SlideShare uma empresa Scribd logo
NOTA TÉCNICA
Agosto de 2020
10 DICAS IDIS PARA VERIFICAR A CONFIABILIDADE DE UMA OSC1
O IDIS é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) fundada em 1999 e pioneira
no apoio técnico ao investidor social no Brasil. Nosso foco é a criação e participação em ações sociais estratégicas e
transformadoras da realidade para a redução das desigualdades sociais no país.
Repetidas pesquisas realizadas ao longo do tempo demonstram que uma das barreiras à doação é a
desconfiança que muitas pessoas nutrem em relação às organizações da sociedade civil (OSCs). Entre as
pesquisas realizadas ou divulgadas pelo IDIS, temos vários exemplos.
A Pesquisa Doação Brasil2
, que reflete os dados de 2015, mostrou que 40% dos brasileiros dizem não ter
confiança no que as organizações sociais fazem com o dinheiro doado. Na mesma pesquisa, 18% das
pessoas que não doam dizem que a razão é não confiar nas organizações sociais.
Três anos depois, o Brasil Giving Report 20193
, que que retrata o cenário da doação no ano anterior,
registrou que 46% dos brasileiros doariam mais se soubessem como o dinheiro seria gasto. Em sua
edição seguinte, o Brasil Giving Report 20204
indicou que o nível de desconfiança da população em
relação às OSCs está caindo, ainda que lentamente: 43% voltaram a dizer que este é o estímulo que lhes
falta.
Outros aspectos, porém, demonstraram que o brasileiro começa a ter uma visão mais positiva das OSCs.
O mesmo Brasil Giving Report 2020 revelou que 82% dos brasileiros afirmam que organizações sociais
provocam um impacto positivo no País, contra 73% da edição anterior.
O enorme volume de doações realizadas durante o período da pandemia COVID-19, é também um
indício de que a sociedade confia nas OSCs para conduzir projetos de enfrentamento aos desafios
sociais.
Mas tudo isso não impede que muitas pessoas, ao receberem um pedido de doação, se sintam inseguras
e precisem de mais informações antes de tomar uma decisão. Para ajudar a dissipar as desconfianças, o
IDIS elaborou essa lista de dicas, um passo a passo para a validação básica de organizações sociais. Ele
pode ser feito facilmente, basta ter acesso à internet.
1 Elaborado por Andréa Wolffenbüttel, Diretora de Comunicação do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento
Social
2 Pesquisa Doação Brasil: www.idis.org.br/pesquisadoacaobrasil
3
Brasil Giving Report 2019: www.idis.org.br/caf-brazil-report-2018/
4 Brasil Giving Report 2020: www.idis.org.br/brasil-giving-report-2020/
1. Visita ao site da OSC
O primeiro passo é conhecer o canal principal de comunicação da OSC. Em geral, é o site, mas é
possível que a organização também use um perfil nas mídias sociais para se comunicar ou
tenha uma página hospedada no site de um parceiro. Seja onde for, este deve ser o canal onde
ela informa a seus beneficiários, doadores, parceiros e demais stakeholders sobre suas
atividades. Não encontrar um site ou qualquer perfil da OSC nas redes sociais, é preocupante.
Um perfil nas redes sociais sem muitas informações sobre as atividades da OSC também é um
sinal de alerta.
2. Facilidade para identificar os dados de contato
Se consta endereço ou telefone da OSC no site ou nas redes sociais, significa que ela está
aberta para receber ligações e visitas. Isso é um bom indício. Porém, se os canais de
comunicação não aparecem, é sinal de que não será fácil obter informações adicionais ou
cobrar uma prestação de contas do que é feito com as doações.
3. Identificação de quem trabalha na OSC
Sabemos que uma organização é feita de pessoas. Se elas aparecem no site, com nomes,
currículos e até fotos, quer dizer que existem pessoas físicas por trás da pessoa jurídica. Por
outro lado, não fazer referência alguma às pessoas que compõem a equipe, é um pouco
estranho.
4. Identificação do(s) responsável(is)
É importante que o site deixe claro quem toma as decisões na organização. Normalmente é um
Conselho, e é bom que constem os nomes dos conselheiros. OSCs menores, por sua vez, podem
ter apenas um presidente ou diretor-executivo. De qualquer forma, é bem relevante saber de
quem será a responsabilidade caso a organização faça algo errado.
