Em funcionamento há quase quatro anos, o sistema brasileiro de transferência financeira instantânea, o Pix, é, sem dúvidas, uma das maiores inovações do mercado. Bate recorde sucessivos de transações e é reconhecido internacionalmente por suas vantagens, como agilidade nos pagamentos e inclusão financeira. Não faltam também desafios para manter esse status – e garantir a segurança aos usuários é o principal deles.
Mal acab

ou de comemorar um número inédito do Pix – na última sexta-feira, foram registradas 224,2 milhões de transações com a modalidade em um único dia, movimentando o valor recorde de R$ 119,4 bilhões –, o Banco Central anunciou mais um vazamento de dados – o sexto do ano. Desta vez, quase 40 mil chaves de clientes da 99Pay Instituição de Pagamento S.A foram expostas. São 11 comunicados desde o lançamento da modalidade. Mais da metade deles, portanto, conhecidos nos últimos sete meses, sinalizando a necessidade de um fortalecimento constante de medidas de segurança.


No caso mais recente, o BC informou, ontem, que não foram expostos dados sensíveis, como senhas ou movimentações financeiras, apenas informações cadastrais dos usuários. Ainda assim, não se garante tranquilidade. Segundo especialistas, a chave Pix é, geralmente, o CPF/CNPJ, o celular ou um e-mail, e essas informações podem ser suficientes para a abertura de uma conta ou a emissão de um boleto falso.


Além de prejuízos aos usuários, os casos recorrentes de vazamento de dados tensionam atrativos da modalidade de pagamento instantâneo. Um deles é a inclusão. O Pix permitiu que pessoas que não tinham acesso a serviços bancários pudessem começar a fazer transações financeiras – essa realidade passou a fazer parte da vida de mais de 71 milhões de brasileiros, calcula o BC. Nesse universo de novos clientes, há muitos sem familiaridade com o mundo virtual e suas constantes inovações, o que os transforma em presas fáceis para os crimes cibernéticos.


Outra vantagem atribuída ao Pix é a possibilidade de maior controle nas relações financeiras, com recursos tecnológicos que aprimoram a segurança. Como todas as operações são rastreáveis, por exemplo, facilita-se a identificação de atividades suspeitas. Há também a expectativa de redução da circulação do dinheiro em espécie e, consequentemente, de crimes para subtraí-lo, como as famosas “saidinhas de banco”.


O que não se pode, porém, é transferir esse cenário de tensão e incertezas para as transações digitais. Nem repassar a conta pela salvaguarda das movimentações financeiras para os usuários. Empresas participantes do sistema Pix precisam ser mais proativas no enfrentamento do problema, aprimorando constantemente seus modelos de prevenção e detecção de fraudes.


Há de se destacar que, em setembro, o Banco Central endureceu as penas para as instituições financeiras em casos de vazamento de dados do Pix. O cálculo das multas passou a ser proporcional ao número de chaves afetadas – ou seja, quanto maior o vazamento, maior o valor da punição. Antes, considerava-se o tipo de instituição e o percentual do total de transações no sistema de pagamentos.


A medida adotada pela autarquia, porém, destoa do aumento na frequência de vazamentos neste ano. Fica claro, portanto, que há uma necessidade de vigilância rigorosa e constante do sistema de transação financeira instantânea. Principalmente porque novas funcionalidades, como o Pix com cartão de crédito e o pagamento por aproximação, tendem a deixar a ferramenta ainda mais popular.