Tiago Madureira: «O FC Porto passou de fazer parte do board da ECA para nem sequer estar representado»

Antigo diretor executivo da Liga quer recuperar a intervenção do clube nos órgãos reguladores

• Foto: Tony Dias / Movephoto

RECORD - Num plano mais pessoal, já passou por um clube, mas se calhar a maioria das pessoas conhece o trabalho que desenvolveu na Liga como diretor executivo e isso leva a outra pergunta. Quão importante é a relação com as instituições que gerem o futebol português e o futebol internacional? E o que é que pode aportar nessa aproximação às referidas instituições? 

TIAGO MADUREIRA - A representatividade é fundamental e é igualmente fundamental o FC Porto retomar um bocadinho o seu papel mais forte naquilo que é a representatividade dos órgãos reguladores, sejam nacionais ou internacionais. E este ciclo que agora se aproxima, o ciclo do próximo mandato, é um ciclo muito, muito importante nessa linha, porque temos muitos, muitos desafios, quer em termos internacionais, quer em termos nacionais. A questão dos quadros competitivos internacionais com o novo ciclo da UEFA e o que é que já se vai começar a projetar no que será o seguinte ciclo da UEFA, que está aparentemente a caminhar num sentido, a questão da ameaça da Superliga, a questão do sétimo lugar do ranking, a necessidade e o impacto que esta perda de lugar no ranking tem para a Liga portuguesa e para os clubes da Liga portuguesa, que é muito grande, o crescimento dos multi-club ownerships em contraponto com aquilo que é o modelo de clube associado que tem o FC Porto e que ameaças é que isso nos podem trazer, a questão da centralização de direitos, a pressão crescente das grandes ligas para terem acesso a mais receita e a conseguirem... Temos múltiplos desafios, aliás que já aconteceu um bocadinho nesta nova redistribuição financeira da UEFA que beneficia mais as grandes ligas e prejudica um bocadinho as ligas mais periféricas, como é o caso de Portugal, portanto temos muitos desafios. E é importante o FC Porto ter uma presença forte, uma liderança relativamente a temas, relativamente a dossiês, estar na linha da frente das discussões, ser um bocadinho o dínamo destas reflexões e destas discussões, sempre em prol da construção aqui de um produto melhor, de benefício para os clubes, no seu todo, o qual o FC Porto também será beneficiado, acho que é muito, muito, muito importante. No caso português temos aqui quatro anos desafiantes, portanto temos o processo de centralização que terá de ser fechado até 2026 para ser entregue ao Governo, a eventual necessidade de um ajuste dos quadros competitivos que já não são comportáveis com aquilo que é a realidade internacional. As pessoas vão ter bem clara essa noção. Se este ano já começamos a ter essa noção quando tivemos sempre o tema do Sporting que já não tinha data para fazer o agendamento do seu jogo, para o ano as pessoas com o aumento do ciclo da UEFA e o número de jogos da UEFA que passa numa fase de grupos de seis para dez jogos, acho que as pessoas vão ter uma noção clara de qual é que é a compressão do calendário, portanto é uma discussão grande que tem de servir para aumentar o valor e a continuidade do futebol português. Temos múltiplos desafios aqui. O que posso aportar? Os meus dez anos de Liga foram os meus anos de Liga, mas toda direcção executiva desta candidatura, toda a equipa executiva tem múltiplas valências e pode aportar muito nisso. Eu até destacaria, por exemplo, o José Luís Andrade, que nos últimos anos desempenhou um cargo muito relevante na ECA, que por acaso, lá está, é uma instituição que é um bom exemplo dessa perda de representatividade. O FC Porto há uma década fazia parte do board da ECA, lugar que entretanto passou a ser ocupado pelo Benfica. E o FC Porto passou, numa década, de fazer parte do board para nem sequer estar representado em algumas das reuniões. Portanto, é um bom exemplo daquilo que foi a perda de influência, de liderança e de presença junto de instituições que têm um peso hoje muito grande naquilo que é o futuro e nos próximos desafios do futebol. Portanto estou a portar ainda na primeira linha sobre isso.

R - Que ideia tem sobre a Superliga?

