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Ex-PRF, Silvinei Vasques, segue preso na Papuda, desde agosto de 2023.
Silvinei Vasques está preso há 337 dias ou há 11 meses e 2 dias, sem denúncia pelos fatos;| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad

No aniversário dos atos de 8 de janeiro deste ano, a CNN revelou que havia pelo menos 32 pessoas presas preventivamente sem denúncia pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão preventiva sem denúncia é uma das maiores e mais graves ilegalidades que podem ser cometidas pelo Judiciário contra qualquer cidadão, já que priva a pessoa de liberdade ao mesmo tempo em que a impede de saber até mesmo de qual crime ela está sendo acusada.

O art. 312 do Código de Processo Penal dispõe que a prisão preventiva só pode ser decretada se houver, entre outras exigências, a prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Esses são todos os requisitos exigidos para a apresentação de uma denúncia (acusação formal) pelo Ministério Público. Se até agora não há denúncia contra nenhuma dessas pessoas, então quer dizer que não há provas contra elas nem para acusar e nem para prender, tornando as prisões preventivas ilegais. Há ainda outra ilegalidade: o prazo legal para a apresentação da denúncia no caso de investigados presos preventivamente é de 35 dias.

O que está acontecendo no gabinete do ministro Alexandre e no Supremo em geral é uma violação sistemática dos direitos humanos e direitos fundamentais garantidos a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição

A Lava Jato, com toda sua complexidade, com toda a gravidade dos crimes, jamais manteve pessoas presas para além de 35 dias sem denúncia, porque isso é insustentável. É errado, é injusto, é absurdo, é bárbaro, é uma aberração. Além de prejudicar a defesa que não sabe qual é a acusação sobre o preso, antecipa a execução da pena de alguém sem que existam provas de que ela de fato praticou crimes – se houvesse, estaria denunciada. É rasgar a Constituição.

Se a Lava Jato fizesse isso com algum réu, seria solto imediatamente pelos tribunais. Se o réu não levasse seu caso aos tribunais e permanecesse preso, isso viraria um escândalo e todos nós da operação responderíamos perante as Corregedorias por infração funcional e perante a Justiça por crime de abuso de autoridade. Contudo, Moraes faz isso sistematicamente, em larga escala e de forma impune. Isso não é menos errado porque acontece no STF – pelo contrário, é mais grave, pois não há a quem recorrer.

Fiz uma pesquisa em fontes abertas na internet para levantar e compilar quais são os casos públicos de presos preventivamente sem denúncia. Considerando o levantamento da CNN, há pelo menos outros 28 casos que não são conhecidos e que se encontram na caixa-preta de Alexandre de Moraes. A Gazeta do Povo tem feito um importante trabalho de expor casos individuais em que os abusos de Alexandre de Moraes são flagrantes, alguns deles listados abaixo. Vamos lá:

Os senadores precisam se mexer com urgência para abrir, de uma vez por todas, a caixa-preta das prisões preventivas ilegais de Alexandre de Moraes

Além desses cinco casos, que são públicos, é preciso saber se todos os outros 28 casos de prisão preventiva sem denúncia reportados pela CNN no início do ano continuam na mesma situação, o que é praticamente impossível enquanto Moraes continuar escondendo suas decisões e dificultando o acesso das defesas aos autos. O que tem aí de mais sigiloso do que tinha na Lava Jato? Naquela operação, após as buscas e operações, tudo era publicizado para que a sociedade pudesse fiscalizar. Moraes é infiscalizável? Ele é supremo também em relação à sociedade?

A falta de transparência é gravíssima: todos os processos são, em geral, físicos, forçando réus e investigados a contratarem advogados caríssimos em Brasília para obter acesso aos autos, o que pode ser ainda negado pelo ministro. Toda a sociedade, todos nós não sabemos o que Moraes está fazendo. Ele coloca sobre si um sigilo de ferro, coisa de ditadura. Dezenas de advogados reclamam, até hoje, de dificuldades em ter acesso aos autos, enquanto a OAB se finge de morta. É a verdadeira venezuelização do processo penal.

Além desses cinco casos, há ainda outros casos conhecidos de pessoas que ficaram meses ou anos presas pela PGR sem denúncia, mas que tiveram suas prisões substituídas por medidas cautelares pelo ministro Alexandre de Moraes ou que foram objeto de denúncia tardiamente pela PGR. Algumas dessas pessoas são:

Esses são apenas os casos que consegui levantar a partir de uma pesquisa pública em fontes abertas na internet, sendo que o levantamento da CNN indica que existem, pelo menos, outros 28 casos similares que não tiveram a exposição pública adequada. Mesmo sem fazer nada parecido com o que Moraes faz, a Lava Jato foi acusada pelos ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli  de ser palco de “tortura” e um “pau de arara do século XXI”. Agora abusos contra direitos humanos realmente graves e comprovados são feitos, debaixo do manto do sigilo e sem haver a quem recorrer.

A pergunta a ser feita depois desse levantamento é: o que o Senado vai fazer? O Senado é o único órgão em toda a República brasileira que tem o poder de fiscalizar os ministros do STF. Os senadores precisam se mexer com urgência para abrir, de uma vez por todas, a caixa-preta das prisões preventivas ilegais de Alexandre de Moraes. O que está acontecendo no gabinete do ministro Alexandre e no Supremo, em geral, não é nada mais, nada menos, do que uma violação sistemática dos direitos humanos e direitos fundamentais garantidos a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição.

Diante de tantos casos com abusos comprovados, o Senado vai permanecer inerte?

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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