O anestesista brasileiro Guilherme Saraiva Leal compartilha sua experiência no Iêmen, em uma das maiores respostas humanitárias de MSF no mundo.
Durante a Primavera Árabe, eclodiu no Iêmen, país situado no Oriente Médio, uma guerra civil que se arrasta há uma década. Com o apoio de atores internacionais, o conflito tomou grandes proporções, e o país mergulhou em uma grave crise humanitária.
Atuei como anestesista de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Abs, município localizado na província de Hajjah. A cidade possui um Hospital Geral apoiado por MSF, que representa uma das maiores respostas humanitárias da organização no mundo.
Durante três meses, fui o único anestesista do hospital, e trabalhei junto a técnicos em anestesiologia, equipe de enfermagem, obstetras e cirurgiões. Nossa rotina consistia na realização de pequenas e médias cirurgias pediátricas, cesarianas, laparotomias (um procedimento cirúrgico no abdômen) e atendimento a vítimas de trauma.
No Iêmen, existe uma grande escassez em atenção primária em saúde, ausência de assistência pré-natal e de programas de vacinação para crianças. Esses fatores certamente aumentam a incidência de pacientes com doenças graves e complicações. O resultado é um sistema hospitalar sobrecarregado, e com leitos insuficientes para atender a demanda.
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Trabalhar em um país em guerra civil por vezes não é fácil e exige resiliência. A rotina de restrições e confinamento, devido ao contexto de segurança, juntamente com a distância da família é difícil em muitos momentos. Contudo, sinto que vestir a camisa de MSF é um grande privilégio.
Testemunhar os inúmeros atendimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade que procuram os hospitais apoiados por MSF e recebem alta em boas condições de saúde faz tudo valer a pena. Sou muito grato por essa grande experiência profissional e pessoal. Meu desejo é que este conflito negligenciado se encerre e que o Iêmen possa se reerguer trazendo esperança de dias melhores ao povo iemenita.
Insha’Allah*.
Uma expressão em árabe cujo significado é “se Deus quiser”.