Salvador e RMS registram 248 mortes em ações policiais no primeiro semestre de 2024

Número é 20% maior do que no primeiro semestre de 2023; família de funcionário terceirizado da Embasa acusa policiais de execução; relembre outros casos

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Publicado em 11 de julho de 2024 às 16:48

Protesto pela morte de Welson Figueiredo Macedo
Protesto pela morte de Welson Figueiredo Macedo Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

Casos como o do funcionário terceirizado da Embasa, Welson Figueiredo Macedo, 28 anos, em que há mortes em meio a intervenções policiais não são pontuais em Salvador e Região Metropolitana (RMS). Na verdade, em 2024, há centenas de registros fatais em incursões policiais na capital.

De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência na região, entre 1º de janeiro e 30 de junho deste ano, foram mapeadas 248 mortes. O instituto identificou ainda 349 tiroteios em ações e operações policiais, que deixaram ainda 61 pessoas feridas.

De 1º de janeiro a 30 de junho de 2023, ainda segundo o Fogo Cruzado, foram registrados em Salvador e região metropolitana 285 tiroteios em ações/ operações policiais, que resultaram na morte de 205 pessoas e deixaram 45 pessoas feridas - o número de mortes em 2024 é 20,9% maior do que o computado no mesmo período de 2023.

Os tiroteios, de maneira geral, se dão em contexto de disputa entre organizações criminosas, onde a polícia enfrenta suspeitos armados. No entanto, casos como o de Welson, em que famílias apontam erros em ações que acabam em mortes de pessoas que podem ser inocentes, ganharam repercussão na capital.

Há três semanas, uma família denunciou a execução do estudante Kauan Santiago dos Santos, de 16 anos. A mãe do jovem, que preferiu ter seu nome preservado por questão de segurança, contou à reportagem que Kauan estava na porta da casa do pai quando PMs chegaram atirando. Em nota, a PM disse que, na noite da morte de Kauan, policiais militares da 23ª Companhia Independente da PM localizaram um grupo de homens armados e entraram em confronto, vitimando um deles.

Um outro caso em que uma família acusa policiais de executarem um inocente foi registrado em junho no bairro do Lobato. Familiares de Joeilton de Jesus Barreto, 31 anos, afirmaram que ele foi morto pelas costas dentro da própria casa no dia 11 de junho. Já a PM, informou que ele teria confrontado agentes e, após isso, policiais do Batalhão Patamo encontraram ele baleado. Essa versão é contestada por pessoas próximas a Joeilton, que morreu mesmo após ser levado para o hospital.

Em fevereiro, duas famílias acusaram PMs de matarem jovens no bairro de Santa Mônica e em Alto de Coutos em um sábado (25). Os parentes de Robson Ramos da Conceição, 27 anos, e do adolescente Raí Conceição Silva, 15, disseram que eles foram executados. Nos dois casos, os familiares das vítimas afirmam que policiais chegaram atirando, surpreendendo quem estava no meio do caminho.

Os dados de Salvador acompanham uma alta que está presente no estado. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ) computou que, de janeiro a maio deste ano, foram 726 mortes por intervenção policial na Bahia, estado com mais casos em todo o território nacional. Os registros fazem com que a Bahia tenha, em média, cinco mortes por dia em ações policiais, o que representa um aumento de 12,56% em relação ao que se teve no mesmo período de 2023.

O MJ ainda não tem em seu sistema os dados referentes a junho. Os números do Ministério são enviados, consolidados e homologados pelos estados da federação. Entre os estados que, assim como a Bahia, divulgaram os dados de mortes em ações policiais de janeiro a maio, Pará e Goiás fecham os três estados com mais registro com 245 e 181 mortes, respectivamente.

Sobre o caso de Welson, em específico, a PM informou que a Corregedoria instaurou uma investigação para apurar as circunstâncias da ocorrência na noite de terça-feira (9) em Castelo Branco. Já a Polícia Civil informou que todos os casos de morte decorrente de intervenção policial são apurados.

Ainda segundo a PC, testemunhas, familiares e os policiais envolvidos serão ouvidos, e laudos periciais do Departamento de Polícia Técnica (DPT) também auxiliarão na investigação.