Apelo

Crianças e adolescentes levam ao papa Francisco sugestões para reveter a crise climática

Jovens do Brasil, Colômbia, EUA, Guatemala e México se encontrarão com o pontífice nesta quinta (16). Reivindicações serão entregues posteriormente a lideres mundiais

Reprodução/Youtube
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Enchente em Lajeado, Vale do Taquari: Catástrofe no RS e outras preocupam jovens brasileiras que irão ao Vaticano

São Paulo – Um grupo de crianças e adolescentes do Brasil, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala e México vai se reunir com o papa Francisco nesta quinta-feira (16) para apresentar sugestões para o enfrentamento da crise climática. E também para a proteção da infância. Serão entregues desenhos e mensagens referentes a medidas que os líderes mundiais devem adotar para ajudar a proteger as crianças e a natureza.

A atividade faz parte de um evento promovido pelo Vaticano chamado “Da Crise Climática à Resiliência Climática”, com participação de diversas entidades voltadas ao desenvolvimento socioambiental. Entre eles, o Alana, e laboratórios voltados ao setor nas universidades da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e de Massachusetts em Boston (UMass Boston). Na ocasião, os jovens vão reivindicar a elaboração uma nova Encíclica, documento papal para orientação para toda a Igreja Católica, em todo o mundo, voltada à proteção das crianças.

Entre os adolescentes estão as brasileiras Maria Helena Garrido e Catarina Lorenzo, ambas de 17 anos. Maria Helena viveu de perto a seca histórica no Amazonas em 2023. E Catarina viu grande parte do terreno onde a família tem uma casa, na Península de Maraú, na Bahia, ser coberto pelo avanço do oceano. Sentiu na pele o aquecimento da água do mar e observou a mudança das cores dos corais na região. 

À Agência Brasil, Maria Helena contou que, sem as águas do Rio Negro para navegar, ficou um mês sem conseguir voltar para a comunidade indígena Tumbira, onde vive. “A gente está aqui para falar sobre e para mostrar o que gente passou. Eu estive presente em cada situação no período da estiagem de 2023. Eu vi e vivi tudo o que aconteceu na Amazônia, a escassez de água imensa que teve, que prejudicou muitas famílias, que praticamente matou o Amazonas”, disse Maria Helena.

Os impactos ambientais na agenda com o papa Francisco

Segundo lembrou, a seca foi a maior em 121 anos e afetou todas as 62 cidades do Amazonas. A comunidade indígena Tumbira fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro. Não é possível acessar a comunidade de carro pois ela está em uma região de igarapés. Os moradores, dependem do rio tanto para as atividades econômicas, atividades cotidianas e para o transporte.

“Eu cheguei a pisar em um lugar que era totalmente cheio de água. O que eu vi foi uma seca que eu nunca pensei que aconteceria, mas que acontece sim, por conta das mudanças climáticas no mundo. A água praticamente sumiu. Além do calor imenso. Parecia que a gente estava assando. Dentro de casa, praticamente não tinha ar. Além de ficar sem fôlego, não podia trabalhar, não podia sustentar a casa. Foi o período que mais tive que viver sobrevivendo. Não foi nem vivendo, foi sobrevivendo em um lugar onde é meu mundo. E eu não pude fazer quase nada”, disse a adolescente.

Ela conta que precisou fazer uma prova em Manaus e, depois, por conta da seca, não conseguiu voltar para casa. Precisou passar um mês na cidade.

Depois de passar por tudo isso, ela conclama as pessoas e, principalmente os líderes regionais, nacionais e globais a prestarem atenção nos alertas climáticos e a de fato ajudarem aqueles que estão passando por tragédias. Ela diz que muitos falavam que iriam ajudar, mas na prática isso não acontecia.

Reflexão sobre catástrofe no Rio Grande do Sul

“Se a gente não tiver um mundo mais saudável e digno, a gente não vai ter nada. Porque sem chão para pisar, sem terra para plantar, sem oxigênio para respirar e sem água para beber, a gente não sobrevive mais, de qualquer forma”, disse.

Catarina fez uma reflexão sobre a catástrofe no Rio Grande do Sul, com as tempestades iniciadas no final de abril. “Eu sei que o que está acontecendo, a catástrofe do Rio Grande do Sul e todas essas catástrofes climáticas que a gente vem vivendo há muito tempo, têm sido avisadas. Não é só a ciência avisando, são os ativistas, são os jovens que veem o problema e realmente vêm dizendo que a gente precisa começar a se conscientizar”, disse a jovem.

“A gente tem que parar de desmatar, a gente tem que começar realmente a ter um equilíbrio com a natureza, porque se a gente não cuidar da natureza, a natureza infelizmente vai devolver de alguma maneira, né? Eu sinto uma dor muito grande, mas eu também sinto um pouco, não sei se raiva é a palavra correta, mas eu sinto que é algo que a gente avisou que ia acontecer e que as pessoas, infelizmente, parecem que só acordam quando o problema acontece”, disse.

Catarina é ativista climática desde criança. É de sua autoria a petição Crianças versus Crise Climática, do inglês Children vs Climate Crisis, apresentada à Organização das Nações Unidas (ONU) quando tinha 12 anos. Atua nacionalmente e internacionalmente pela causa.

Juventude consciente da emergência climática

“Eu acredito que minha geração vem sendo um pouco mais conscientizada. Porém, como a gente precisa das ações agora, a gente precisa que minha geração esteja envolvida agora para eles realmente ouvirem que o futuro que a gente quer pro nosso futuro”, disse a jovem, que tem grandes expectativas para o encontro com o líder global. Para ela, uma liderança como a do chefe da Igreja Católica tem grande poder para promover mudanças significativas.

Catarina mora em Salvador, mas cresceu na Península de Maraú. Ela tem vivido as ondas de calor que ocorrem não apenas na região, mas em diversas partes do mundo: “Não conseguia estudar, não conseguia fazer minhas atividades que eu tinha que fazer no dia porque eu não tava conseguindo me concentrar e eu tive que ir pra praia, ficar no oceano pra eu não ficar morrendo de calor. Nenhum ventilador ajudava”.

Além disso, lembra que desde pequena, observou as mudanças no oceano e nos corais, que perderam a cor. “Eu lembro que quando eu era pequena, eu, naquela época, quando eu sentia essas consequências, eu ainda não entendia direito o que eram as mudanças climáticas, mas eu sabia que tinha algo errado acontecendo, porque eu sempre nadei naquele local e dessa vez, quando eu tinha ido, a água estava muito quente, mas muito quente ao ponto de eu mergulhar no fundo do oceano, tocar na areia e a água continuar muito quente e eu ter que sair da água”.

Ela recorda também como era o terreno da família, muito mais amplo, antes da água do mar avançar. “Vi vizinhos meus perdendo casas ou até mesmo restaurantes”, disse. “A gente sabe que isso é só o início e que, da maneira que a gente está indo, infelizmente, o oceano só tem tendência a aumentar e aumentar. A chegar ao ponto que talvez realmente a minha casa e a casa dos meus amigos e todas as memórias que a gente tem construído nesse local sumam”.

Com informações de Mariana Tokarnia, da Agência Brasil no Rio de Janeiro