Segurança pública

Ouvidor diz que modelo de câmeras de Tarcísio ‘vulnerabiliza PMs’ e pede encontro com Barroso

Governo paulista optou pelas câmeras corporais cujo acionamento é feito pelo próprio policial. Embora previstas nas normas federais, não são as preferencialmente recomendadas. “Se forem atacados repentinamente, os agentes vão se lembrar de ligar as câmeras?”, questiona Claudinho Silva

Rovena Rosa/Agência Brasil
Rovena Rosa/Agência Brasil
Ouvidor quer apresentar dados pela manutenção do atual modelo de câmeras corporais para a PM de São Paulo

São Paulo – O ouvidor das Polícias de São Paulo, Claudio Aparecido da Silva, pediu uma reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, para tratar do tema das câmeras da PM. O objetivo é apresentar dados em defesa da manutenção do atual modelo para a Polícia Militar de São Paulo. Claudinho Silva, como é conhecido, contesta a nova forma defendida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Pela nova licitação, cabe aos PMs a responsabilidade de ligar ou desligar as câmeras.

De acordo com o ouvidor, esse modelo “vulnerabiliza os policiais”. “É o sistema que garante maior proteção dos policiais e da população. (…) Se policiais estão em uma ronda de rotina e são atacados repentinamente, vão se lembrar de ligar as câmeras? É claro que não”, afirmou à coluna de Mônica Bergamo no jornal Folha de S. Paulo.

Para comprovar sua tese, o ouvidor levará ao encontro com Barroso diversos vídeos. Entre eles, o do PM da Rota Samuel Wesley, morto em Santos em fevereiro. De acordo com Claudinho Silva, a câmera corporal do agente “foi fundamental para identificar o assassino”, destacou. O ouvidor também lembra que o atual modelo de filmagem nos uniformes de PMs é essencial para comprovar ou desmentir acusações de abuso. Assim como abordagens truculentas da PM.

Câmeras na PM: SP deve seguir a Justiça

“Se deixarem de ser gravadas rotineiramente, nunca poderemos saber se a queixa de um cidadão contra um policial é pertinente ou não”, disse Claudio.

O pedido do ouvidor das polícias vem em meio à determinação do presidente do STF, nesta segunda-feira (10, para o governo paulista seguir os parâmetros do Ministério da Justiça e Segurança Pública na compra dos equipamentos corporais para a PM.

A permissão para que os agentes liguem ou desliguem os equipamentos, no entanto, está entre as normas do Ministério da Justiça, que estabelece três formas de acionamento:

  • Automático, com gravação ininterrupta durante todo o turno do policial (modelo preferencial, segundo a portaria). Ou programada para responder a determinadas ações, sinais específicos ou geolocalização;
  • Remoto, feito por meio do sistema, após decisão da autoridade competente;
  • Ou pelo próprio policial,  com a finalidade preservar sua intimidade durante as pausas e intervalos no trabalho.

Segundo o ministério, as secretarias de Segurança dos estados devem adotar “preferencialmente” o modo de gravação ininterrupta – que é a que Tarcísio não optou em sua licitação.

Dados de 50 pesquisas científicas realizadas nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá mostraram que as regras em geral não são seguidas nos casos de adoção do acionamento pelos policiais. Um estudo sobre o uso das câmeras em Londres, onde os aparelhos deveriam ser acionados manualmente em todas as abordagens, revelou que apenas 42% dos agentes gravaram mais de 10 vídeos no período de um mês. Outros 26% gravaram menos de 5 vídeos por mês e 6% dos policiais não gravaram nenhum vídeo.

A pesquisa destaca que é “improvável que policiais tivessem menos do que 10 interações por mês com o público”. O que indica que o acionamento manual não seguiu a norma local.

Retrocesso na licitação de Tarcísio

Na determinação a Tarcísio, Barroso estabeleceu, contudo, que o governo estadual envie à Corte um relatório sobre a efetividade dos equipamentos no prazo de seis meses após a implementação. A gestão bolsonarista em São Paulo afirmou que implantará as câmeras nas atividades policiais. No entanto, o STF vai monitorar o cumprimento da portaria do Ministério da Justiça. A decisão do Supremo responde a uma ação da Defensoria Pública de São Paulo e da ONG Conectas Direitos Humanos, que apontam retrocessos na nova licitação do governador.

Tarcísio quer comprar câmeras para a PM que filmam pela metade do tempo

“É preciso que o Núcleo de Processos Estruturais e Complexos do STF (Nupec) continue o monitoramento, de modo a assegurar que não haja retrocesso que possa comprometer a continuidade da política pública de uso de câmeras corporais”, determinou Barroso.

Redação: Clara Assunção