Massacre da Praça da Paz Celestial faz 35 anos. China proíbe homenagem

Após três décadas do massacre homenagens as vítimas continuam proibidas em Pequim. O número exato de mortos e feridos é incerto até hoje

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Getty Imagens/ Danny Lehman
Imagem colorida. Praça da paz celestial - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida. Praça da paz celestial - Metrópoles - Foto: Getty Imagens/ Danny Lehman

Três décadas e meia após a repressão sangrenta da Primavera de Pequim, movimento pró-democracia pacifico, a memória dos acontecimentos em Tiananmen — Praça da Paz Celestial — continua proibida na China. Como em todos os dias 4 de junho desde 1989, a censura e a vigilância dos locais comemorativos foram reforçadas.

Há 35 anos, tropas e tanques do Exército chinês reprimiram com violência um movimento pacífico liderado por estudantes, que durante várias semanas utilizou a praça para reivindicar reformas democráticas no país. O número exato de mortos e feridos é incerto até hoje. Mas estima-se que mais de 1 mil civis tenham morrido, a maioria alunos.

Se há algo que não mudou em 35 anos na China é a mobilização do aparelho de segurança pública, incluindo fins de semana e feriados, na véspera do 4 de junho.

Nas entradas do grande cemitério de Wan’nan, no noroeste de Pequim, policiais se instalaram sob grandes guarda-sóis. “Ninguém passa”, explica uma funcionária do cemitério, onde costumam ir as chamadas “mães de Tiananmen”, que perderam a filha ou o filho durante a repressão da Primavera de Pequim. “O local entrou em período de vigilância”, explicou. “Durante pelo menos três dias, a segurança está reforçada nas entradas. É assim todos os anos no início de junho. Todo o cemitério é monitorado. Policiais à paisana patrulham. É assim todos os anos”, diz a funcionária.

Universitários e redes sociais sob vigilância

O período de “manutenção da estabilidade”, como diz o governo, se estende ao bairro universitário. No distrito de Haidian, um pouco mais a leste, as instruções eram dadas por alguns professores, confidencia uma aluna, uma das poucas que ousaram falar sobre o assunto. “Nosso professor fez uma reunião recentemente, alertando-nos para não causarmos problemas nos próximos dias. Acho que também há mais guardas no campus”, diz ela.

A vigilância reforçada aplica-se obviamente às redes sociais, onde palavras-chave associadas aos acontecimentos de 1989 acionam imediatamente a tesoura dos censores. Nesta terça-feira, 4 de junho, ou “35 de maio”, como tem sido apelidado por quem deseja driblar a amnésia coletiva imposta pelos filtros da censura, a função bate-papo de jogos on-line muito populares como “Honor of King” “Identity V”, ou “Three Kingdoms online”, permanecerá desativado durante o dia.

Outro caminho

“Acho que se os chineses tivessem realmente esquecido o 4 de junho, o governo não ficaria tão tenso nessa data a cada ano”, diz Wang Dan, um dos ex-líderes dos protestos em Tiananmen, exilado nos Estados Unidos.

“Podemos ter certeza disso: o 4 de junho não foi completamente esquecido, como o mundo exterior pode pensar”, explica Wang Dan à RFI. “Vários problemas sociais que a China enfrenta hoje, como a injustiça social, o desenvolvimento econômico e os diversos problemas políticos, têm relação com a repressão de 1989. Se ela não tivesse acontecido, a China teria provavelmente realizado uma reforma política e poderíamos estar atualmente em uma situação similar à de Taiwan”, acrescenta.

Para o ex-líder dos protestos pacíficos, “um dos significados importantes do 4 de junho hoje é de mostrar aos chineses que era possível a China ter seguido outro caminho. A lembrança do massacre de Tiananmen é parte da resistência política atual. O 4 de junho não terminou, ele apenas tomou uma nova forma, o da luta entre a memória e o esquecimento, para prolongar o movimento de 1989”.

Com informações de Stéphane Lagarde, correspondente da RFI, parceiro do Metrópoles, em Pequim.

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