Presidente do Quénia demite quase todo o Governo

A decisão do Presidente William Ruto ocorre depois da forte pressão exercida por protestos espoletados por uma proposta de lei, entretanto retirada, que previa um forte aumento da carga fiscal.

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William Ruto anunciou a demissão de grande parte do seu governo numa declaração ao país STR / EPA
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O Presidente da Quénia, William Ruto, anunciou a demissão de quase todo o Governo do país, mantendo somente o ministro dos Negócios Estrangeiros no cargo, mais de duas semanas depois dos violentos protestos, no final do mês passado, contra uma lei que previa um forte aumento dos impostos, incluindo subidas nos preços de bens essenciais,

Numa declaração ao país emitida pela televisão, Ruto declarou a intenção de formar um governo de "base alargada" envolvendo outras forças políticas e outros membros da sociedade civil.

"Vou iniciar imediatamente consultas alargadas a diferentes sectores e formações políticas e a outros quenianos, tanto em público como em privado, com o objectivo de criar um governo com uma base alargada", referiu o Presidente na declaração, na qual também anunciou a demissão do procurador-geral do Quénia, cargo equivalente ao ministro da Justiça.

A decisão surge após os protestos em várias cidades do país contra uma proposta de lei feita pelo governo de William Ruto que introduziria uma série de novos impostos em bens como pão, açúcar e óleo vegetal, assim como um novo imposto de circulação para veículos motorizados. O Quénia tem actualmente um défice orçamental de 3,3%, estando, segundo a Reuters, pressionada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o reduzir.

Os protestos, que se tornaram violentos, encontraram uma forte repressão policial que causou 39 mortes após a polícia ter disparado sobre os manifestantes. No passado dia 25 de Junho, os manifestantes chegaram mesmo a invadir e a incendiar parte do edifício do Parlamento do Quénia, levando à morte de pelo menos dez pessoas só nesses confrontos.

Para tentar acalmar a instabilidade social vivida no país, William Ruto recuou na aprovação da lei, afirmando que não a promulgaria para acalmar os protestos. Porém, os danos à reputação do Presidente já estavam feitos. Continuando nas ruas, os pedidos para a retirada da lei, transformaram-se em pedidos para o próprio Presidente sair do cargo e demitir-se.

Apesar de Ruto continuar na Presidência, a demissão da maior parte dos membros do governo é vista como uma vitória pelos manifestantes, que pertencem maioritariamente à "geração Z", segundo a France 24. A activista Hanifa Adam festejou na rede social X a demissão dos membros do governo, afirmando que "o poder está sempre nas mãos do povo".

Segundo o activista anticorrupção John Githongo, que falou com a Reuters, esta decisão era algo que os quenianos queriam que acontecesse, tendo acrescentado que espera que "acalme temporariamente as coisas".

"Vamos ver o que acontece agora se os novos ministros tratarem das grandes questões relacionadas com a corrupção, a arrogância e os excessos da sua administração, assim como o facto de muitos quenianos terem morrido durante as manifestações", acrescentou.