Três mortos e três desaparecidos em acidente com barco: “Não há explicação”

Barco de pesca virou-se entre São Pedro de Moel e a praia da Vieira. Há três mortos e três desaparecidos. Outros 11 náufragos foram resgatados com vida. Alerta foi dado durante a madrugada.

Foto
O naufrágio terá acontecido ao largo das praias de São Pedro de Moel e da Vieira de Leiria Autoridade Marítima Nacional
Ouça este artigo
00:00
04:27

Três pessoas morreram e três continuam desaparecidas esta manhã depois de uma embarcação de pesca se ter virado ao largo das praias de São Pedro de Moel e da Vieira de Leiria, ambas no concelho leiriense da Marinha Grande. O acidente, que envolveu uma embarcação chamada Virgem Dolorosa, com 17 pessoas a bordo, ocorreu a uma milha náutica a oeste da costa (o equivalente a pouco menos de 1900 metros), entre as duas praias marinhenses, apurou o PÚBLICO junto de fonte da Autoridade Marítima Nacional. Onze tripulantes já foram encontrados.

O alerta para o incidente foi dado às 4h33 para o comando local da Polícia Marítima da Nazaré e foi registado pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil às 4h44. Numa fase inicial julgava-se que o barco se tinha afundado, mas a primeira embarcação salva-vidas a chegar ao local confirmou que continuava à superfície, virada com o casco para cima.

Quatro barcos de pesca conseguiram resgatar oito pessoas no imediato — uma delas já estaria sem vida, duas aparentavam estar em estado de choque e uma queixava-se de dores elevadas. Os sobreviventes, entretanto transportados para o porto da Figueira da Foz, afirmaram que se encontravam 14 pessoas a bordo, mas essa informação foi considerada "não confiável" por causa do estado de choque em que se encontravam os tripulantes resgatados. Outros dois náufragos foram recolhidos às 6h por uma embarcação auxiliar e transportados para a Nazaré. Entretanto, a Autoridade Marítima Nacional confirmou que seriam 17 (e não 14) os tripulantes no interior do barco no momento em que virou.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já endereçou condolências às famílias das vítimas, considerando que esta tragédia relembra os riscos e perigos enfrentados diariamente pelos pescadores de todo o país.

"Esta profissão, que tanto enriquece a nossa tradição marítima, também nos recorda os riscos e desafios enfrentados por muitos dos nossos compatriotas, os quais merecem o nosso respeito e admiração. A perda das vidas destes valorosos homens é uma tragédia para todos nós", pode ler-se na nota publicada no site da Presidência.

Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, lamentou profundamente o naufrágio, apresentando condolências às famílias das vítimas.

Pedro Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, revela que não há ainda explicação para o naufrágio, adiantando que a tragédia ocorreu num momento em que os pescadores se preparavam para regressar a terra. Será decretado luto municipal, confirmou, e as vítimas e famílias terão apoio psicológico da autarquia. "Depois, vamos ver as condições em que vivem, os meios que têm e ver o que precisam em termos de outro tipo de material", adiantou.

Santana confirmou ainda que duas das vítimas mortais são de Buarcos e a outra de Lavos. Aos jornalistas disse ainda que os feridos em observação no Hospital Distrital da Figueira da Foz, entre eles, o mestre da embarcação, estão em estado de choque e não conseguem falar sobre o que se passou.

"Os peritos vão ter de avaliar o que se passou, a autarquia dará todo o apoio às famílias. Vamos ter o luto pessoal e o luto municipal", adiantou o autarca, relatando que nenhum dos sobreviventes conseguiu ainda relatar o que provocou naufrágio. "Eles próprios não sabem, dizem que não percebem o que aconteceu", explica.

As autoridades marítimas activaram uma embarcação da Estação Salva-Vidas da Nazaré para participar nas buscas, apoiada por um helicóptero da Força Aérea Portuguesa e uma equipa de vigilância aérea, com recurso a drones, do Comando Local da Polícia Marítima da Nazaré.

Às 7h50 estavam no local 37 elementos e 20 meios de socorro, mas a situação ainda se encontrava "em despacho", com mais meios em trânsito para o teatro de operações. A embarcação adornou num local com 15 metros de profundidade, o que levou à intervenção do Grupo de Mergulho Forense da Polícia Marítima nas buscas pelos tripulantes desaparecidos.

Armador sem explicação para o que aconteceu

O armador António Lé, presidente da Organização de Produtores da Figueira da Foz, disse não haver explicações para o naufrágio da embarcação Virgem Dolorosa. "A embarcação estava no exercício da sua actividade, em conjunto com as outras [mais seis da mesma organização] e, de um momento para o outro, virou-se. Não se sabe as razões, não se sabe nada, virou-se", afirmou, em declarações à agência Lusa, António Lé.

Segundo o responsável, a embarcação foi comprada há três anos, é moderna e a tripulação experiente. "Nada justifica o que aconteceu", reforçou.

Notícia actualizada às 11h32: acrescentadas declarações de Pedro Santana Lopes