5. Conhecimento das atividades da organização
Toda organização tem um propósito específico, está conectada a uma ou mais causas, e
desenvolve iniciativas para cumprir sua finalidade. O site precisa mostrar qual o foco de
atuação, o tema ou o problema que a OSC pretende tratar e quais as suas atividades. É
interessante checar se as atividades apresentadas no site coincidem com aquelas para as quais
a OSC está pedindo doações.
6. Presença de registro das atividades
Dizer o que faz é bom, mas mostrar é melhor ainda. Por isso, o site deve trazer fotos, vídeos,
depoimentos, relatos ou notícias sobre os projetos realizados. Neste caso, vale a pena visitar as
redes sociais porque, muitas vezes, elas são o canal de veiculação do que acontece no dia-a-dia
da organização. Encontrar os registros das atividades quer dizer que a OSC está trabalhando. É
bom aproveitar para confirmar se as fotos e relatos coincidem com o tipo de atividade para a
qual a OSC está pedindo doação.
7. Identificação dos resultados das atividades
Dizer o que faz, mostrar como faz e apresentar os resultados. Essa é a sequência ideal. Não é
necessário que haja um relatório pormenorizado. Pode ser suficiente a apresentação de
resultados básicos sobre o que se espera do tipo de atividade que a OSC desenvolve, como
volume de pacientes atendidos, número de trabalhadores capacitados, ou quantidade de
bibliotecas criadas. Muitas vezes, esses dados são encontrados em Relatórios Anuais de
Atividades, que as OSCs costumam disponibilizar em seus sites.
8. Verificação dos parceiros
Em sua maioria, as OSCs contam com parceiros tanto para sua sustentabilidade financeira
quanto para a realização de seus trabalhos. Dependendo do porte da organização, esses
parceiros variam de um pequeno comerciante da vizinhança até fundações internacionais.
Também fazem convênios com governos, empresas ou outras organizações sociais. Constatar
que a OSC conta com a parceria de outras entidades é um bom indicador. Se essas entidades
forem conhecidas e tiverem credibilidade, é ainda melhor.
9. Pesquisa sobre notícias a respeito da OSC
Essa é uma checagem simples de ser feita, mas muito importante. Se a OSC não aparece no
noticiário, não quer dizer nada. Caso apareça e a notícia for positiva, conta como ponto
favorável, mas se for negativa, talvez seja o caso de pensar duas vezes antes de realizar a
doação. A pesquisa pode ser feita em um site de busca, como o Google, e também dentro de
veículos específicos, como jornais ou portais de notícias. Mas um alerta: não esquecer que
existem fake news, por isso, é melhor dar preferência a veículos de imprensa com
credibilidade.
10. Uma última precaução
Se após as verificações anteriores ainda restarem dúvidas, sempre é possível fazer um contato
telefônico. O contato direto costuma transmitir mais confiança do que os canais digitais. A
preferência deve ser por um telefone fixo, mas caso a OSC não tenha, vale ligar para o celular e
pedir informações. As dicas 2 a 9 servem como um roteiro de perguntas a serem feitas, e as
respostas podem ser comparadas com os conteúdos encontrados no site e nas redes sociais. A
segurança e a tranquilidade de quem estiver respondendo também ajudam a trazer
credibilidade. Se ainda assim, não for possível sentir confiança na organização, ainda resta a
alternativa de visitar pessoalmente a OSC para conhecer a equipe e o trabalho.
Esta lista é baseada na vivência de trabalho no Terceiro Setor, na conversa com colegas e amigos
doadores e em minha experiência pessoal. Infelizmente, não há garantia plena de que a OSC que passar
por todas as verificações é confiável. Assim como não é possível afirmar, de modo algum, que a OSC que
não preencher todos os requisitos não merece receber doações. São apenas precauções aconselháveis
antes de fazer doações.
A motivação para esta Nota Técnica foi contribuir para modificar o cenário de desconfiança mencionado
no início. O texto tem a intenção de ajudar potenciais doadores a superarem seus temores e
construírem laços de confiança com as OSCs. Isso será bom para eles, para as OSCs e para o Brasil!

