Morreu a mulher que recebeu há três meses um transplante de rim de porco

Órgão acabou por ser removido menos de dois meses depois por ter sido afectado no seu funcionamento. Mulher tinha insuficiências renal e cardíaca.

Foto
Lisa Pisano tinha insuficiências renal e cardíaca Matilde Fieschi
Ouça este artigo
00:00
02:02

Morreu a mulher que recebeu um transplante de rim de porco em Abril, num hospital de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Lisa Pisano, de 54 anos, foi a segunda pessoa a receber um transplante de um rim de porco geneticamente modificado, para aumentar a compatibilidade entre o enxerto do animal e o receptor humano.

A mulher, de Nova Jérsia, foi também a primeira a receber um transplante de coração e uma bomba cardíaca, porque sofria de insuficiência renal e cardíaca, mas menos de dois meses após a cirurgia o novo rim teve de ser removido por ter sido afectado por um fluxo sanguíneo irregular relacionado com o pacemaker, obrigando-a a regressar à diálise.

"As contribuições de Lisa para a medicina, a cirurgia e os xenotransplantes [utilização de órgãos de outras espécies] não podem ser subestimadas. A sua coragem deu esperança a milhares de pessoas que vivem com insuficiência renal ou cardíaca em fase terminal e que poderão em breve beneficiar de um fornecimento alternativo de órgãos", sublinhou o médico que a operou, Robert Montgomery.

A primeira pessoa a receber um rim de porco geneticamente modificado foi Richard Slayman, de 62 anos, em Março, no Massachusetts, que morreu dois meses depois.

Os rins são um dos órgãos mais procurados nas unidades de transplante dos Estados Unidos, onde cerca de 800 mil pessoas precisam de um órgão. Segundo dados oficiais, a cada oito minutos há uma pessoa acrescentada à lista de espera por transplante e 17 morrem diariamente sem acesso aos órgãos de que necessitam.

Os xenotransplantes encontram-se ainda numa fase experimental e, nos Estados Unidos, apenas são autorizados em situações muito específicas. No caso de Lisa Pisano, o regulador permitiu o transplante por se tratar de uma paciente em fase terminal sem qualquer outra hipótese de tratamento.

"Eu tentei tudo o resto, eu esgotei todas as vias", disse Pisano em Abril, numa conferência de imprensa depois da cirurgia. "Quando esta oportunidade surgiu, pensei 'tenho de aproveitar'. No pior cenário, se não funcionar [para mim], pode funcionar para a próxima pessoa. Alguém vai beneficiar disto", acrescentou.