A sopa de letrinhas com que os investidores se deparam na hora de aplicar suas reservas também aparece para quem deseja trabalhar nos mercados financeiro e de capitais. CPAs, CEA, CNPI, AAI, CFP… Essas são siglas muito importantes para os interessados em seguir carreira nessa área, já que representam as certificações necessárias ou recomendáveis para começarem a atuar e avançarem como profissionais de mercado completos.

Cada uma das certificações é voltada a um tipo de profissional que trabalha nos mercados financeiro e de capitais, já que elas atestam conhecimentos gerais do mercado e também específicos para cada área de atuação. Por exemplo, a certificação de um gerente de banco não é a mesma de um profissional atuante na análise de ativos financeiros ou de um gestor de carteira de fundo de investimento.

Há algumas certificações que são obrigatórias – ou seja, para certas atividades de mercado é exigido um conhecimento mínimo. Isso é importante para que sejam preservados o interesse e a segurança dos investidores, que poderão ser atendidos por pessoas devidamente habilitadas e autorizadas pelos órgãos reguladores.

Em geral, as certificações obrigatórias do mercado de capitais são exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para as atividades reguladas, como gestão de carteiras, assessoria de investimentos e análise de ativos, por exemplo.

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As certificações normalmente ficam sob a responsabilidade de entidades ligadas aos mercados, como a Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Ancord (Associação Nacional das Corretoras de Valores) e a Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais do Brasil).

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Elas preparam os conteúdos dos exames, divulgam os tópicos exigidos na avaliação e aplicam as provas, além de em alguns casos oferecerem trilhas preparatórias. Cada uma delas tem um procedimento de inscrição e um valor de exame. A preparação o candidato pode fazer estudando por conta própria ou com algum curso específico.

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Vale lembrar que existem hoje muitas certificações porque o mercado brasileiro foi crescendo ao longo dos anos, passando a exigir mais preparo de uma gama maior de profissionais. Mas isso não significa que uma pessoa interessada em trabalhar nessa área precise ter todas as certificações. É necessário apenas que se concentre nas habilitações que a atividade que vai desempenhar requer – seja por exigência da regulação, seja para ter um diferencial no mercado.

Como uma forma de progredir na carreira, o profissional também pode se candidatar a certificações internacionais, que funcionam como um diploma de pós-graduação que atesta seus profundos conhecimentos de mercado. É um adicional, que pode abrir muitas portas.

CPAs

A trajetória de uma pessoa interessada em começar a atuar nos mercados financeiro e de capitais tem um bom ponto de partida nas certificações da família CPA, da Anbima.

O primeiro passo é a CPA-10, voltada a profissionais que trabalham com distribuição de produtos de investimento para o varejo, seja em agências de bancos ou plataformas online. O exame, que dura 2 horas, tem 50 questões. Para ser aprovado, o candidato precisa acertar pelo menos 35. O exame do CPA-10 custa R$ 250.

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A CPA-20, por sua vez, se destina a profissionais que têm contato com investidores qualificados – o que inclui os gerentes que atendem os segmentos private, corporate e investidores institucionais. A prova do CPA-20 tem 60 questões, que devem ser resolvidas em até 2h30. São aprovados os candidatos com acerto em no mínimo 42 questões. O exame do CPA-10 custa R$ 360.

A Anbima está reformulando a grade de certificações – leia mais sobre as mudanças no final deste guia.

CEA

O CEA, também da Anbima, é a certificação específica para especialistas de investimentos. Esses profissionais atuam centrados no atendimento personalizado dos investidores, podendo fazer recomendação de produtos. Além disso, o profissional certificado com a CEA pode prestar assessoria para gerentes de contas. A prova do CEA custa R$ 520.

O exame do CEA tem 70 questões, que o candidato deve responder em até 3h30. São aprovados os que acertarem pelo menos 49 questões.

O conteúdo exigido no exame abrange Sistema Financeiro Nacional e participantes do mercado; princípios básicos de economia e finanças; instrumentos de renda fixa, renda variável e derivativos; fundos de investimento; produtos de previdência complementar; gestão de carteiras e riscos; e planejamento de investimento.

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CFP

Se o interesse for pela atividade de planejamento financeiro, a certificação correspondente é a CFP. De caráter internacional, ela atesta os conhecimentos e a experiência de profissionais que ajudam os clientes a planejar a vida financeira, o que envolve orçamento e investimentos.

No Brasil, a entidade responsável pela certificação é a Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro).

A certificação CFP tem uma particularidade: o exame é apenas uma das etapas do processo. Depois de aprovado, o candidato precisa fazer o curso Planejamento financeiro – como desenvolver um plano financeiro e entregar um plano financeiro, comprovar experiência de cinco anos no atendimento de pessoas físicas, aderir a um código de ética e comprovar a conclusão de um curso superior.

O exame é aplicado nos meses de abril, agosto e dezembro, e inclui os seguintes módulos: planejamento financeiro e ética; gestão de investimentos; planejamento da aposentadoria; gestão de riscos e seguros; planejamento fiscal; e planejamento sucessório. As características das provas, os tempos e os valores variam conforme o módulo.

Se passar no exame, o candidato tem até três anos para comprovar a educação financeira exigida e a experiência profissional mínima.

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AAI

Essa certificação, da Ancord, é obrigatória para os profissionais que queiram atuar como assessores de investimento (antigo agente autônomo de investimento). Com 80 questões objetivas de múltipla escolha, a prova tem o objetivo de verificar a qualificação técnica dos candidatos para desempenhar a função.

O conteúdo do exame inclui temas gerais dos mercados financeiro e de capitais e pontos específicos sobre produtos de investimento e a profissão de assessor de investimento em si. A prova tem a duração de 2h30 e um total de 80 questões de múltipla escolha.

Para fazer o exame, qualquer pessoa que tenha pelo menos o Ensino Médio completo pode se inscrever no site da Ancord. O valor da inscrição, em junho de 2024, era de R$ 460.

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CNPI

Já se o interesse for pela análise de investimentos, a certificação exigida pela CVM é o CNPI. Ela pode ser para análise fundamentalista e para análise técnica, e a entidade responsável pela prova é a Apimec.

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Há três categorias dessa certificação: CNPI para analista fundamentalista, CNPI-T para analista técnico e CNPI-P para analista pleno, aquele que é habilitado para fazer tanto análise fundamentalista quanto técnica. Para prestar os exames, o requerimento mínimo é um curso superior.

A jornada para a obtenção do CNPI começa com a prova CB (conteúdo brasileiro), comum a todas as categorias de analistas. É um exame de 1h50 com 60 questões de múltipla escolha. Os temas abordados são sistema financeiro nacional, mercado de capitais, mercado de renda fixa, mercado de derivativos, conceitos econômicos, conduta e relacionamento, governança corporativa, relações com investidores e sustentabilidade.

Já a prova CG1 (conteúdo global) vale para o analista fundamentalista. O tempo e o formato do exame são os mesmos do CB, e os conteúdos envolvidos são: análise e avaliação de ações e finanças corporativas, com 30 questões; e contabilidade financeira e análise de relatórios financeiros, com as 30 questões restantes.

No exame CT1 (conteúdo técnico), obrigatório para o analista técnico, também em 1h50 o candidato vai responder 60 questões de múltipla escolha, mas sobre temas como: fundamentos da análise técnica, teoria de Dow, conceito de tendência, figuras gráficas, teoria das ondas de Elliott, padrões candlestick, indicadores, gerenciamento de risco, estratégias operacionais e trading systems.

Segundo a Apimec, o aprovado no CB e no CG1 obtém o certificado CNPI, e está apto a fazer recomendações por meio de relatórios de análise fundamentalista). Já o candidato que passou no CB e no CT1 será certificado como CNPI-T, e poderá trabalhar com recomendações por meio de relatórios de análise gráfica. Se for aprovado nos três exames, o profissional estará habilitado com o CNPI-P, podendo fazer todos os tipos de análise.

Para não associados da Apimec, os valores das provas são R$ 735 (CB) e R$ 919 (CG1 e CT1, cada um). A inscrição para os exames pode ser feita separadamente, e o candidato tem até 12 meses (partindo da data da primeira aprovação) para ser aprovado em um segundo exame.

Profissionais que têm o CNPI também podem atuar como consultores de valores mobiliários (autorização da CVM), como fornecedores de respaldo para laudo de avaliação do valor justo dos ativos investidos por fundos (aval do Banco Central) e para atuação em cargo ou função nas entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs, conforme autorização da Previc – Superintendência Nacional de Previdência Complementar).

CAIA

Essa é a uma certificação internacional destinada aos profissionais que atuam com investimentos alternativos, como, por exemplo, fundos imobiliários, produtos estruturados e derivativos. A certificadora é a CAIA Association.

