CRIME SOCIOAMBIENTAL

Relator da CPI da Braskem pede indiciamento da empresa por afundamento do solo em Maceió

Relatório final da comissão que investiga tragédia na capital alagoana pediu, nesta quarta (15), o indiciamento da empresa e de dirigentes e técnicos envolvidos no desastre provocado pela extração de sal-gema. Parecer assinado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) vai à votação na próxima terça (21)

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Segundo o relator da CPI da Braskem, o crime ambiental em Maceió é consequência da exploração irresponsável

São Paulo – O senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu nesta quarta-feira (15) o indiciamento da Braskem e de dirigentes e técnicos envolvidos no afundamento do solo em Maceió. O parlamentar é relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura a responsabilidade no desastre provocado por anos de exploração de sal-gema pela petroquímica na capital alagoana. Em seu parecer, o senador concluiu que o afundamento do solo “é resultado de um crime”.

“Não se trata de acidente e não pode ser naturalizado. É consequência da exploração irresponsável e desmedida de sal-gema no subsolo da região da Lagoa Mundaú”, destacou o petista. O relatório final, com o pedido de indiciamento, deverá ir à votação nesta terça (21).

A exploração de sal-gema na capital alagoana ocorreu de 1976 a 2019, resultando em grave instabilidade no solo de bairros como Pinheiro, Mutange, Bebedouro e adjacências. A área se tornou inabitável, tendo em vista os riscos de desmoronamento de casas, ruas e fechamento do comércio, levando mais de 60 mil pessoas a terem que deixar os bairros. Investigações da Polícia Federal também apuraram indícios de que as atividades de mineração no local não seguiram os parâmetros de segurança previstos na literatura científica e nos respectivos planos de lavra, que visavam a garantir a estabilidade das minas e a segurança da população que residia na superfície.

Braskem sabia dos riscos

Ao pedir a responsabilização da empresa e de seus dirigentes, hoje, o relator também observou que a Braskem tinha conhecimento prévio do risco de colapso de minas de sal-gema em Maceió. Mas, mesmo assim, decidiu explorar a área “para além de suas capacidades seguras de proteção”, afirmou. Carvalho acrescentou ainda que a empresa também cometeu falsidade ideológica em documentos técnicos enviados a agências reguladoras e não adotou medidas de prevenção e correção. O delito se soma à acusação de crime de lavra ambiciosa.

O senador também defendeu, em seu parecer, que dirigentes e representantes técnicos da empresa sejam responsabilizados nas esferas civil e penal por dolo eventual. A tipificação é aplicada quando alguém assume o risco, nesse caso, de crime ambiental.

“Concluímos que a Braskem, que responde diretamente pela mineração na região desde 2002, sabia da possibilidade de subsidência do solo e, mesmo assim, decidiu deliberadamente o risco de explorar as cavernas para além das suas capacidades seguras de proteção. Além disso, para que pudesse manter a continuidade e o ritmo da extração de sal-gema, inseriu informação falsa em documentos públicos, omitiu dados essenciais de relatórios técnicos e manipulou os órgãos de fiscalização”, apontou o relator.

Trabalhos da CPI

Criada em outubro de 2023, a CPI foi instalada somente dois meses depois por conta do risco iminente de colapso de uma mina na Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange. Entre março e maio deste ano, o colegiado ouviu especialistas e servidores públicos para investigar o afundamento do solo em cinco bairros de Maceió.

Em um dos depoimentos, o diretor Marcelo Arantes reconheceu a culpa da empresa pelo crime socioambiental. “A Braskem tem a sua culpa nesse processo e nós assumimos a responsabilidade por isso”, confessou o diretor da companhia. “Não é à toa que todos os esforços da companhia são para reparar, mitigar e compensar todo o dano causado”, completou.

Foi a primeira vez que um representante da Braskem assumiu a responsabilidade pelo que ocorreu em Maceió. “Isso é algo importante e foi dito pelo próprio representante da Braskem”, destacou Carvalho na ocasião. De acordo com o relator da CPI, a Braskem tinha, no máximo, dez funcionários operando nas minas de sal-gema em Maceió. Além disso, não havia geólogos contratados. Sequer sondas para monitorar a estabilidade das minas antes de maio de 2019. Na época, o afundamento dos bairros já tinha confirmação. Então, estudos apontavam consequência direta da mineração na região.

Redação: Clara Assunção