Cooperativismo na prática: conheça o modelo de trabalho que muda vidas

Com apoio do Sistema OCB, respondemos às principais dúvidas sobre o funcionamento das cooperativas. Confira!

Gustavo Moreno/Especial para o Metrópoles
Cooperativa Recicle a Vida
1 de 1 Cooperativa Recicle a Vida - Foto: Gustavo Moreno/Especial para o Metrópoles

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Ser dono do próprio negócio é uma ideia que costuma ser associada ao empreendedorismo. Porém, nem todo empreendedor precisa ser, necessariamente, o único dono da empresa. Criado há mais de 170 anos, o cooperativismo é um modelo de negócio que tem um aspecto em comum: todos os associados são proprietários do patrimônio da empresa e têm poder de decisão.

Quinze anos atrás, aos 29 anos, Cleusimar de Andrade lembra que levava uma vida de muito sacrifício e pouco dinheiro. Desempregado, casado e com dois filhos, ele se tornou catador por necessidade. Assim, papelões, metais e outros materiais recicláveis passaram a garantir o sustento da família. “A gente não vira catador porque quer.  Virei para não passar fome. A vida me empurrou para isso”, lembra Cleusimar.

Como ele, outros catadores de Ceilândia (DF) sobreviviam da mesma forma: cada um trabalhava por conta própria. Passavam horas andando pelas ruas à procura de produtos que pudessem ser comercializados. O único problema é que tanto suor garantia uma renda de apenas meio salário mínimo. 

Cleusimar Andrade é o atual presidente da cooperativa Recicle a Vida, que tem sede em Ceilândia (DF)

Isso porque, em pequenos volumes, as vendas só podiam ser feitas para intermediadores. Esses, por sua vez, vendiam grandes quantidades de material reciclável para fábricas e indústrias e ganhavam três vezes mais.

No entanto, a margem de lucro dos catadores sofreu uma reviravolta quando um empresário do setor sugeriu ao grupo que eles se organizassem para formar uma cooperativa. “A gente não sabia do que se tratava, então fomos aprender”, lembra.

A ideia virou realidade com o apoio de instituições como o Banco do Brasil, Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Organização das Cooperativas do DF (OCDF) – representante regional do Sistema OCB – e em 2005 nasceu a cooperativa Recicle a Vida. 

Desde então foram muitas conquistas. A primeira foi ver um ginásio abandonado cedido pela Administração Regional virar a sede da organização. Depois vieram caminhões, prensas e esteira para seleção do lixo.

Atualmente, a média de salários dos cooperados é de R$ 1.500

Atualmente, com 70 associados, muita coisa mudou. Com a organização, veio a qualificação profissional, o maquinário e o aumento de resultados. Entre eles, o fechamento de grandes contratos para coleta seletiva, separação de resíduos e até de fabricação de matéria-prima para a indústria automobilística. 

Com isso, o faturamento inicial de 500 mil reais ao ano deu lugar a R$ 500 mil mensais. “Hoje tem catador que ganha de R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês. No fim do ano, fazemos a divisão de sobras (resultado financeiro ao final do exercício fiscal). Todo mundo tem plano de saúde, INSS pago, seguro de vida, conta em banco, cartão de crédito, coisas que eram muito distantes da nossa realidade”, explica Cleusimar, que é o atual presidente da Cooperativa Recicle a Vida.

Cooperativismo, um modelo justo de trabalho

Para Renato Nobile, superintendente do Sistema OCB, o cooperativismo é mais do que um modelo de negócio: é uma filosofia de vida. O executivo explica que o sistema oferece mais oportunidades para as pessoas melhorarem a qualidade de vida, além de equidade e geração de riquezas. “O grande diferencial é a origem. Uma cooperativa é uma sociedade de pessoas, não de capital”, aponta. 

Respeitando os princípios preconizados pelo cooperativismo, uma cooperativa é capaz de transformar uma comunidade, uma cidade, um país. Pode fazer do mundo um lugar melhor, mais justo, mais feliz e com oportunidades para todos.

Renato Nobile, superintendente do Sistema OCB

O cooperativismo também transformou a vida de Maria Neide Pereira Costa, a Neidinha, de 58 anos, cooperada há 14 anos da Recicle a Vida. Moradora do DF, ela trabalhou durante anos nos lixões da cidade antes de ingressar na cooperativa.

Morava em uma invasão em condições precárias e chegou a trabalhar grávida recolhendo resíduos. “Depois que meu caçula nasceu, eu o levava e o colocava num cantinho para que eu pudesse separar o lixo”.

Neidinha abraçou o cooperativismo há 14 anos. Desde então, deixou a invasão onde vivia, conquistou a casa própria e garantiu educação aos filhos

Desde que deixou o trabalho nas ruas, Neidinha tem horário de expediente, equipamento de proteção e treinamentos constantes, além de estar resguardada do sol, da chuva e dos perigos do lixão.

Meu Deus, como minha vida mudou. Consegui construir minha casa, tenho plano de saúde, seguro de vida, décimo-terceiro e férias. Estou entrando na minha velhice feliz. Posso dizer que tenho orgulho do meu trabalho.

Maria Neide Pereira Costa, associada da cooperativa Recicle a Vida

Força que cresce

O movimento cooperativista começou em 1844, na França, como resposta de um grupo de trabalhadores — a maioria deles tecelões — ao aumento do desemprego e aos baixos salários pagos pelas empresas europeias, após o início da Revolução Industrial.

O movimento conta com sete ramos: agropecuário; consumo; crédito; infraestrutura; saúde; trabalho produção de bens e serviços; e transporte. 

As cooperativas estão por toda parte: táxis, bancos, produção de alimentos, turismo, artesanato e muito mais. Muita gente não sabe, mas o Brasil tem as duas maiores cooperativas na área da saúde do mundo: a Uniodonto, de dentistas, e a Unimed, de médicos, que está presente em 85% dos municípios brasileiros.

Nos últimos oito anos, o número de cooperados no Brasil cresceu 62% e a quantidade de empregos gerados pelas cooperativas brasileiras aumentou 43%.

Quando o assunto é a geração de empregos diretos, a comparação com o modelo mercantil é gritante. De 2014 para 2018, enquanto a população ocupada no Brasil teve uma queda de 5%, as contratações cooperativismo cresceram 17,8%.

Para o superintendente do Sistema OCB, Renato Nobile, 2020 também deverá fechar com saldo positivo . “Pudemos ver a força desse sistema na crise financeira de 2015 e agora na pandemia. O cooperativo de crédito trouxe um colchão de impacto muito grande. Já as cooperativas agropecuárias, de saúde, de transporte, não pararam em nenhum momento. E outras, como as de táxis, inovaram e continuam trabalhando”, afirma.

Na avaliação do deputado Evair de Melo (PP/ES), presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), o Brasil passa por um processo de crescimento do modelo. “A cada dia compreendemos que precisamos encontrar mecanismos de proteção e organizações que, principalmente em momentos de turbulência, possam mitigar o impacto sobre os brasileiros. Sem dúvida, o cooperativismo é essa força que o país precisa”, diz.

Como montar uma cooperativa?

Apesar de estar em crescimento, o modelo cooperativista ainda é pouco conhecido pela população brasileira. Por isso, o Metrópoles buscou as respostas para as principais dúvidas sobre o assunto. 

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