Fibra de vidro encontrada pela primeira vez em ostras e mexilhões

Investigadores encontraram plástico reforçado com fibra de vidro, material usado em barcos, em bivalves numa zona costeira da Inglaterra.

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Os cientistas encontraram 11.220 partículas de fibra de vidro por quilograma em ostras e 2740 partículas por quilograma em mexilhões Daniel Rocha
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Há níveis “preocupantes” de fibra de vidro em ostras e mexilhões na costa Sul de Inglaterra, revela uma análise da Universidade de Brighton, divulgada este mês. Uma equipa de investigadores britânicos encontrou plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV) nos tecidos moles de bivalves no porto de Chichester. Segundo o estudo, esta é a primeira vez que é encontrado este material numa cadeia alimentar, e é precisa mais investigação para saber que efeitos pode ter na saúde humana.

O PRFV, um material plástico reforçado com vidro extremamente fino que é usado com frequência no fabrico de barcos, pode decompor-se com o tempo e contaminar a água costeira, revela o estudo. Os cientistas encontraram 11.220 partículas de fibra de vidro por quilograma em ostras e 2740 partículas por quilograma em mexilhões.

“Este material, antes considerado duradouro e benéfico, está a causar danos inesperados à vida marinha, que também podem ter implicações significativas para a saúde humana, visto que, muitas vezes, os bivalves acabam nos nossos pratos”, lê-se num comunicado da Universidade de Portsmouth, que também fez parte do estudo.

As ostras e os mexilhões, tal como os restantes bivalves, acabam por estar mais vulneráveis às partículas deste material por causa da forma como se alimentam. Os bivalves são filtradores: para acederem aos nutrientes, absorvem água, que passa nas suas brânquias para filtrar partículas de alimento suspensas na água.

Mas, se essa água que absorvem estiver contaminada, as partículas tóxicas podem entrar nos seus corpos e acumular-se nos seus tecidos. “Através desta filtração, eles estão a ingerir um grande número de partículas que confundem com alimento”, disse Corina Ciocan, professora de Biologia Marinha da Universidade de Brighton, no Reino Unido, à revista norte-americana Newsweek.

A acumulação de partículas de vidro foi mais pronunciada durante o Inverno, algo que os investigadores atribuem a um pico nas actividades de manutenção de barcos nessa época do ano. "Através do trabalho de reparo, a libertação de fibras de vidro no ambiente é mais provável", explica o estudo. Os barcos de pesca abandonados também podem contribuir para o aumento da poluição de fibra de vidro na água.

Ainda que o foco do estudo seja a contaminação em bivalves, Ciocan disse à Newsweek que a investigação identificou partículas de fibra de vidro noutros organismos “como fragmentos de ervas marinhas e algas ou pequenos caracóis".

A investigação alerta para as implicações para a saúde dos animais marinhos e dos seres humanos que possam vir a consumir estes animais contaminados.

"O plástico reforçado com vidro foi anteriormente comparado ao amianto", afirma o estudo. “Estamos só a começar a entender a extensão da contaminação por fibra de vidro”, acrescenta Fay Couceiro, uma das co-autoras do estudo e professora da Universidade de Portsmouth, em comunicado.

“É um lembrete alarmante dos perigos ocultos no nosso ambiente”, disse Corina Ciocan, professora da Universidade de Brighton, citada pela BBC. "Precisamos de enfrentar esta questão para proteger os nossos ecossistemas marinhos e garantir um futuro mais saudável para os nossos oceanos. Espero que mais investigadores comecem a investigar a contaminação por fibra de vidro na costa, para que a indústria e os reguladores possam levar este problema muito a sério e para que comecem a investir em estratégias de reciclagem e materiais naturais para substituir o plástico reforçado com vidro”, afirmou ainda a investigadora à Newsweek.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva