4 vinhos e as suas histórias: um rosado além-fronteiras, um vinho viciante e dois tintos do Douro
Julho também é mês de rega, sobretudo das vinhas mais novas. Há as que quase não necessitam, que com as suas raízes profundas procuram os nutrientes. Em destaque, um 100% Alvarinho, um rosé afrancesado, um tinto bio e um reserva que procura a frescura.
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"Comme en Provence": Vinha da Rosa Rosé – Single Vineyard 2022
O desafio foi proposto por um francês amigo de Filipa e João Maria Portugal Ramos, ambos filhos deste produtor. Filipa explica que andava com "vontade de lançar um vinho rosé diferente" e conta que durante um jantar em Estremoz, o repto lançado pelo amigo foi o de fazer vinho rosé estilo Provence no Alentejo. A produtora explica que a decisão foi de que o vinho "deveria ser proveniente das vinhas biológicas, rodeadas pelas roseiras que a serpenteiam". Filipa Portugal Ramos acrescenta que a tradição, mantida pela família, remonta ao tempo dos romanos que associavam as rosas à produção de vinha que, além da beleza e dos aromas, "são também um importante habitat para alguns insetos e funcionam como um sistema de alerta para algumas maleitas da vinha".
![Vinha da Rosa Rosé – Single Vineyard 2022.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_15_46_20_18216.jpg)
João Maria explica que as uvas são provenientes do lado voltado a nascente, "menos castigado pelo sol", são vindimadas manualmente e arrefecidas em camara frigorifica. Refere que a fermentação ocorre também a temperaturas baixas em cubas de inox, mas parte do lote fermenta e estagia em barricas usadas de 500 litros. Para o produtor, a maior dificuldade foi "perceber qual o momento certo para conseguir um vinho fresco, com sabor, mas ao mesmo tempo com pouca cor". João Maria salienta que o rosé é feito com as castas Touriga Nacional e Syrah e recomenda o seu consumo entre 10 e 12ºC.
![Filipa Portugal Ramos é responsável pela área do marketing.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_16_05_52_18221.jpg)
Filipa Portugal Ramos sugere pratos de peixe, aves, ovos e saladas, uma vez que "é um vinho gastronómico", mas conclui que "a sua frescura e vitalidade permite que possa ser bebido "by the glass", como aperitivo". Com um preço aproximado de 16 euros, a produtora refere que idealizaram o rosé "para consumo rápido", apesar de considerar que pode "evoluir na garrafa".
![João Maria é filho do produtor João Portugal Ramos.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_16_04_25_18220.jpg)
Os filhos de João Portugal Ramos, Filipa e João Maria, estão atentos ao crescimento exponencial do consumo de rosés nos últimos anos. Filipa garante que "há uma evidente alteração nos hábitos de consumo, com as pessoas a consumirem vinhos mais frescos e menos alcoólicos". João Maria não tem dúvidas que estão "na época perfeita para os amantes deste tipo de vinho: o calor, os dias longos de verão, os fins de semana na praia e jantares ao ar livre são um convite irrecusável a um copo de rosé".
Um vício chamado Alvarinho: Gran Vicious 2020
Na altura, o enólogo Tiago Macena da Quinta da Vacaria explica que o nome desta edição especial está "intrinsecamente associado a um conceito de desejo e paixão, sugere uma ligação intensa e gratificante, refletindo o carisma inebriante dos vinhos produzidos sob esta marca". Para Tiago Macena o maior desafio foi "a prospeção de terreno e o parceiro de adega". Refere que a vinificação é clássica e que passou por uma maceração pelicular prolongada, enquanto parte da fermentação foi realizada em barricas de carvalho francês, "onde estagiou demoradamente".
O enólogo escolheu a casta Alvarinho uma vez que tem "uma expressão sublime na região de Monção e Melgaço, onde os vinhos são produzidos". O responsável aponta a temperatura ideal para servir o Vicious entre 14°C e 16ºC e garante que pode ser apreciado sozinho ou acompanhando uma refeição. Por exemplo, destaca, "um prato de mariscos frescos, como camarões grelhados ou vieiras, ou outros pratos de peixe". O preço de 275 euros inclui uma ponderação "do custo de produção, o tempo de estágio, a qualidade das uvas, a exclusividade da produção limitada e a reputação da marca".
