As cidades latino-americanas ainda estão entre as mais violentas do mundo

Camaçari, Feira de Santana e Salvador; Macapá (AP); e Caucaia (CE) são particularmente violentas

Publicado em 11 de julho de 2024 às 05:00

As cidades são espelhos do progresso das nações: quando prosperam, seus países também prosperam; quando são frágeis, enfrentam quedas na qualidade de vida e investimentos estrangeiros. A violência criminal, especialmente homicídios, é um indicador crucial dessa fragilidade. Desde 2015, o Monitor de Homicídios do Instituto Igarapé é uma das principais fontes globais de dados de homicídios. Em 2023, América Latina e Caribe abrigaram 43 das 50 cidades mais violentas do mundo, destacando Brasil, México e Colômbia como epicentros do crime organizado. Essas descobertas mostram que a região continua sendo uma área crítica que necessita de intervenções abrangentes e eficazes.

Durán, no Equador, foi a cidade mais violenta do mundo em 2023, com uma taxa de homicídios de 148 por 100.000 habitantes. A violência em cidades equatorianas aumentou devido à guerra das drogas, elevando a taxa nacional de homicídios de 5,7 em 2018 para 45,1 em 2023. Em contraste, El Salvador, Honduras e Venezuela reduziram significativamente suas taxas de homicídios. El Salvador diminuiu a violência em mais de 70% em 2023, após as polêmicas medidas de repressão ao crime. San Pedro Sula, em Honduras, saiu do top 100 das cidades mais violentas, com uma taxa de 25,8 por 100.000 habitantes. Caracas foi a única cidade venezuelana no top 50 em 2023, comparado a 11 em 2021.

Embora o Brasil tenha tido 13 cidades no top 50 em 2023, uma melhora em comparação com as 30 registradas em 2015, ainda registrou o maior número absoluto de assassinatos do mundo, com 47.052 e uma taxa de 23,1 por 100.000 habitantes. Camaçari, Feira de Santana e Salvador (todas na Bahia); Macapá (Amapá); e Caucaia (Ceará) são particularmente violentas, com taxas superiores a 66 por 100.000. Apesar da diminuição da taxa nacional de homicídios desde 2017, ela está aumentando em partes da Amazônia e do nordeste, impulsionada pelo tráfico de cocaína e disputas entre gangues.

Nelson Mandela Bay, na África do Sul, registrou a segunda maior taxa de homicídios do mundo em 2023, com 102 por 100.000 habitantes. Outras cidades sul-africanas, como Durban, Cidade do Cabo e Joanesburgo também estão entre as mais violentas, refletindo a desigualdade, o desemprego e a impunidade. Nos EUA, embora os homicídios tenham diminuído em mais de 30 cidades, sete áreas metropolitanas, incluindo Memphis, Nova Orleans, St. Louis, Baltimore, Detroit e Washington D.C. ainda enfrentam altos níveis de violência letal. No México, com 11 cidades no top 50 em 2023 comparado a três em 2015. Cidades como Cajeme, Tijuana e Celaya aparecem regularmente na lista das mais violentas, com mais de 30.000 homicídios anuais nos últimos seis anos.

Na Colômbia, apesar das reduções em Medellín e Cali, ainda há entre duas e quatro cidades no top 50 desde 2017. A segurança se deteriora em cidades intermediárias como Sincelejo e na costa do Pacífico, com Buenaventura e Tumaco enfrentando graves problemas de tráfico de drogas. A expansão de gangues criminosas armadas e redes de tráfico de drogas e armas no Caribe resultou em uma taxa de homicídios três vezes maior que a média mundial. Em 2023, Kingston na Jamaica e Porto Príncipe no Haiti foram classificadas como a 20ª e 15ª cidades mais violentas, respectivamente.

A falta de dados desagregados a nível de cidade em muitos países da África e da Ásia frustra a comparação, necessitando maior transparência e investimento na coleta de dados. Países afetados por guerras frequentemente não têm uma coleta de dados robusta, dependendo de fontes fragmentadas. O foco na violência letal urbana pode fornecer um modelo para a ação, revelando a concentração de homicídios e indicando onde priorizar respostas abrangentes. As mudanças temporais na violência letal mostram que altas taxas de homicídios não são permanentes e que boas políticas podem melhorar situações desesperadoras.