![As Forças Armadas estão com a imagem na lama FORÇAS ARMADAS LAMA](https://media.gazetadopovo.com.br/2024/05/07112423/FOR%C3%87AS-ARMADAS-LAMA-1-960x540.jpg)
Só observo. No dia 2 de maio, o perfil do Ministério da Defesa no Twitter estufou o peito cheio de medalhas para dizer que as Forças Armadas estavam atuando, e atuando bem, no resgate aos afetados pela enchente no Rio Grande do Sul. “Efetivo ampliado de 335 para 626 militares, 45 viaturas, 12 embarcações, 5 aeronaves”. E se você acha esses números ridículos é porque eles são mesmo. Mas, como disse no comecinho do texto: só observo. E continuo observando.
Quatro dias mais tarde, o mesmo perfil publicou números atualizados. Agora vai, dois pontos: “3.406 militares, 243 embarcações, 16 aeronaves e 2.500 viaturas e equipamentos de engenharia (civis e militares)”. Tudo isso teria resultado no resgate de 46 mil pessoas. Mas antes que você se empolgue e bata continência para as Forças Armadas, deixe-me falar rapidamente da reação a essas publicações.
As reações ficaram entre a incredulidade e a acusação franca de que as Forças Armadas mentem. “Deixa a água baixar que aí vocês poderão fazer o que fazem de melhor: pintar meios-fios”, escreveu alguém e eu ri. “Mostre os vídeos”, pediram muitos, desconfiando dos números inflados. “Se fosse verdade eu daria os parabéns ao general Xandão”, disse outro e eu ri de novo. Mas sou um bobo-alegre e rio de qualquer coisa mesmo. Desculpe, ministro Múcio.
De volta ao doce ofício de observar, noto que os poucos comentários elogiosos à atuação das Forças Armadas vêm da esquerda estatólatra, para a qual os números oficiais valem mais do que a realidade – em qualquer situação. “Mas quando foi que a esquerda, eterna viúva dos porões da ditadura militar, começou a defender, apoiar e idolatrar as Forças Armadas?”, pergunto um tanto quanto debilmente ao observar esse até então improvável caso de amor. A pergunta é retórica, claro.
Vida mansa a soldo gordo
E pensar que durante muito tempo as Forças Armadas foram a instituição mais amada, idolatrada, salve!, salve! desta República fundada por marechais. Uma República cuja história foi marcada pelo tenentismo, lá nas décadas de 1920 e 1930, e pela ditadura/regime militar de 1964 a 1985 – período que a esquerda considera sua versão particular de nazismo, como já escreveu muito bem alguém.
Apesar da intensa campanha de difamação dos militares nas últimas décadas, as Forças Armadas sempre contaram com a admiração, ora discreta, ora exacerbada, daqueles que viam na instituição uma garantia natural da lei e da ordem. E não estou falando de golpe de Estado nem nada. Estou falando de uma confiança que fazia parte do imaginário. Aliás, outro dia revi “Os Trapalhões em Serra Pelada” e adivinha quem salva nossos heróis e a riqueza nacional? Sim, o outrora glorioso Exército de Caxias.
Mas aí veio aquele episódio que no livro de história que jamais escreverei será chamado de A Grande Perfídia – quando militares prenderam até crianças e idosos que se manifestavam pacificamente diante de um quartel. Aí vieram a submissão ao ex-presidiário-em-chefe, a continência para Maduro, o “não existe comunismo no Brasil” do presidente do STM e, mais recentemente, a rendição aos instintos autoritários de Alexandre de Moraes.
Deu no que deu: a despeito daqueles que ainda honram a farda (sim, eles existem!), as Forças Armadas são hoje sinônimo de vida mansa a soldo gordo, de saudosismo, de alguma-coisa-a-ver-com-positivismo, de incompetência e derrota certa numa eventual guerra. Em suma, de desonra – que é o que de pior poderia acontecer às Forças Armadas de um país. Aí você arregala os olhos e eu pergunto: por que esse seu espanto agora? Não é assim com tudo o que a esquerda toca? Veja o que aconteceu com a autoridade moral do cargo de Presidente. Veja o que aconteceu com o Supremo Tribunal Federal.
Como Celso Amorim costurou a reaproximação do Brasil com Maduro e outras ditaduras
Homens encapuzados sequestram líder da oposição venezuelana em Caracas
Caso da Venezuela mostra que voto impresso auditável não basta para garantir lisura
Conheça as organizações de esquerda no Brasil que parabenizaram Maduro por “vitória”
Deixe sua opinião