Redes sociais
Publicidade
Por e , da Redação


A Bluesky surgiu para comandar um novo protocolo para o X (antigo Twitter), em 2019. No entanto, a aquisição da plataforma do passarinho azul por Elon Musk, em outubro de 2022, mudou os planos da startup, que decidiu não só seguir sozinha, como se tornar uma das maiores concorrentes da antiga parceira. De lá para cá, o projeto criou um ecossistema de redes sociais descentralizadas, se tornou aberto para todo o mundo e ganhou mais de cinco milhões de usuários ativos em menos de um ano — 200 mil apenas no Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), inclusive, se juntou ao app, em abril de 2024, e tem mais de 37 mil seguidores.

Nesse cenário, o TechTudo foi convidado para realizar uma entrevista com a fundadora e CEO da Bluesky, Jay Graber, e a COO da empresa, Rose Wang, e entender qual será o papel da bigtech contra desinformação durante as eleições deste ano, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Além disso, também foram discutidos como funciona o ecossistema de redes sociais descentralizadas, quais são os planos da plataforma para o país nos próximos meses e algumas polêmicas, que incluem a saída de Jack Dorsey, um dos fundadores e ex-CEO do X (antigo Twitter), do conselho da empresa. Confira, a seguir.

Bluesky é a rede social criada por um dos fundadores do antigo Twitter — Foto: Divulgação/Bluesky
Bluesky é a rede social criada por um dos fundadores do antigo Twitter — Foto: Divulgação/Bluesky

📝 É possível criar uma inteligência artificial em casa? Tire dúvidas no Fórum do TechTudo

Bluesky adotou o ecossistema descentralizado. Mas o que é isso?

A Bluesky se destaca pelo foco em criar um ecossistema de mídias sociais aberto e descentralizado. A ideia é que os dados expostos nas redes sociais não se tornem propriedade de uma única organização, mas se mantenham com o usuário. O app usa como base o Protocolo AT — ou Protocolo de Transferência Autenticado, em tradução livre. O projeto funciona como “uma nova base para redes sociais que dá aos criadores independência de plataformas; aos desenvolvedores, a liberdade de construir; e aos usuários, uma escolha em sua experiência”, conforme explica o site oficial da Bluesky.

Para exemplificar a ideia, a CEO da Bluesky, Jay Graber, explicou que a tecnologia funciona como se cada usuário colocasse os próprios dados em uma mala, que poderia ser transportada de uma rede social para outra, caso ambas estivessem inseridas no mesmo ecossistema. Dessa forma, seria possível encontrar os mesmos amigos e ainda ver as mesmas postagens da mesma forma, sem que isso fosse perdido.

"Quando você usa redes como Twitter ou Facebook e exporta suas informações, é como se você despejasse dados mortos de um app para outro. É preciso construir novamente um perfil, já que cada rede social funciona de modo independente, com círculos sociais diferentes. Já no ecossistema descentralizado, eu poderia mudar do BlueSky para outro aplicativo com todos os meus seguidores, sem ter que encontrá-los novamente. O objetivo de construir um protocolo aberto é fazer com que os dados permaneçam vivos e os relacionamentos sociais das pessoas continuem permanentemente ativos", completou a CEO.

Jay Graber é a fundadora e CEO do Bluesky — Foto: Reprodução/Bluesky
Jay Graber é a fundadora e CEO do Bluesky — Foto: Reprodução/Bluesky

Poder na mão dos criadores

A Bluesky não tem, até o momento, um programa para recompensar criadores de conteúdos na plataforma. Porém, mesmo com essa iniciativa ainda em desenvolvimento, Jay acredita que a rede social que comanda já atende às necessidades dos creators. “Os criadores querem a propriedade de sua comunidade, de seus dados, de sua audiência. Na BlueSky, ninguém pode tirar isso de você. Estamos devolvendo o poder nas mãos dos criadores”, concluiu a fundadora da plataforma.