![Reserva Quinta da Vacaria - Gran Vicious 2020.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_15_47_56_18217.jpg)
Tiago Macena não tem dúvidas que o Grand Vicious pode ser consumido imediatamente, porém, "tem potencial para envelhecer em garrafa e desenvolver maior complexidade ao longo do tempo". Relativamente à região, o enólogo garante que embora partilhe a mesma casta Alvarinho, representa uma procura pela excelência, expressando autenticidade, complexidade e sofisticação". Quanto ao destinatário, o responsável assinala que é destinado a pessoas "que valorizam a qualidade, a autenticidade e a busca pela excelência na produção de vinhos" ou mesmo a colecionadores de vinhos, "dada a sua produção limitada e a capacidade de envelhecimento em garrafa".
![Enólogo Tiago Macena da Quinta da Vacaria.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_16_11_50_18222.jpg)
Tiago Macena conclui que o terroir da região de Monção e Melgaço "tem uma influência significativa na produção dos vinhos". Mas além desses efeitos, o enólogo também tenta encontrar diferenças em cada parcela, razão pela qual escolheu "uma vinha de encosta, virada a Norte e menos produtiva para elaborar o Gran Vicious".
Biodiversidade e preocupação ambiental: Terras do Grifo Bio tinto Reserva 2021
A empresa Rozès já tinha convertido anteriormente parte das vinhas da Quinta da Veiga Redonda em produção biológica. Com a enologia de Manuel Henrique, Luciano Madureira e Jorgina Quintela, chegaram o branco e o rosé bio e, este ano, o tinto, também biológico. Manuel Henrique explica que a história deste vinho começou em 2000, na altura em que a empresa comprou a quinta no Douro Superior, "onde habitam os grifos, aves majestosas e guardiãs ancestrais das vinhas". Refere que 2021 foi o início do primeiro vinho biológico, com "uma grande preocupação na sustentabilidade ambiental e defesa da biodiversidade."
![Terras do Grifo Bio tinto Reserva 2021.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_15_49_59_18218.jpg)
Jorgina Quintela aponta uma vinificação semelhante aos restantes, embora totalmente autónoma para evitar qualquer tipo de contaminação, "o que se torna complexo em termos de organização do trabalho na adega e na receção de uvas de outras quintas". A equipa escolheu as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão e Tinto Cão. O enólogo Luciano Madureira garante que este tinto "é um reserva muito encorpado cheio de fruta preta e caráter do Douro Superior", que pede obrigatoriamente "pratos cheios, nomeadamente o cabrito, borrego e cozido de carnes de porco, fumeiros e queijos fumados muito fortes".
![Vinhas da Quinta da Veiga Redonda.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_16_17_16_18223.jpg)
O preço de 16,50 euros incorpora, além dos impostos, os custos de produção associados e integração de uma margem que permita à empresa criar valor para poder reinvestir na região do Douro Superior. A enóloga Jorgina Quintela considera que continua a haver "uma boa relação preço-qualidade junto do consumidor, apresentando assim ao mercado um produto de alta qualidade, mas com preço muito competitivo".
![Luciano Madureira, Manuel Henrique e Jorgina Quintela.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_16_21_28_18224.jpg)
Para Manuel Henrique, o tinto está pronto para ser desfrutado, mas vai continuar a evoluir na garrafa. O enólogo, que recomenda que se beba a uma temperatura ligeiramente fresca, entre os 14º C e os 16º C, confessa que quer continuar com o estilo que os clientes apreciam "e conquistar novos clientes, em particular os que procuram esta categoria reserva, agora com uma alternativa biológica".
Família Touriga: Quinta do Pessegueiro Reserva Tinto 2021
A filosofia da quinta passa pela descoberta e curiosidade no estudo do maior número de castas existentes, do tipo de poda, e diferentes densidades de plantações entre outros aspetos. A explicação é do diretor técnico de viticultura e enologia da Quinta do Pessegueiro, Hugo Helena, que aponta 2012 como a altura em que foram plantadas novas parcelas apenas com uma casta, "como por exemplo, a Tinta Amarela, Rufete, Tinto Cão e Tinta da Barca, entre outras". No que diz respeito ao vinho, o responsável salienta que, "sabendo que a casta Touriga Nacional é o pai da Tinta da Barca e da Touriga Franca, provado geneticamente, surgiu a ideia de fazer um blend com o pai e as duas filhas".
![Quinta do Pessegueiro Reserva Tinto 2021.](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_15_52_00_18219.jpg)
O primeiro lançamento foi em 2021 com o reserva de 2019 e, segundo o enólogo, as maiores dificuldades estão na viticultura para conseguir "uma boa matéria-prima" e na precisão da data de vindima. Os dois pontos fundamentais, acrescenta, para que depois haja "um mínimo de intervenção com produtos enológicos". Hugo explica que as uvas passam entre 12 e 16 horas numa câmara frigorifica, antes da vinificação, "feita com leveduras indígenas em balseiros de madeira e envelhecimento em barricas de 225 litros e pipos de 600 litros usados.