TM - Acho que, enquanto liga periférica em clube de associados, acho que a posição do FC Porto foi sempre clara e alinhada relativamente à disrupção que isso será relativamente ao modelo tradicional. No entanto, acho que temos de ser claros que há um movimento que continua ainda em surdina a crescer, e portanto acho que o FC Porto tem de estar, acima de tudo, atento àquilo que serão esses movimentos, àquilo que serão os próximos passos. Há decisões de tribunal também que abrem a porta aqui à legitimidade de outros organismos poderem organizar competições, e portanto temos basicamente de seguir esse processo com muita atenção.

R - Outro dos temas quentes da campanha eleitoral diz respeito ao plano infraestrutural. Sente que, neste momento, a candidatura de André Villas-Boas está, de certa forma, refém do projeto de Pinto da Costa para a Academia da Maia? 

TM - É preciso conhecer os contratos para saber isso. Eu, sobre o tema da academia, gostava de destacar uma coisa. Acho que há um mérito destas eleições e desta candidatura em concreto, que é a Academia ou Centro de Alto Rendimento, chamemos-lhe o que quisermos. Sempre foi um tema adiado, uma promessa eleitoral adiada, que mais uma vez não se consubstanciou em nada na última década e, de repente, passamos de um cenário em que numa área em que o FC Porto tem um défice e tem uma urgência permanente de avançar, um défice competitivo, com perda de valor competitivo relativamente aos seus rivais, que depois tem impacto até financeiramente naquilo que é a capacidade da sua formação, de formar jovens... passamos de uma realidade em que não tínhamos nenhuma solução e passamos a ter duas. Portanto, só isso acho que já é uma vitória do FC Porto e uma vitória que esta candidatura trouxe. Acho que o André já assumiu publicamente que irá analisar, com o compromisso de analisar as duas propostas, sendo que há três parâmetros que me parecem que servirão de base para isso. A questão do requisito infraestrutural, ou seja, se cumpre aquilo que são os requisitos e as necessidades que o FC Porto tem. E aí, sinceramente, acho que um presidente como o André, que tem um conhecimento profundo da área do treino, que já passou por realidades internacionais a esse nível, que já foi treinador da formação e, portanto, também tem, esta sensibilidade para a questão da realidade de formação do FC Porto. Não me lembro de ninguém mais habilitado para poder fazer essa avaliação. E, depois, a componente, quer de velocidade de execução, quer de custo, que têm de ser temas que têm de ser parâmetros obrigatórios na avaliação de uma dimensão desta. O FC Porto também não pode viver acima das suas capacidades e palavras que temos trazido muito para cima da mesa, como rigor financeiro, disciplina orçamental, não podem ser só chavões de candidatura. Têm de ser aplicadas naquilo que são as decisões estratégicas que o clube vai tomar e, portanto, é isso que vai acontecer. 

R - O tema da infraestrutura marcou muito a campanha, não convidando o Tiago a fazer futurologia, mas procurando fazer uma antecipação de leitura política. O André Villas-Boas deixou a hipótese, como o Tiago estava a colocar, depois de conhecer os contratos, vai avaliar a situação. Do ponto de vista da leitura política, pensa que no caso da lista B, ganhar as eleições, acabar depois por concluir a Academia, junto com o FC Porto, que Pinto Costa está neste momento, ele tem que colocar em andamento, poderia ser visto como um sinal de fraqueza desta presidência, eventual presidência?

TM - As linhas que devem orientar as decisões estratégicas, principalmente decisões estratégicas com impacto direto naquilo que é o futuro do FC Porto, é o interesse do FC Porto, não é mais nada. E, portanto, o interesse do FC Porto dentro de balizas e de parâmetros de avaliação concretos, e acho que é isso que o André, enquanto presidente, caso seja eleito presidente, irá fazer, que é defender os interesses do FC Porto.
RECORD - Num plano mais pessoal, já passou por um clube, mas se calhar a maioria das pessoas conhece o trabalho que desenvolveu na Liga como diretor executivo e isso leva a outra pergunta. Quão importante é a relaçã...

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Por André Monteiro e Nuno Barbosa
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