Ainda neste assunto, Jay e Rose disseram ser contrárias ao atual momento das redes sociais como um todo. Segundo elas, as plataformas se padronizaram após a ascensão do TikTok. Para elas, “os aplicativos são como programas de TV”, já que os usuários não podem mais interagir e conversar com outras pessoas sem serem bombardeados de vídeos curtos. Portanto, ao que parece, a intenção da Bluesky é mesmo formar comunidades.

Bluesky pode adicionar Trending Topics em breve

Eternizado no X (antigo Twitter), o Trending Topics se tornou febre entre os usuários, que usam a ferramenta para ver o que está bombando no país naquele momento. No entanto, assim como o Threads do Instagram, a Bluesky foi em direção contrária à popularidade da função, e decidiu não incorporar nada semelhante na rede social durante o lançamento. Agora, Jay assume que essa possibilidade é estudada pelos desenvolvedores.

Segundo a executiva, o app usa um bot para rastrear o padrão de comportamento dos usuários, e assim estudar se alguma função deve ser incorporada. Um exemplo é o uso de hashtags na plataforma, que só se tornou nativo após perceberem que as pessoas adotaram a ferramenta para catalogar e reunir informações de um determinado assunto em um só lugar.

Os Trending Topics do Twitter reúnem em um só lugar o que está bombando no momento — Foto: Rodrigo Fernandes/TechTudo
Os Trending Topics do Twitter reúnem em um só lugar o que está bombando no momento — Foto: Rodrigo Fernandes/TechTudo

“Estamos pensando nos trending topics. Atualmente, existem alguns feeds no app baseados em coisas em alta. Se houver mais demanda do usuário, então vamos adicioná-lo. É mais ou menos assim que tomamos decisões sobre essas coisas”, adicionou Graber. Vale ressaltar, no entanto, que não há previsão da adição de Trending Topics no app, até o momento.

Eleições e desinformação

Neste ano, os Estados Unidos terão eleições presidenciais, enquanto o Brasil elegerá candidatos municipais. Durante o último período eleitoral no país, foram mais de 311,5 mil mensagens com conteúdos falsos divulgados diariamente nas redes sociais, segundo um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e divulgado pelo g1. Do primeiro turno para o segundo, o X (antigo Twitter) foi a rede social que registrou o maior aumento na circulação de fake news na plataforma — crescimento de 57%.

O TechTudo questionou se a Bluesky poderá ser considerada uma rede social segura contra desinformação no período do pleito eleitoral de 2024. Jay afirmou que esse assunto é uma prioridade total no momento para o aplicativo. Para isso, a rede social contratou o especialista em desinformação eleitoral e ex co-líder em confiança e segurança no X (antigo Twitter), Aaron Rodericks. O perito ficará responsável por estabelecer políticas que garantam que não haja a circulação de informações de supressão de votos. Além disso, ele deve certificar que a plataforma esteja em conformidade legal com as leis de diferentes países.

"Moderação é governança. Você precisa governar um espaço para que haja conversas online saudáveis e seguras. Isso não é algo que podemos, como rede social, simplesmente deixar de lado", reiterou Rose Wang.

Bluesky aposta em ex-funcionários do Twitter para desenvolver rede social — Foto: Divulgação/Bluesky
Bluesky aposta em ex-funcionários do Twitter para desenvolver rede social — Foto: Divulgação/Bluesky

O aplicativo vai manter o modelo de moderação híbrida já existente. Em suma, esse tipo de tecnologia permite que os próprios usuários identifiquem e denunciem conteúdos considerados falsos na plataforma. Ainda, haverá o incentivo para que pesquisadores independentes, organizações sem fins lucrativos e desenvolvedores ajudem a filtrar o que é verdadeiro ou falso na rede, com a adição de ferramentas específicas para isso.

