Voz da inclusão

por Feapaes-ES

Menininha bonitinha com bichinho de pelúcia

Autismo

Pesquisa aponta relação entre TEA e microbiota intestinal

A pesquisa pode contribuir para novas formas de diagnosticação

Pesquisas indicam que crianças com transtorno do espectro autista (TEA) podem apresentar alterações específicas na microbiota intestinal associadas à condição. Essas alterações envolvem a presença de microrganismos de pelo menos quatro grupos diferentes, resultando em um quadro conhecido como disbiose, ou desequilíbrio da microbiota intestinal, o que pode agravar os sintomas do autismo.

Os achados da pesquisa, publicados no início de julho na revista Nature Microbiology, do grupo Nature, são coordenados por Siew Ng, professora do departamento de medicina e terapêutica da Universidade Chinesa de Hong Kong e diretora do Centro I de Microbiota (MagIC) da mesma universidade. Esses resultados podem contribuir para o desenvolvimento de novas ferramentas diagnósticas para o autismo e para uma melhor compreensão de como as mudanças fisiológicas intestinais afetam o sistema nervoso cerebral.

Embora já existissem estudos correlacionando a disbiose com o TEA, a maioria se concentrava em análises de um único grupo de microrganismos, como bactérias. Este estudo utilizou uma abordagem mais abrangente, empregando a técnica de metagenômica para analisar amostras fecais de 1.627 crianças, com ou sem autismo, de cinco diferentes grupos de estudo. A metagenômica permite a detecção de fragmentos genéticos de todos os organismos presentes em uma amostra, incluindo humanos, resultando em uma base de dados de mais de 10 terabytes.

Para o grupo controle, foram avaliadas 196 crianças sem autismo, mas com outros transtornos que também apresentam alterações intestinais, sendo 118 com TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) e 78 com dermatite atópica. Nas amostras de crianças com TEA foram identificadas 51 bactérias, 18 vírus, 7 fungos e 14 archaea, além de 27 genes de microrganismos e 12 alterações em cadeias metabólicas.

Os autores do estudo discutem a possibilidade de que a disbiose associada ao autismo possa ser influenciada por preferências alimentares, mas observaram que algumas alterações persistem mesmo após mudanças na dieta das crianças com TEA. A inclusão de crianças com TDAH e dermatite atópica no estudo permitiu a detecção de diferentes grupos de microrganismos, sugerindo especificidades entre as alterações da microbiota associadas ao TEA e outras condições.

Os resultados do estudo indicam um painel específico de microrganismos em crianças com autismo, o que pode auxiliar no diagnóstico não invasivo. A utilização de um modelo de inteligência artificial mostrou que a presença de um desses microrganismos esteve associada ao diagnóstico de autismo em 91% dos casos, superando a acurácia de 68% a 87% em modelos que usavam apenas um microrganismo como preditor de TEA. Essa abordagem pode aprimorar a detecção precoce do autismo em crianças pequenas e contribuir para a compreensão dos mecanismos entre o autismo e as alterações da microbiota intestinal.