Seria absurdo que o Governo português não apoiasse um candidato nacional a um posto de relevo como o de presidente do Conselho Europeu. Isso criaria uma fricção desnecessária, além de impedir Portugal de beneficiar do frágil jogo de equilíbrios de Bruxelas.
É natural, por isso, que Montenegro tenha apoiado a decisão de Costa desde antes mesmo de a eleição ser possível. Porém, a adesão do primeiro-ministro a esta candidatura tem uma causa bem mais profunda. Na verdade, o atual chefe de governo de Portugal e o próximo líder da Europa têm enorme afinidade de personalidade e de pensamento, e preparam-se para corporizar uma aliança tácita que será benéfica para ambos, além de ser boa para o futuro imediato do País. De um lado, Luís Montenegro tem, seguramente, maior afinidade com o seu antecessor do que com a maioria dos estadistas europeus, Marcelo incluído. Do outro, Costa sente-se confortável com o estilo político do homem que lhe sucedeu no cargo. Provavelmente, lá bem no fundo, se Costa pudesse ter escolhido o novo ocupante de S. Bento talvez tivesse optado precisamente por Montenegro.
Com Marcelo a caminho do fim do mandato, Costa e Montenegro são a dupla que vai liderar a política nacional nos próximos anos. Pragmáticos, juntos podem reforçar o papel de Portugal na Europa.