"(Fake news) estão se tornando mais um problema e é difícil para qualquer plataforma acompanhar, incluindo as muito grandes que, você sabe, gastam muitos recursos nesses problemas. Então, parte de nossa abordagem não é apenas fazer esse tipo tradicional de moderação, mas também permitir que a comunidade conduza soluções para algumas dessas coisas", disse a CEO da Bluesky.

A ideia da dupla é que esse tipo de moderação seja a solução, a longo prazo, para o descontrole de fake news nas redes. Para elas, as redes sociais precisam passar pela mesma evolução que navegadores como o Google, por exemplo, passaram no surgimento da Internet.

“Havia todos os tipos de sites, qualquer pessoa podia colocar um site online e dizer qualquer coisa, mas ao longo do tempo, o Google começou a fazer classificação e filtragem. Precisamos disso com as mídias sociais. Qual conta é uma fonte confiável? Qual foi criada na semana passada? Não sabemos quem são”, questionaram as CEO e COO da Bluesky.

Falas polêmicas de Jack Dorsey

No dia 4 de maio deste ano, Jack Dorsey confirmou em um singelo tweet que não fazia mais parte do conselho da Bluesky. A empresa, na época, agradeceu pelos anos de parceria com o ex-CEO do X (antigo Twitter). No entanto, o executivo rompeu o silêncio e disse Dorsey disse, em entrevista concedida ao site Pirate Wires, que a plataforma “estaria cometendo os mesmos erros” do X, e por isso decidiu abandonar o projeto.

Apesar de ser creditado pela mídia como um dos fundadores da Bluesky, a CEO Jay Graber garantiu que Dorsey já não estava envolvido na plataforma por muito tempo. Além disso, ele teria permanecido no conselho apenas porque o Twitter, na época, garantiu para ele uma posição no board.

"Quando ele saiu, não foi uma mudança enorme internamente porque ele não tinha estado envolvido. Basicamente, ele estava apenas dizendo que não queria estar no negócio de administrar outra plataforma social novamente", afirmou Jay Graber.

Sobre a fala polêmica de Jack Dorsey, a CEO se restringiu a falar o diferencial da Bluesky em relação ao X (antigo Twitter). “Seguimos em frente e construímos um aplicativo. Muitas pessoas ainda olham para isso e dizem 'ah, mas parece que é uma alternativa ao Twitter'. Na verdade, funcionamos de um modo como o Twitter nunca funcionou e provavelmente nunca funcionará. A decisão real de apresentá-lo como uma alternativa muito simples ao Twitter foi intencional, porque queríamos que as pessoas que eram apenas usuários normais, que não entendiam o que significa possuir sua identidade ou seus dados, ou talvez não se importassem, usassem o Bluesky e se divertissem”, concluiu.

Jack Dorsey foi CEO do Twitter e deixou o Bluesky em maio deste ano — Foto: Drew Angerer/Getty Images
Jack Dorsey foi CEO do Twitter e deixou o Bluesky em maio deste ano — Foto: Drew Angerer/Getty Images

Para Rose Wang, as similaridades entre Bluesky e X podem ser comparadas à relação entre Netflix e TV. “Em resumo, parece similar porque você está assistindo algo em uma tela, mas a Netflix é fundamentalmente diferente, certo? Acho que essa é realmente a comparação, não somos iguais”, concluiu Wang.

Em resumo, o objetivo da Bluesky ao se posicionar como uma concorrente do X (antigo Twitter) é apenas para as pessoas terem um ponto de entrada fácil, e assimilarem o app a algo que já conhecem. No entanto, a partir do momento em que usam o aplicativo, elas percebem que ambas plataformas funcionam de formas diferentes, principalmente devido ao ecossistema descentralizado da Bluesky.

Jovens cansados das redes sociais: Bluesky é a solução?

Atualmente, existe um movimento de pessoas contrárias as redes sociais, que usam cada vez menos as plataformas já consolidadas, e, principalmente, aquelas que estão por surgir. Sobre o assunto, Jay Graber entende que feeds algorítmicos tem um papel crucial nisso. Para ela, esse tipo de tecnologia só “mostra coisas que deixam os usuários irritados ou coisas que apenas os fazem sentir-se mal consigo mesmos.”

