°C e secas históricas seguidas de enchentes, era praticamente impossível que as oliveiras passassem ilesas - e não passaram.
"As ondas de calor, especialmente na primavera, afetaram as flores nas árvores e, com menos flores, tivemos menos frutos e, mais tarde, menos azeite", resume Lillo.
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Além de Espanha, Itália, Grécia e Portugal também sofreram com produção abaixo do normal. Como acontece com qualquer outra commodity global, se a safra é ruim, a demanda pelo produto aumenta, e o preço sobe.
O Brasil, que consome, em média, 100 milhões de litros por ano sem produzir nem 1% disso, é extremamente dependente do azeite importado, o que explica a alta nos preços.
Ana Beloto, azeitóloga
Nem as produções argentina e chilena ajudaram a segurar os preços por aqui, já que, segundo Pedro Calazans, diretor comercial da importadora de alimentos Selecionados Uniagro, passaram a ser muito mais consumidas nos países europeus para suprir a falta de produtos nos mercados internos.
Crise climática na América Latina
Por mais que até agora tenham ajudado a suprir a demanda europeia, as safras latino-americano devem trilhar o mesmo caminho difícil.
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"A colheita ano 24 no Rio Grande do Sul, que representa 80% da produção nacional, terá uma queda significativa, como consequência de uma seca muito forte nos primeiros meses de 2023, que se estendeu até o outono, seguida de um inverno sem frio, insuficiente para proporcionar o descanso necessário das árvores, conhecido como dormência", alerta Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura).
Para completar o cenário de desequilíbrio climático, tivemos um excesso de chuva durante a floração, na primavera, principalmente no mês de setembro e outubro, que causou prejuízo na frutificação.
Renato Fernandes
Novos consumidores
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Lillo, do IOC, aponta outro fator que tem contribuído para desestabilizar os preços: seduzidos pelas promessas de saúde e longevidade da dieta mediterrânea e de seu famoso estilo de vida, consumidores de países que tradicionalmente não consumiam azeite em grandes quantidades têm recorrido cada vez mais ao produto.
De acordo com a organização, o consumo de óleo de oliva cresceu mais rapidamente do que a produção nas safras de 2019/20, 2020/21 e 2021/22, imediatamente antes do agravamento das condições climáticas.
Observamos aumento no consumo na China e na Índia, os dois maiores países em população. Qualquer flutuação em sua demanda impacta bastante o cenário global.
Pedro Calazans, da Uniagro
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Fraudes, pragas e guerra
Outros motivos que contribuem para a alta dos preços são o aparecimento de novas pragas e a guerra na Ucrânia, que além de ser um dos principais fornecedores mundiais de óleo de girassol (com o produto inflacionado, outros óleos seguem o mesmo caminho) também lidera em fertilizantes agrícolas.
Para aumentar as dificuldades, a falta de produto no mercado desencadeou uma onda de crimes na Europa, que inclui desde roubo de cargas até a extração de galhos e árvores inteiras com a ajuda de serras elétricas para misturar o azeite com outros tipos de óleos e criar produtos falsificados.
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Com isso, o produtor passa a ter que investir mais ainda em segurança, com a instalação de alarmes e a aquisição de drones.
Ana Beloto, azeitóloga
Produção precisa ser mais sustentável
Mas há perspectivas: a situação limite chama atenção para a necessidade de os produtores de azeite repensarem seus métodos e aderirem a soluções mais sustentáveis.
É o caso do uso de energia oriunda de fontes renováveis e da opção por técnicas mais modernas e ecológicas de irrigação.
"A olivicultura, principalmente no Mediterrâneo, precisa ser reexaminada", diz Renato Fernandes.
"Muitas vezes, não há respeito de limite de margem de rio ou cobertura vegetal nos palmares, e isso tudo vai somando prejuízos ao meio ambiente." A consequência disso, você já conhece...
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