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O responsável pela viticultura e enologia indica 16ºC para o consumo e, apesar de ser um vinho para acompanhar uma refeição, principalmente pratos de carne, "não se deve pôr de lado os de peixe como por exemplo o atum". Na opinião de Hugo Helena, o vinho, com um preço de 17,50 euros, "está pronto para beber, mas tem muito potencial de guarda, isto porque apesar da sua complexidade e textura, tem uma grande frescura e vivacidade".
![As uvas são prensadas com os pés, um dos métodos mais tradicionais .](http://cdn.must.jornaldenegocios.pt/images/2023-07/img_640x1200$2023_07_13_16_26_43_18226.jpg)
O enólogo chama "autêntico" a um vinho "que representa bem as castas que incorpora, com a complexidade da Touriga Franca, com a textura e aroma da Touriga Nacional e finalizando com a frescura da Tinta da Barca". Hugo Helena conclui que este reserva provém de duas parcelas, "uma parte da Quinta do Pessegueiro virada a poente que traz a untuosidade e a concentração e a outra parte da Quinta da Teixeira com a textura e a frescura".
4 vinhos e as suas histórias: um vinho de trilogia, um Pinot Noir, um Moscatel do Douro e um palhete transmontano
Em junho trata-se a vinha e, mesmo com o tempo que não ajuda, já se vislumbram os primeiros cachos. Um tinto que representa uma das três estações do Douro, um Pinot e um Moscatel do planalto de Alijó e a tradição de brancos e tintos juntos numa garrafa.
Afinal, qual é o melhor copo para beber vinho?
A resposta anedótica é evidentemente "todos", mas será que é mesmo assim? Foi a pergunta que fizemos a alguns dos melhores especialistas na área - nomeadamente Jancis Robinson e Maximiliam Riedel, dois nomes incontornáveis.
4 vinhos e as suas histórias: dois tintos do Douro, um de talha e um branco de “calhau rolado”
Em abril continua o processo de floração, uma etapa em que as videiras ficam mais sensíveis às doenças o que requere uma atenção redobrada dos viticultores.
4 vinhos e as suas histórias: vinho da talha, um rosé, um natural do Douro e uma experiência improvável
Maio, ou na versão endeusada dos romanos, Maya, é geralmente um mês de muito trabalho na vinha. Aqui segue-se a rota do românico no Alentejo, ouve-se um grito de liberdade no Douro e percebe-se a cor rosada de dois durienses.
4 vinhos e as suas histórias: De um Vinhão de topo a um “Péttilant Naturel” da mesma região
Neste mês ultimam-se os tratamentos e redobra-se a atenção ao clima. A falta de água interrompe o crescimento, mas as videiras podem concentrar a sua energia na uva se houver equilíbrio.
4 vinhos e suas histórias: um rosé, um espumante, uma casta mal-amada e uma estreia duriense
Num mês em que a expressão das vinhas começa a ser mais evidente, a “aliança” de um português e de um austríaco, um espumante democrático, uma homenagem a uma casta mal-amada e uma estreia duriense.
Vinhos para celebrar a vida, a família e os amigos
Todas as razões são boas para comemorar. Religiosas, pagãs ou de outras origens, as festas regadas com vinho marcam a ligação do homem à natureza e aos seus. Um espumante histórico, um vinho de sobremesa e três durienses com alma e tradição. A sul, no Tejo, um reserva branco.
Um dos ingredientes mais consumidos em Portugal de todas as formas e feitios. Um clássico da gastronomia.
Da cozinha, para a televisão, para a adega. Eis o percurso do mediático Ljubomir Stanisic, que virou “cheirista” e criou dez vinhos em parceria com produtores e amigos. Reuniu-os na marca Mestiço, “que tanto pode ser branco ou tinto, mas sempre sem preconceitos”.
Brancos ou tintos, espumantes e rosés, com uma acidez refrescante para dar outra alegria aos dias quentes de verão. Para todas as carteiras e (quase) todos os gostos.
Até 4 de agosto, Idanha-a-Nova integra a Feira Raiana, com atuações como os Expresso Transatlântico e chefs como Ljubomir Stanisic ou Marlene Vieira a fazer maravilhas pela oferta gastronómica.