Mais conteúdo relacionado

10 dicas para verificar a confiabilidade de uma OSC

  • 1. NOTA TÉCNICA Agosto de 2020 10 DICAS IDIS PARA VERIFICAR A CONFIABILIDADE DE UMA OSC1 O IDIS é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) fundada em 1999 e pioneira no apoio técnico ao investidor social no Brasil. Nosso foco é a criação e participação em ações sociais estratégicas e transformadoras da realidade para a redução das desigualdades sociais no país. Repetidas pesquisas realizadas ao longo do tempo demonstram que uma das barreiras à doação é a desconfiança que muitas pessoas nutrem em relação às organizações da sociedade civil (OSCs). Entre as pesquisas realizadas ou divulgadas pelo IDIS, temos vários exemplos. A Pesquisa Doação Brasil2 , que reflete os dados de 2015, mostrou que 40% dos brasileiros dizem não ter confiança no que as organizações sociais fazem com o dinheiro doado. Na mesma pesquisa, 18% das pessoas que não doam dizem que a razão é não confiar nas organizações sociais. Três anos depois, o Brasil Giving Report 20193 , que que retrata o cenário da doação no ano anterior, registrou que 46% dos brasileiros doariam mais se soubessem como o dinheiro seria gasto. Em sua edição seguinte, o Brasil Giving Report 20204 indicou que o nível de desconfiança da população em relação às OSCs está caindo, ainda que lentamente: 43% voltaram a dizer que este é o estímulo que lhes falta. Outros aspectos, porém, demonstraram que o brasileiro começa a ter uma visão mais positiva das OSCs. O mesmo Brasil Giving Report 2020 revelou que 82% dos brasileiros afirmam que organizações sociais provocam um impacto positivo no País, contra 73% da edição anterior. O enorme volume de doações realizadas durante o período da pandemia COVID-19, é também um indício de que a sociedade confia nas OSCs para conduzir projetos de enfrentamento aos desafios sociais. Mas tudo isso não impede que muitas pessoas, ao receberem um pedido de doação, se sintam inseguras e precisem de mais informações antes de tomar uma decisão. Para ajudar a dissipar as desconfianças, o IDIS elaborou essa lista de dicas, um passo a passo para a validação básica de organizações sociais. Ele pode ser feito facilmente, basta ter acesso à internet. 1 Elaborado por Andréa Wolffenbüttel, Diretora de Comunicação do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social 2 Pesquisa Doação Brasil: www.idis.org.br/pesquisadoacaobrasil 3 Brasil Giving Report 2019: www.idis.org.br/caf-brazil-report-2018/ 4 Brasil Giving Report 2020: www.idis.org.br/brasil-giving-report-2020/
  • 2. 1. Visita ao site da OSC O primeiro passo é conhecer o canal principal de comunicação da OSC. Em geral, é o site, mas é possível que a organização também use um perfil nas mídias sociais para se comunicar ou tenha uma página hospedada no site de um parceiro. Seja onde for, este deve ser o canal onde ela informa a seus beneficiários, doadores, parceiros e demais stakeholders sobre suas atividades. Não encontrar um site ou qualquer perfil da OSC nas redes sociais, é preocupante. Um perfil nas redes sociais sem muitas informações sobre as atividades da OSC também é um sinal de alerta. 2. Facilidade para identificar os dados de contato Se consta endereço ou telefone da OSC no site ou nas redes sociais, significa que ela está aberta para receber ligações e visitas. Isso é um bom indício. Porém, se os canais de comunicação não aparecem, é sinal de que não será fácil obter informações adicionais ou cobrar uma prestação de contas do que é feito com as doações. 3. Identificação de quem trabalha na OSC Sabemos que uma organização é feita de pessoas. Se elas aparecem no site, com nomes, currículos e até fotos, quer dizer que existem pessoas físicas por trás da pessoa jurídica. Por outro lado, não fazer referência alguma às pessoas que compõem a equipe, é um pouco estranho. 4. Identificação do(s) responsável(is) É importante que o site deixe claro quem toma as decisões na organização. Normalmente é um Conselho, e é bom que constem os nomes dos conselheiros. OSCs menores, por sua vez, podem ter apenas um presidente ou diretor-executivo. De qualquer forma, é bem relevante saber de quem será a responsabilidade caso a organização faça algo errado. 