Está tudo Sob Controlo na política externa francesa

Com Léa Drucker no papel principal, esta série cómica francesa que chega à Filmin centra-se numa nova ministra dos Negócios Estrangeiros a lidar com uma crise de reféns na região de Sahel, em África.

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Léa Drucker em Sob Controlo Jean-Claude Lother
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Marie Tessier tem 45 anos e dedicou a vida a ONG, a trabalhar no campo, mesmo que isso a tenha levado a negligenciar a família. Está a atravessar um momento de particular relevância mediática, com notícias sobre o seu trabalho. Quando é entrevistada na televisão, recebe uma chamada anónima. Ainda está no estúdio, literalmente na casa de banho. É o Presidente francês. Viu-a, conta-lhe, gostou do que ela disse, e decidiu nomeá-la ministra dos Negócios Estrangeiros. É assim que arranca Sob Controlo, série cómica francesa de seis episódios estreada originalmente no ano passado. Chega a Portugal via Filmin, com estreia marcada para terça-feira.

Marie é mesmo apanhada desprevenida. A subida ao Governo é algo que vem do nada, para o qual ela está pouco preparada, em termos do poder que isso lhe dá ao mesmo tempo que faz com que seja complicado concretizar o que quer que seja. É tudo estranho, este mundo. Ainda sem se ter ambientado a nada, o motorista que lhe é designado afirma que é provável que ela tenha sido chamada por alguém ter recusado o cargo – algo em que claramente ainda não tinha pensado. Antes disso, descobriu que o seu antecessor se demitiu porque teve um esgotamento. Nem tem tempo de avisar a filha.

Tudo se agrava quando terroristas na região de Sahel, em África, raptam cinco europeus, incluindo dois estrangeiros. A organização terrorista está tão à nora quanto Tessier. Tentam, por exemplo, ligar para o embaixador francês, mas este não atende. Mais à frente, convencem um pastor de ovelhas relutante a cuidar dos reféns.

É a recém-empossada Maria, com experiência na zona, que tem de ser a cara da negociação da libertação dos reféns. A França não pode pagar um resgate, oficialmente, mas por baixo da mesa pode. Ela não pode é dar a entender isso a ninguém. Só que ela não é propriamente a pessoa mais fácil de manter na linha e cumprir os desígnios do Governo e quer mesmo saber da situação e de a resolver.

A série é uma criação de Charly Delwart, que passou tempo com pessoas dos meandros da política a ouvir histórias que inspiraram as situações da série. Queria explorar os bastidores deste tipo de negociações, e o quão hilariantes podem ser. Vemos este universo com o seu quê de falso documentário, com câmara segurada à mão, para dar a ideia de que se está mesmo naquelas salas e corredores de poder em que tudo pode acontecer, algo que remete para uma das inspirações mais óbvias da série, a obra do escocês Armando Iannucci, mais propriamente The Thick of It e Veep.

Léa Drucker, veterana que trabalhou com realizadores como Cédric Klapisch, Xavier Legrand, Agnès Jaoui, Nadav Lapid, Lukas Dhont, Quentin Dupieux ou Catherine Breillat, além de ter aparecido na versão televisiva de 2019 de A Guerra dos Mundos, é a protagonista. Samir Guesmi é o seu chefe de gabinete, enquanto Laurent Stocker é o Presidente, ele que no ano passado também fez de um Presidente verdadeiro, Nicolas Sarkozy, em Bernadette, de Léa Domenach.