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Gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) se compromete a entregar a linha 6-laranja do metrô até o fim desta gestão.
Gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) se compromete a entregar a linha 6-laranja do metrô até o fim desta gestão.| Foto: Francisco Cepeda/Governo de São Paulo

A entrega da linha 6-laranja do metrô de São Paulo, que ligará a zona norte ao centro da capital, pode ser adiada mais uma vez. Relatório de uma consultoria independente, contratada pela concessionária Linha Uni, responsável pela obra e futura operação, indicou que, devido a dificuldades geológicas, a conclusão pode demorar até três anos mais do que a data prevista de entrega, que era 2026.

Além disso, a consultoria informou que será necessário um acréscimo de R$ 230 milhões no orçamento, totalizando R$ 18,5 bilhões em valores atualizados. A Linha Uni apontou problemas na escavação. "A obra está sendo impactada em seu cronograma com os atrasos na construção de algumas estações, devido a problemas encontrados durante a sua construção, que não foram previstos nos estudos de geologia durante os levantamos prévios executados para a preparação do edital de licitação", diz o documento.

Com 15,3 quilômetros de extensão e 15 estações, a linha 6 do metrô de São Paulo estima atendimento para cerca de 600 mil passageiros por dia, de acordo com a gestão estadual.

Secretário mantém cronograma de entrega da linha 6 do metrô para 2026

O secretário executivo de Parcerias em Investimentos de São Paulo, André Barnabé, destacou duas dificuldades nas obras da linha 6: um sítio arqueológico na região e problemas geológicos. “Temos um grande sítio arqueológico que passou por desafios de resgate. Já fizemos resgate em duas áreas e aguardamos autorização para as outras três. Isso é comum em obras que envolvem escavação e não vai atrasar a entrega”, afirmou.

Foi realizado um estudo de solo a cada 50 metros antes do início das obras. Segundo Barnabé, essas prospecções não identificaram todas as dificuldades do solo. “Na estação Higienópolis-Mackenzie, o solo se comportou de forma diferente do previsto. A prospecção a cada 50 metros tem limites de precisão, e nada é tão assertivo quanto a escavação a 70 metros de profundidade. No contrato com a concessionária há uma verba para incidentes dessa natureza, que não foram inicialmente previsto, mas é bastante comum em escavações”, assegurou ele.

O secretário também disse que o acréscimo de R$ 230 milhões para o empreendimento estava previsto em contrato. “Uma certificadora independente apresentou um parecer sobre os custos não previstos inicialmente, que serão pagos pelo estado”.

Barnabé prometeu que não haverá atraso de três anos. “Esse prazo de 1.096 dias é o limite que a concessionária pode atrasar sem penalidades, mas não necessariamente ocorrerá. Aprovamos um cronograma acelerado de obras. A concessionária também tem interesse em acelerar, pois começará a gerar receita com a operação”, disse ele.

O secretário estima a linha 6 do metrô operando parcialmente em outubro de 2026. “O cronograma prevê operação até a estação Perdizes [9 estações] em outubro de 2026, e a linha completa até São Joaquim [mais 8 estações] até outubro de 2027.” Ele também destacou a entrega do monotrilho (linha 17) e a extensão da linha 2 (com oito novas estações) até o fim do mandato do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Em nota, a concessionária reconheceu as dificuldades do projeto da linha 6 do metrô. “Com o avanço das obras foi possível identificar ainda mais variações frente ao esperado, sendo que estas variações exigiram modificações no projeto executivo que levaram a implementação de serviços adicionais para solucionar estes eventos geotecnológicos não previstos”.

A Linha Uni reitera o compromisso da entrega parcial da linha 6 para 2026. “A concessionária Linha Universidade permanece comprometida com a segurança e a qualidade do projeto, trabalhando para entregar a Linha 6 dentro das expectativas de prazo: parcialmente até o final de 2026, e totalmente concluída até 2027”.

Especialista critica falta de detalhamento na obra

Ciro Biderman, professor e diretor do programa de Cidades da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressaltou que, embora surpresas possam surgir mesmo com estudos preliminares, é fundamental detalhar o motivo do atraso. "Apesar dos estudos a cada 50 metros, ao iniciar a escavação, pode-se encontrar uma rocha que necessite de tratamento especial e que não poderia ser prevista. Não sei se é uma desculpa, mas certamente precisamos de mais detalhes sobre o que foi encontrado para justificar o atraso. Se anunciaram três anos de atraso, vão usar esses três anos", opina.

Biderman também destacou a necessidade de considerar alternativas de transporte coletivo mais econômicas. "A linha 6 custará cerca de R$ 18,5 bilhões para 15 quilômetros de extensão, o que equivale a US$ 250 milhões por quilômetro. Infelizmente, esse é o custo. A média do custo do metrô varia de US$ 100 a 300 milhões por quilômetro. A diferença de custo entre o metrô e outros modais é enorme. Embora o metrô ofereça um serviço melhor, é muito caro. Precisamos questionar se o metrô é a única solução."

Obra da linha 6 acumula 12 anos e cratera em obra

A linha 6 do metrô paulista foi lançada pelo ex-governador José Serra (PSDB) em 2008, como parte do programa "Expansão SP", que visava ter 400 quilômetros de metrô no estado até a Copa do Mundo de 2014. A obra começou apenas sete anos depois e passou por sete governadores. O prazo inicial para a entrega da linha era 2012, mas até hoje nenhum trecho foi inaugurado.

A obra enfrentou cancelamentos de contratos e desmoronamentos. Em 2022, uma cratera se abriu na Marginal Tietê, uma das principais vias da cidade, sem deixar feridos. A construção foi viabilizada por uma parceria público-privada (PPP) com o consórcio Move São Paulo, formado pelas construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC Engenharia e um fundo financeiro.

Em 2016, apenas um ano após o início das obras, a operação Lava Jato atingiu as construtoras do consórcio Move São Paulo. O grupo alegou não ter os R$ 5,5 bilhões necessários para continuar a construção, o aque resultou na paralisação da obra.

Um novo contrato foi assinado em 2020. O grupo espanhol Acciona adquiriu os direitos do Move São Paulo, assumindo a responsabilidade pela construção e gerenciamento da linha 6 do metrô por 20 anos. A Acciona agora opera como Linha Uni. A obra, então prevista para ser concluída em 2018, teve o prazo adiado para 2020, depois 2025, e então 2026.

O deslocamento por transporte público entre a zona norte e o centro da capital paulista deve ser reduzido de 1h30, em média, para 23 minutos, quando a linha estiver totalmente operacional, de acordo com o Executivo estadual.

A linha 6-laranja vai ligar as estações Brasilândia, na zona norte, e São Joaquim, no centro, e também terá integração com as linhas 1-Azul, 4-Amarela, 7-Rubi e 8-Diamante. Em funcionamento, vai atender à população das regiões de Brasilândia, Freguesia do Ó, Lapa, Pompeia, Pacaembu, Higienópolis, Consolação e Liberdade.

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