5. Conhecimento das atividades da organização Toda organização tem um propósito específico, está conectada a uma ou mais causas, e desenvolve iniciativas para cumprir sua finalidade. O site precisa mostrar qual o foco de atuação, o tema ou o problema que a OSC pretende tratar e quais as suas atividades. É interessante checar se as atividades apresentadas no site coincidem com aquelas para as quais a OSC está pedindo doações. 6. Presença de registro das atividades Dizer o que faz é bom, mas mostrar é melhor ainda. Por isso, o site deve trazer fotos, vídeos, depoimentos, relatos ou notícias sobre os projetos realizados. Neste caso, vale a pena visitar as redes sociais porque, muitas vezes, elas são o canal de veiculação do que acontece no dia-a-dia da organização. Encontrar os registros das atividades quer dizer que a OSC está trabalhando. É bom aproveitar para confirmar se as fotos e relatos coincidem com o tipo de atividade para a qual a OSC está pedindo doação. 7. Identificação dos resultados das atividades Dizer o que faz, mostrar como faz e apresentar os resultados. Essa é a sequência ideal. Não é necessário que haja um relatório pormenorizado. Pode ser suficiente a apresentação de resultados básicos sobre o que se espera do tipo de atividade que a OSC desenvolve, como volume de pacientes atendidos, número de trabalhadores capacitados, ou quantidade de bibliotecas criadas. Muitas vezes, esses dados são encontrados em Relatórios Anuais de Atividades, que as OSCs costumam disponibilizar em seus sites.
  • 3. 8. Verificação dos parceiros Em sua maioria, as OSCs contam com parceiros tanto para sua sustentabilidade financeira quanto para a realização de seus trabalhos. Dependendo do porte da organização, esses parceiros variam de um pequeno comerciante da vizinhança até fundações internacionais. Também fazem convênios com governos, empresas ou outras organizações sociais. Constatar que a OSC conta com a parceria de outras entidades é um bom indicador. Se essas entidades forem conhecidas e tiverem credibilidade, é ainda melhor. 9. Pesquisa sobre notícias a respeito da OSC Essa é uma checagem simples de ser feita, mas muito importante. Se a OSC não aparece no noticiário, não quer dizer nada. Caso apareça e a notícia for positiva, conta como ponto favorável, mas se for negativa, talvez seja o caso de pensar duas vezes antes de realizar a doação. A pesquisa pode ser feita em um site de busca, como o Google, e também dentro de veículos específicos, como jornais ou portais de notícias. Mas um alerta: não esquecer que existem fake news, por isso, é melhor dar preferência a veículos de imprensa com credibilidade. 10. Uma última precaução Se após as verificações anteriores ainda restarem dúvidas, sempre é possível fazer um contato telefônico. O contato direto costuma transmitir mais confiança do que os canais digitais. A preferência deve ser por um telefone fixo, mas caso a OSC não tenha, vale ligar para o celular e pedir informações. As dicas 2 a 9 servem como um roteiro de perguntas a serem feitas, e as respostas podem ser comparadas com os conteúdos encontrados no site e nas redes sociais. A segurança e a tranquilidade de quem estiver respondendo também ajudam a trazer credibilidade. Se ainda assim, não for possível sentir confiança na organização, ainda resta a alternativa de visitar pessoalmente a OSC para conhecer a equipe e o trabalho. Esta lista é baseada na vivência de trabalho no Terceiro Setor, na conversa com colegas e amigos doadores e em minha experiência pessoal. Infelizmente, não há garantia plena de que a OSC que passar por todas as verificações é confiável. Assim como não é possível afirmar, de modo algum, que a OSC que não preencher todos os requisitos não merece receber doações. São apenas precauções aconselháveis antes de fazer doações. A motivação para esta Nota Técnica foi contribuir para modificar o cenário de desconfiança mencionado no início. O texto tem a intenção de ajudar potenciais doadores a superarem seus temores e construírem laços de confiança com as OSCs. Isso será bom para eles, para as OSCs e para o Brasil!