A fundadora da Bluesky acredita que, para que as pessoas ainda se interessem por redes sociais no futuro, será necessária uma revolução no meio. Segundo a executiva, as pessoas querem construir formas de socialização que funcionem para elas, assim como ocorreu no início da Internet. Nessa época, os usuários entravam em poucos sites que funcionavam como uma caixa de e-mail — era apresentada apenas uma série de notícias, em um único pacote.

Códigos de algoritmo são utilizados para determinar o que irá aparecer no feed da sua rede social — Foto: Reprodução/Pexels
Códigos de algoritmo são utilizados para determinar o que irá aparecer no feed da sua rede social — Foto: Reprodução/Pexels

Jay afirma que, no momento em que a sociedade teve acesso à web aberta, a qual permitiu usar blogs independentes e sites diferentes, a Internet como um todo evoluiu. "O navegador era apenas um portal para este mundo aberto, ao invés de um portal para um mundo fechado". Para ela, a Bluesky é o navegador, e as redes sociais tradicionais, como Instagram e Facebook, funcionariam como a Internet antiga.

"A próxima evolução das redes sociais é algo que se parece mais com a web aberta, e então teremos uma nova era de inovação e criatividade à medida que as pessoas desenvolvem novos tipos de experiências sociais que são realmente adaptadas às suas próprias necessidades e não apenas, você sabe, às necessidades inflexíveis de uma empresa que está tentando monetizar em torno do engajamento e dos adultos", finalizou Jay Graber.

Afinal, devo usar a Bluesky?

Antes de usar a Bluesky é necessário entender que a rede social ainda está em formação. Por isso, alguns erros podem ser apresentados para os usuários. Além disso, a comunidade de pessoas utilizando a plataforma ainda está em crescimento, mas é possível que o usuário não encontre tantas informações sobre a rede social. Além desses pontos, é importante compreender que a proposta da Bluesky difere de outras redes sociais, o que pode ser estranho para olhos já acostumados com o X (antigo Twitter).

No entanto, a tecnologia usada pelo app tem potencial de se tornar um grande expoente no mercado de redes sociais, e usar o app antes dele se tornar uma febre pode ser importante para quem sonha em se destacar em uma plataforma, principalmente criadores de conteúdo. O Protocolo AT (ou Protocolo de Transferência Autenticado) é sim uma linguagem de comunicação interessante, e conforme adotada, vai evitar a perda de seguidores, posts e outros dados.

"Este lugar é menor do que algumas dessas plataformas maiores. Por isso que, agora, é apenas um bom lugar para conversar e conhecer pessoas. É um lugar onde sua voz tem mais peso, não apenas porque é pequeno e você pode ser ouvido, mas também porque é uma plataforma em evolução e crescimento, e as pessoas que participarem agora vão realmente moldar a cultura do app. Não se trata apenas do que você posta. Trata-se do que você pode criar. Trata-se do espaço comunitário que você pode criar através dos feeds, do tipo de moderação e rotulagem que você pode assumir em suas próprias mãos e se você é um desenvolvedor e quer fazer algo novo e diferente, você pode realmente construir seu próprio aplicativo que acessa a mesma coisa. Então é um espaço muito aberto para criatividade, e eu só quero que mais pessoas venham e participem e tragam suas próprias perspectivas únicas", finalizou Jay Graber.

Com informações de Bluesky e g1.

Veja também: Fake News: como denunciar no WhatsApp, Facebook, Twitter e apps 📱

Fake News: como denunciar no WhatsApp, Facebook, Twitter e apps 📱

Fake News: como denunciar no WhatsApp, Facebook, Twitter e apps 📱

Mais recente Próxima Significado dos emojis: 15 ícones que só fanáticos por futebol entendem
Mais do TechTudo