Sem apoio na escola, moçambicano surdo leva 13 anos para cursar até a 6ª série

Sem apoio na escola, moçambicano surdo leva 13 anos para cursar até a 6ª série

O moçambicano Sousa Pinto Camanguira levou 13 anos para cursar até a 6ª série. Mas ele não tinha problemas de aprendizagem. Na verdade, era a escola é que tinha problemas para lidar com pessoas como ele.

Sousa é surdo. Ele não nasceu assim. Assim como seis em cada dez pessoas surdas em Moçambique, ele teve uma doença que provocou a perda de audição. No seu caso, isso ocorreu após uma meningite, quando ele tinha 6 anos.

Na escola, seu professor não sabia a linguagem de sinais. Em casa, Sousa não conseguia fazer as tarefas. "Era muito difícil. Todos saíam para trabalhar, estudar, e eu ficava em casa sozinho", conta ele, que, assim, repetiu cada série duas vezes e parou de estudar aos 18 anos.

Hoje, aos 40, ele trabalha como jornalista na TV Surdo, um programa de notícias em linguagem de sinais criado e dirigido por ele para leva informação a deficientes auditivos do país africano.

A inspiração veio em parte de sua experiência na infância. "Pedia para minha mãe explicar o que as pessoas falavam na TV. Ela dizia que faria isso mais tarde, e o mais tarde foi ficando para depois. Agora, nós temos um canal de televisão", afirma.

A redação é formada por oito jornalistas, sete deles surdos e um cadeirante. "Os repórteres saem e contam as histórias, o que acontece na cidade e no país, as oportunidades para os surdos", explica Sousa.

"Depois editamos, gravamos os textos, inserimos a linguagem dos sinais por meio da intérprete. Cada um tem um papel importante aqui."

A atração entrou no ar em fevereiro. Poucos meses depois, em setembro, a TV Surdo já estava na lista dos programas mais vistos aos domingos, ao lado de concorrentes brasileiros que caíram no gosto local, como Gugu, Domingo Espetacular e A Hora do Faro.

Ao mesmo tempo, Sousa tenta voltar a estudar e batalha por uma educação melhor para crianças como suas filhas, que são surdas.

"As crianças surdas precisam de oportunidades, queremos muito mais escolas e professores", diz.

“A educação inclusiva é um grande barco num rio. Precisamos estar todos juntos nele e compartilhar o caminho.”

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Reportagem e imagens: Amanda Rossi / Edição: Rafael Barifouse