Prazeres / Lugares

O mais secreto (e porventura melhor) bar de cocktails em Lisboa

No insuspeito bairro de Arroios, o Balzac assume-se como um lugar diferente, “fora dos circuitos da noite” e com uma “clientela cada vez mais fiel”, que está a tornar o bar dos irmãos Filipe e Rui Moreira numa referência do bem beber – em qualidade e não em quantidade, esclareça-se.

Foto: @balzac.lx
11 de julho de 2024 | Miguel Judas

O Balzac Cocktail Bar tem apenas 29 lugares sentados e quando todos estão cheios não entra mais ninguém. Quem chega tem de esperar que alguém saia para poder entrar. Ou seja, é um bar, mas mais parece um restaurante. "O nosso objetivo sempre foi incentivar um consumo de qualidade, com bom ambiente e conforto, é por isso que só servimos pessoas sentadas. Costumamos até dizer que não estamos no ramo da diversão noturna, porque gerimos um bar a respeitar os vizinhos, que também são nossos clientes", diz com humor Rui Moreira, um dos dois sócios do Balzac – o nome é uma referência literária ao bairro de Arroios, onde abriram portas há cerca de dois anos, inspirado pela Vila Balzac, o retiro de Ega, um dos personagens do romance Os Maias, de Eça de Queirós, que ficaria algures por aqui.

Caipirinha
Caipirinha Foto: @balzac.lx

Por exemplo, a esplanada é recolhida às 23h e o bar encerra às 2h, não há música alta nem copos na rua e pessoas embriagadas têm a entrada barrada. "O bar não colide com a vida do bairro, pelo contrário, faz parte dela", sublinha Rui, perante a concordância do irmão mais novo, Filipe, o outro sócio do projeto. A ideia de abrir um bar em conjunto era um sonho antigo dos dois irmãos, naturais do Porto e ambos com carreiras bem diferentes. Enquanto Filipe sempre trabalhou na hotelaria, com passagem por locais como o hotel Porto Palácio, o mítico bar portuense Pipa Velha ou diversos bares de cocktails em Londres, onde trabalhou alguns anos e aprendeu "os básicos" desta verdadeira arte, o irmão Rui estudou Direito, trabalhou em e-commerce e pelo meio ainda fez uma perninha na política. Abriram um primeiro bar no Seixal, junto à baía, mas "devido à pandemia durou apenas seis meses", o que acabaria por acelerar a vinda para Lisboa.  

"Queríamos ter um espaço que não dependesse só do turismo e não ficasse situado numa das chamadas zona de noite. No fundo, queríamos depender mais dos residentes e dos portugueses, apesar de também termos muitos clientes estrangeiros", acrescenta Filipe. A escolha do local também não foi inocente, como reconhece: "esta ainda é uma zona onde vive gente, por isso fazia sentido um projeto que, de alguma forma, também contribuísse para a comunidade". Por isso e além de vendar cocktails – muitos bons, assinale-se, mas a esses já lá vamos – o Balzac tem também um plano de atividades muito ligado ao bairro, como um clube de leitura, um parceria com a editora local Ululatus, que ali passou a fazer o lançamento dos livros e outra ainda com a Proza, com o bar a tornar-se local de tertúlia para debater os filmes dos ciclos de cinema organizados por esta associação cultural.

A esplanada é recolhida às 23h e o bar encerra às 2h, não há música alta nem copos na rua e pessoas embriagadas têm a entrada barrada.
A esplanada é recolhida às 23h e o bar encerra às 2h, não há música alta nem copos na rua e pessoas embriagadas têm a entrada barrada. Foto: DR

"Somos um bar local, de bairro, mas com padrões elevados. Conhecemos a maioria dos clientes pelo nome e apostámos nessa rede de proximidade", assume Rui. Mesmo assim, têm consciência que apostaram num nicho de mercado, que está disposto a pagar mais por um produto de qualidade.  "Sabemos que não é um bar para vir todos os dias, mas é como ir comer a um bom restaurante, onde também não se vai todos os dias", compara Filipe. Ninguém vem a este bar, portanto, para beber 10 cocktails e ficar bêbado. Todavia, há alguns whiskeys vendidos a 40 euros o copo "e a garrafa vai esvaziando", como lembra Rui, pelo que também há clientes que não se importam de pagar mais para beber um bom whiskey. "Atribui-se um valor ao preço, pois todos os nossos cocktails são feitos com os melhores produtos e com muito cuidado", garante Filipe. E, assim, realça, "cria-se uma relação próxima e de confiança com os clientes, pois este é um negócio que depende das pessoas voltarem ou não". E de facto têm voltado – "nos primeiros quatro meses tivemos uma clientela muito residual, mas a seguir dobrámos a faturação, o que quer dizer que as pessoas não só voltavam como traziam os amigos", sustenta Filipe. 

Quanto aos cocktails, apostam sobretudo em cocktails clássicos, mas também nalguns cocktails contemporâneos que entretanto também se tornaram clássicos. Entre os bestsellers da casa destacam-se os clássicos Moscow Mule e Whiskey Sour. Mas também o 1838 Sazerac, no qual reproduzem a receita original de 1838 deste clássico de New Orleans, através da utilização única de cognac; o Corpse Reviver no. 2, um cocktail presente no livro "The Savoy Cocktail Book", de 1930, criado no American Bar, o bar de cocktails mais antigo de Londres, no Hotel Savoy; ou ainda o Penicillin, uma bebida criada no bar Milk & Honey, responsável pelo renascimento dos cocktails em Nova Iorque após o período da Lei Seca. 

"Sabemos que não é um bar para vir todos os dias, mas é como ir comer a um bom restaurante, onde também não se vai todos os dias" Foto: @balzac.lx

"Assumimos a missão de promover e respeitar a coquetelaria clássica e não somos grandes fãs de cocktails de autor", admitem, apesar de terem dois cocktails de assinatura da casa que também são um sucesso. Um é o Bloody Samurai, "a nossa versão do clássico Bloody Mary, com Sake (destilado japonês feito, maioritariamente de arroz) e a introdução de soja no sumo de tomate". O outro foi criado de raiz e chama-se Shofukan (o nome é uma homenagem à música com o mesmo nome da banda jazz Snarky Puppy, que tocava nas colunas quando foi criado). É feito com Kraken (rum negro caramelizado), Golden Falernum (licor de rum com várias especiarias), Green Pepper Sauce (tabasco de malagueta verde) e lima – e, garantimos, merece mesmo ser provado.  

Além do imenso menu de cocktails, os clientes têm ainda à disposição uma ementa (esta mais pequena) "de comidas do mundo com twist", criadas por Filipe, cuja formação é precisamente em cozinha e pastelaria. Aconselha-se a alheira de Caça (cozinhada no forno, servida em molho de compota de mirtilo e mostarda Dijon, com alecrim) ou o Ceviche de Vieira (cozinhada naturalmente ao longo de 15 minutos em molho de lima, cebola roxa, aipo, gengibre, coentros e malagueta), que segundo os irmãos "é o best-seller da carta de comidas". E quem preferir outras bebidas pode sempre optar por vinho a copo ou por uma cerveja Barona, uma marca artesanal feita em Marvão, no Alentejo, e já vencedora de vários prémios no World Beer Awards. 

Onde? Balzac Cocktail Bar, Rua de Arroios, 156 A, Lisboa. Quando? Aberto de terça a sábado, das 19h às 2h. 

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