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    Pães de forma com álcool: Anvisa abre processo para avaliar medidas

    Análise da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor encontrou altas concentrações de álcool em pães de forma populares

    Guilherme Gamada CNN São Paulo

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu, nesta quinta-feira (11), um processo para subsidiará possíveis medidas a serem adotadas no caso das marcas de pães de formar com alto teor alcoólico. A ação ocorre após a divulgação da análise da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, conhecida como Proteste, nesta quarta-feira (10), que apontou oito marcas de pães com concentrações de álcool com que “ultrapassam limites aceitáveis de consumo”.

    Três marcas frequentes nas prateleiras de supermercados (Visconti, Bauducco e Wickbold 5 zeros) tiveram resultados que, segundo a Proteste, com apenas duas fatias, podem aparecer num teste de bafômetro. A Anvisa teve conhecimento dos resultados do estudo e entende que medidas devem ser adotadas apenas se consideradas necessárias pelo órgão.

    Pesquisa aponta alto teor de álcool em pães de forma

    O estudo avaliou 10 marcas. Apenas essas duas últimas foram aprovadas em todos os testes de identificação de teor alcoólico: Plusvita e Pullman. Já nos pães da Visconti, Bauducco, Wickbold 5 zeros, Wickbold Sem Glúten, Wickbold Leve, Panco, Seven Boys, Wickbold, foram encontradas altas porções da substância.

    Se os pães fossem considerados bebidas, seis seriam considerados alcoólicos pela legislação que determina que teor máximo de etanol é de 0,5%. A Visconti apresentou resultado mais de seis vezes maior. Segundo a Proteste, as marcas deveriam conter o aviso “contém álcool”.

    • Visconti 3,37%
    • Bauducco 1,17%
    • Wickbold Sem Glúten 0,89%
    • Wickbold Leve 0,52%
    • Panco 0,51%

    A análise aponta ainda que se os produtos Visconti, Bauducco, Wickbold 5 zeros, Wickbold Sem Glúten, Wickbold Leve, Panco, Seven Boys e Wickbold fossem medicamentos fitoterápicos, estariam sujeitos a advertência alcoólica, caso houvesse uma legislação similar a categoria. Os níveis ultrapassam a dose de álcool permitida para crianças.

    Por que tem álcool no pão?

    A fabricação de pães envolve a formação de álcool etílico, que geralmente evapora no forno. Os níveis encontrados na análise ocorrem porque indústrias diluem conservantes na substância para evitar o mofo e garantir a integridade do pão, argumenta a entidade.

    “Embora a legislação brasileira permita o uso de algumas substâncias nos alimentos, é necessário que algumas normas sejam revistas para assegurar que o etanol residual não cause problemas aos consumidores”, destaca Henrique Lian, diretor-executivo da Proteste.

    A pesquisa alerta para a busca por um consumo consciente. Em entrevista à CNN, a nutricionista do Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP) de  Ribeirão Preto (SP), afirma que a população deve se atentar aos ingredientes contidos nos alimentos: “Quanto menor a quantidade de aditivos alimentares, nos produtos industrializados teremos mais consciência do que estamos realmente ingerindo”, afirma.

    Além da Anvisa, a Proteste enviou um ofício com os resultados do teste para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A CNN entrou em contato com a pasta e guarda retorno.

    A entendida sugere percentual máximo de álcool (por exemplo, 0,5% pelos balizadores apresentados no relatório) e a programação de ações de fiscalização quanto aos teores de agentes conservantes anti-mofo e o teor de álcool, após a regulamentação

    O que dizem as marcas

    Wickbold e Seven Boys

    O Grupo Wickbold, que detém a marca de mesmo nome e a Seven Boys, reforça que todas as receitas de produtos, assim como todas as áreas da empresa, seguem protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle, bem como cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas. Como a fabricante não foi notificada sobre o referido estudo e a metodologia utilizada, não é possível qualquer manifestação sobre ele. Contudo, após ter acesso ao mesmo e a metodologia empregada, poderá prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários, confirmando o legado de ética, transparência e respeito às pessoas que mantém há 86 anos.

