Shein compromete-se a investir 250 milhões na Europa

Para já, a marca só tem uma unidade de produção na Turquia. As restantes peças são enviadas directamente de fábricas na China, onde têm sido questionadas as condições dos trabalhadores.

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A pop-up da Shein esteve em Lisboa de 27 a 30 de Junho Patrícia Soares

A gigante de ultra fast fashion Shein disse vai investir 250 milhões ao longo de cinco anos na Europa, incluindo Reino Unido. A empresa luta contra as críticas ao modelo de negócio assente em roupas e acessórios baratos fabricados à velocidade da luz em fábricas na China, que enviam directamente para compradores de todo o mundo.

A marca, que se prepara para uma possível cotação na bolsa de Londres, já compra algumas peças de vestuário a fábricas na Turquia, embora a grande maioria dos seus produtos seja fabricada por cerca de 5400 fornecedores, principalmente em Guangzhou, na China, onde têm sido denunciados problemas dcom o respeito pelos direitos humanos.

As associações têxteis e os políticos europeus acusam a Shein de prejudicar as indústrias locais ao inundar o mercado com peças de vestuário a preços que as fábricas e os retalhistas nacionais não conseguem competir, em parte graças à utilização de uma isenção fiscal para encomendas de valor inferior a 150 euros que entram na União Europeia (UE). No Reino Unido, o mesmo tipo de isenção fiscal é aplicado a encomendas de valor inferior a 135 libras (159 euros).

A UE está a discutir a abolição do limite como parte de um projecto de reforma aduaneira proposto pela Comissão em Maio de 2023.

Na terça-feira, a Shein confirmou nesta que reservou 50 milhões de euros para “potenciais investimentos em I&D [investigação e desenvolvimento] ou instalações de produção piloto da Shein na Europa ou no Reino Unido”, bem como iniciativas para ajudar as marcas e designers da região a alcançar um mercado maior através da plataforma, que introduz cerca de 6000 novas peças diariamente.

A Shein, conhecida pelos seus tops de cinco euros e vestidos a dez, terá registado vendas de cerca de 45 mil milhões de dólares (41 mil milhões de euros) em 2023 e foi avaliada em 66 mil milhões de dólares (61 milhões de euros) numa ronda de angariação de fundos no ano passado, quando tentavam entrar na bolsa dos EUA.

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Pop-up de Lisboa DR

Em declarações à Reuters, o presidente executivo da Shein, Donald Tang, recusou-se a dar mais pormenores sobre o local onde a empresa pretendia começar a abastecer-se. Vão “manter as opções em aberto”, afirmou, mas referiu que as instalações seriam muito provavelmente de fornecedores, em vez de serem propriedade da Shein.

O responsável afirmou ainda que a percentagem de produtos Shein fabricados na Turquia é actualmente insignificante em comparação com a China, mas está a crescer rapidamente. Mais: prometeu ainda que iria integrar mais artistas e designers europeus no programa de incubadoras.

O anúncio surge no momento em que a empresa está a ter de se adaptar às novas regras da União Europeia, em parte destinadas a garantir que as plataformas online não violam a legislação em matéria de propriedade intelectual. No passado, vários criadores de moda acusaram a empresa de roubar designs, incluindo a portuguesa Constança Entrudo, que viu o vestido trompe l'oeil ser copiado e vendido a 11 euros — o original em malha jacquard custa 250 euros.

Recentemente, a Shein esteve em Lisboa com uma loja pop-up durante três dias na Praça do Comércio. O PÚBLICO questionou a marca sobre este investimento no mercado português, mas a responsável de comunicação, Alessandra Oliva, recusou-se a dar dados concretos. “Não divulgamos informações específicas, mas posso dizer que Portugal é definitivamente um mercado em rápido crescimento para nós, e estamos ansiosos por aprofundar a nossa presença no país”, respondeu.

A Shein, fundada na China em 2008, anunciou também o lançamento de um “fundo de circularidade”, com um investimento inicial de 200 milhões de euros, para apoiar as empresas em fase de arranque na região que estão a desenvolver tecnologias de reciclagem de têxteis. “Dada a escala e o alcance da Shein podemos tornar-nos um catalisador para a adopção generalizada destas soluções em toda a indústria”, declarou Tang.

A empresa está a convidar empresas, instituições financeiras e fundos soberanos a co-investir no fundo.