A nova matriz bioeconômica no foco das ações de mitigação das mudanças climáticas

Voltar para Notícias

Frequentemente descrito como um dos países com a maior biodiversidade do planeta, o Brasil engloba em seu território biomas tão distintos como a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica ou a Amazônia. Justamente por isso, temos uma responsabilidade diferenciada no combate às mudanças climáticas globais e de assegurar que a temperatura do planeta não ultrapasse os 1.5 graus celsius.

Apenas recentemente, quando a emergência climática surge na pauta do mundo inteiro como prioridade, começamos realmente a compreender a biodiversidade como um ativo, uma riqueza a ser preservada. É ainda recente a noção de que nossos biomas podem ser mais valiosos vivos e bem cuidados do que quando explorados indiscriminadamente.

Preservar a biodiversidade, no entanto, passa necessariamente por assegurar não apenas a diversidade biológica, mas também a cultural e a social. São esses os fatores que compõem a equação da bioeconomia, uma nova matriz através da qual se pode promover a transição para modelos econômicos de baixo carbono e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas globais de maneira justa e competitiva, valorizando as populações e os saberes tradicionais.

De acordo com dados do World Resources Institute (WRI), se o desmatamento da Floresta Tropical fosse um país, ele seria o terceiro maior emissor de dióxido de carbono da Terra. Além disso, as florestas funcionam como sumidouros de carbono, removendo da atmosfera cerca de 20% das emissões globais a cada ano.

Mudanças no uso do solo representam quase metade das emissões de gases de efeito estufa do Brasil e cerca de 80% desse valor é resultado do desmatamento na Amazônia para atividades agroindustriais.  O modelo econômico atual da região é fortemente dependente da exploração dos recursos naturais, um ciclo no qual o desmatamento persiste e se intensifica.

Na perspectiva da bioeconomia, o cenário se abre para negócios agroflorestais sustentáveis, com o estudo e uso de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias emergindo como uma nova fronteira da biotecnologia e alcançando a indústria alimentícia, a produção de fármacos, de bioinsumos para vacinas, cosméticos, substratos para pesquisas epidemiológicas, entre muitos outros setores.

Com a bioeconomia, agricultores familiares e comunidades tradicionais ganham oportunidades de construção de mercados e geração de renda. São eles que produzem o chocolate orgânico, a geleia de cumaru, o caramelo da Caatinga, o creme de jambu, a baunilha do Cerrado e outros produtos locais e exclusivos capazes de alcançar alto valor agregado.

É possível atuar em uma escala muito maior. A Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) estima que, apenas na Amazônia, a bioeconomia tem a possibilidade de gerar US$ 284 bilhões por ano até 2050. Fica evidente, desta forma, o quanto se perde com as ações de desmatamento ilegal.

As florestas tropicais podem fornecer 23% da mitigação climática de baixo custo até 2030, mas recebem apenas 3% do financiamento global disponível, segundo o WRI. O número mostra a necessidade urgente de mudança de foco para a meta de desmatamento zero e para a promoção imediata da matriz bioeconômica, pois a partir delas será possível operacionalizar os instrumentos financeiros como mecanismos de redução de riscos, fundos de investimentos de impacto, além de direcionar as linhas de crédito rural que promovam atividades sustentáveis.

Que o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas seja uma data não apenas de reflexão, mas principalmente de ação e de trabalho por um futuro socialmente e economicamente sustentável, que valorize os recursos naturais e a diversidade da vida do Brasil e do planeta.

Barbara Brakarz – Diretora Executiva do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus)

Bárbara é cientista política pela Universidade de Maryland (EUA) e mestra em Relações Internacionais pela Universidade George Washington (EUA).