    Bauducco e Visconti

    A Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, esclarece que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento. A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes.

    Priorizando a qualidade de seus produtos, a Pandurata respeita as Normas de Boas Práticas de Fabricação e destaca que seus cuidados começam com uma criteriosa seleção de fornecedores se estendendo por todas as etapas de produção.

    Pullman e Plusvita

    O Grupo Bimbo, detentor das marcas de pães Pullman e Plusvita no Brasil, esclarece e garante que não faz uso de álcool para conservação de suas receitas. A companhia reforça que segue comprometida com boas práticas de fabricação e há anos é pioneira na utilização de pasteurização que mantém a qualidade nutricional e segurança do alimento para todos os seus consumidores.

    CNN entrou em contato com a Panco e aguarda retorno.

    Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) se manifestou sobre o assunto.

    Veja o posicionamento da Abimapi na íntegra:

    Diante das recentes notícias veiculadas na mídia sobre o suposto teor alcoólico encontrado em pães de forma, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) reafirma seu compromisso com a qualidade e a segurança dos alimentos oferecidos à população brasileira.

    Em nome da transparência e responsabilidade da entidade com as indústrias e com os seus consumidores, a Abimapi ressalta que não concorda com as conclusões apresentadas no Relatório Técnico e Mercadológico divulgado pela Proteste – que publicou o estudo sem consultar o setor envolvido, causando forte temor popular – devido às inúmeras incoerências identificadas na análise em questão, tais como:

    1. Metodologia analítica:

    • Falta de metodologia: como não há uma metodologia oficial normatizada para ser utilizada como referência (matriz pão), gostaríamos de saber qual metodologia validada na base de pão de forma foi empregada nas análises – já que não há nenhum tipo de menção da metodologia empregada no documento. Foi mencionado apenas a técnica de análise e não uma metodologia acreditada por um órgão competente.
    • Amostragem: não foi relatada se houve repetibilidade e reprodutibilidade nas análises. Foram realizadas duas séries de análises com lotes diferentes, mas a primeira série não foi considerada devido à falta de segurança nos resultados. Resultados em lotes diferentes não significa duplicata de análise. A indústria não teve oportunidade de avaliar contraprovas, pois os lotes já estavam vencidos no momento da publicação.
    •  Dados distorcidos: foram apresentados Limites de Detecção para análise de álcool em pães de forma pelo Proteste; no entanto, muitos valores para diferentes marcas estavam abaixo desse limite. Como foram quantificados os valores abaixo do limite de detecção?
    •  Resultados comprometidos: não há evidências de que as análises foram realizadas em duplicidade, um procedimento crucial para garantir a veracidade dos resultados, o que compromete a representatividade analítica.

    2. Correlação crítica:

    • Normas não esclarecidas: na conclusão, a Proteste comparou seus resultados com valores descritos em legislações de bebidas alcoólicas, sem estabelecer relação do possível álcool presente em alimentos e o álcool das bebidas alcoólicas.
    • Conclusões incoerentes: os resultados do teor alcoólico nos pães de forma foram comparados com o teste de bafômetro, sem considerar a ingestão dos pães. A comparação foi feita apenas por uma regra de três, o que é inadequado.

    3. Transparência:

    • Dados sem referência temporal: não há menção da data da primeira análise, tampouco da data de validade dos produtos utilizados na amostra, dificultando a verificação da validade e atualidade dos resultados.
    • Referências questionáveis: alguns dos textos citados como referências ao longo da pesquisa não podem ser considerados confiáveis, uma vez que não apresentam detalhes das fontes mencionadas.
    • Assinatura do responsável: a pesquisa é assinada por um profissional que não apresenta o número de registro no CREA. A Abimapi entende que é vital que qualquer análise seja conduzida por um profissional ou entidade devidamente credenciado e autorizado pelos órgãos competentes.

    Por fim, a Abimapi reafirma seu compromisso com o público e segue à disposição para colaborar com as autoridades e os órgãos competentes, garantindo a máxima transparência e precisão das informações de seus produtos e processos.

    Pães de forma têm álcool detectável no bafômetro, aponta pesquisa