CFG

Os candidatos a iniciar uma trajetória na gestão de recursos de terceiros começam pelo CFG, da Anbima. Com conteúdo envolvendo economia, estatística, produtos de investimento, alocação de ativos, entre outros temas, essa certificação atesta os conhecimentos aprofundados do candidato.

A obtenção do CFG é pré-requisito para as certificações mais avançadas CGA e CGE, mas não habilita o certificado a atuar como gestor – para isso, ele precisa de CGA ou CGE.

A prova de CFG tem 60 questões, que devem ser respondidas em até 3 horas. O acerto mínimo para aprovação é de 42 questões. O valor do exame é de R$ 475.

CGA e CGE

O CGA habilita o candidato já certificado pelo CFG a atuar profissionalmente como gestor de recursos de fundos de renda fixa, ações, cambiais, multimercados e ETFs (Exchange Traded Funds), além de carteiras administradas. O CFA (veja mais a seguir) e o CAIA também são válidos como pré-requisitos para o CGA.

A prova do CGA tem duração de 2h30 e 45 questões. Para ser aprovado, é necessário acertar ao menos 32 questões. O exame custa R$ 550.

Já o CGE é voltado ao profissional que atua na gestão de produtos estruturados, como FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), fundos imobiliários e FIPs (Fundos de Investimento em Participações).

A prova do CGE tem duração de 2h30 e 45 questões. Para ser aprovado, é necessário acertar ao menos 32 questões. O exame custa R$ 550.

CFA

Adicionalmente, o interessado pode se candidatar à certificação internacional CFA, de análise avançada de investimentos – como produtos de renda fixa e variável, derivativos e análise de demonstrações financeiras. No Brasil, essa certificação é responsabilidade da CFA Society Brazil.

Os temas abordados incluem padrões profissionais e éticos, economia, reportes financeiros e análises, finanças corporativas, investimentos em ações, renda fixa, derivativos, investimentos alternativos, gestão de portfólio e gestão de fortunas – cada tópico tem um peso diferente.

Essa certificação é dividida em três níveis de exames (Level I, Level II e Level III). Se passar por todas essas etapas, o candidato se torna um CFA Charterholder: o título atesta que é um profissional com sólido conhecimento de finanças, que pode trabalhar em diversas áreas do mercado financeiro.

Os exames são aplicados em junho (Level I a III) e dezembro (apenas Level I). O conteúdo exigido fica mais complexo conforme o candidato muda de nível. A CFA Society oferece material de estudo.

CIIA

A exemplo do CFA e do CFP, o CIIA é um certificado de distinção – ou seja, é uma camada adicional de aprofundamento de conhecimentos técnicos na área de investimentos. O exame é aplicado pela Certified International Investment Analyst (CIIA).

Novas certificações da Anbima

Para acompanhar a evolução dos mercados financeiro e de capitais, em março de 2024 a Anbima anunciou uma reformulação de suas certificações. A ideia é que elas tenham uma metodologia mais moderna, capaz de oferecer uma certificação mais alinhada às necessidades dos profissionais e do próprio mercado.

As novas certificações, válidas a partir de janeiro de 2026, são CPA (Certificado Profissional Anbima), C-Pro R (Certificado Profissional Anbima de Relacionamento) e C-Pro I (Certificado Profissional Anbima de Investimento).

A CPA será a certificação mais básica, que aborda os tipos de investimentos e outros produtos do mercado, com indicação para os profissionais de áreas comerciais – como prospecção de clientes, atendimento e suporte. Também voltado à área comercial, o C-Pro R vai envolver conhecimento mais aprofundado sobre os diferentes produtos de investimento, levando em conta os perfis dos investidores.

Já o O C-Pro I será um certificado mais técnico, desenhado para os profissionais que precisam de mais conhecimento sobre as estruturas dos produtos de investimento – a intenção é que possam elaborar carteiras recomendadas. A aprovação no CPA será pré-requisito para obtenção do C-Pro I.

A Anbima preparou uma fase de transição para a entrada em vigor das novas certificações. Nenhum profissional que tem hoje certificação CPA-10, CPA-20 ou CEA perderá sua qualificação ou terá que realizar um novo exame. Segundo a Anbima, para essas pessoas a transição será feita por meio de cursos de atualização, sem custos extras.   

Já os profissionais que não têm certificação da Anbima deverão fazer o exame para o CPA antes de se inscreverem para as novas certificações. Mas isso, apenar a partir de janeiro de 2026, quando as antigas certificações deixarem de ser válidas.  

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