Europa está sob “uma onda de anti-semitismo”, avisa agência europeia para os direitos humanos

Quase todos os judeus na Europa inquiridos entre Janeiro e Junho de 2023 diziam ter sido vítimas de anti-semitismo. Associações falam de um aumento de 400% dos ataques anti-semitas após Outubro.

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De acordo com o inquérito, só 18% dos participantes consideraram que o Governo do seu país está a combater efectivamente o anti-semitismo THOMAS PETER / REUTERS
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A Europa está sob "uma onda de anti-semitismo" que já existia antes da escalada no conflito entre Israel e o Hamas, em Outubro do ano passado, alertou a directora da Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais, Sirpa Rautio, citada pelo The Guardian. Dos 8000 judeus que participaram numa sondagem da agência, finalizada ainda antes do ataque do Hamas na fronteira com a Faixa de Gaza e da reacção israelita, 96% disseram ter sido vítimas de anti-semitismo pelo menos uma vez ao longo do ano anterior ao inquérito.

Entre Janeiro e Junho do ano passado, a agência inquiriu milhares de judeus europeus sobre o impacto que o anti-semitismo tinha ou não nas suas vidas. Oito em cada dez (84%) responderam que essa forma de discriminação era um problema "muito grande" ou "bastante grande" no país em que residiam. Quatro em cada cinco (80%) afirmaram que o anti-semitismo se tinha agravado nos cinco anos anteriores e 64% dos inquiridos sentem que são alvo desta forma de preconceito "o tempo todo".

"A Europa está a assistir a uma onda de anti-semitismo, em parte motivada pelo conflito no Médio Oriente", afirmou a directora da agência, que sondou várias organizações judaicas após o ataque de 7 de Outubro para apurar o impacto do conflito no Médio Oriente na realidade que já havia sido descrita pelos judeus na Europa. Segundo algumas dessas associações, os registos de ataques anti-semitas aumentaram 400% desde Outubro de 2023.

De acordo com o inquérito, só 18% dos participantes consideraram que o Governo do seu país está a combater efectivamente o anti-semitismo. Para Sirpa Rautio, "esta situação limita gravemente a capacidade dos judeus de viverem em segurança e com dignidade": ​"Temos de nos basear nas leis e estratégias existentes para proteger as comunidades de todas as formas de ódio e intolerância, tanto em linha, como fora de linha."

Desde 2013, esta é a terceira vez que a Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais​ dedica uma sondagem ao tema do anti-semitismo, mas encontrou uma evolução "marginal" em relação aos resultados obtidos nos outros inquéritos. Este último, realizado em 13 países europeus, onde vivem 96% dos judeus residentes na União Europeia, revelou que uma parte importante deste preconceito eclode na Internet: nove em cada dez judeus dizem que o anti-semitismo nas redes sociais é um problema "muito grande". Mais de 60% teme mesmo pela segurança da sua família.