Hungria: perfil da nação que foi do comunismo ao populismo de direita

Budapeste

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Legenda da foto, O rio Danúbio cruza o centro de Budapeste, com Peste ao leste e Buda a oeste

A história da Hungria tem sua origem há mais de mil anos, nos tempos das tribos magiares. Seminômades, elas chegaram à parte da Europa onde fica a atual Hungria no século 9, vindas do sul da Rússia e do Mar Negro.

Depois de séculos como um poderoso reino medieval, a Hungria tornou-se parte do Império Otomano e depois do Império Habsburgo, a partir do século 16, emergindo como uma nação independente apenas depois da Primeira Guerra Mundial (1914-18).

Integrada ao bloco comunista do Leste Europeu depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45), a Hungria permaneceria até 1989, como a República Popular da Hungria, na área de influência da União Soviética.

Em novembro de 1956, um movimento em favor de democracia foi violentamente reprimido por tropas soviéticas, após o Kremlin determinar a invasão do país e a substituição do governo húngaro por um grupo pró-Moscou.

Após o fim da chamada Cortina de Ferro, simbolizado pela queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, e o colapso da União Soviética, a Hungria virou-se para o Ocidente. Em 2004, tornou-se membro da União Europeia.

A partir de 2010, no entanto, com a chegada de Viktor Orbán ao posto de primeiro-ministro, o perfil de democracia liberal do país tem sido ameaçado por suas ações cada vez mais autoritárias.

Sem saída para o mar, a Hungria abriga em sua parte oeste do lago Balaton, um dos maiores do continente e o maior da Europa Central - área geográfica que inclui o país.

Lago Balaton

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Legenda da foto, O lago Balaton, na parte oeste do país, é um dos pontos turísticos da Hungria

Sua capital, Budapeste, desenvolveu-se a partir da antiga cidade romana de Aquincum, cujas ruínas permanecem parcialmente no local, a oeste do rio Danúbio.

Nas duas margens do Danúbio, desenvolveram-se comunidades independentes, Buda (oeste) e Peste (leste). Em 1873, as duas, além de Obuda, foram unificadas, formando Budapeste. A cidade foi uma das capitais do Império Áustro-Húngaro, desfeito ao final da Primeira Guerra.

FATOS

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Hungria

Capital: Budapeste

  • População9,8 milhões

  • Área91.260 quilômetros quadrados

  • Principal línguaHúngaro

  • Principal religiãoCristianismo

  • Expectativa de vida73 anos (homens), 79 anos (mulheres)

  • MoedaForinte (também chamada de florim húngaro)

Fontes: ONU, Banco Mundial

LÍDERES

Presidente: János Áder

János Áder

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Legenda da foto, O presidente János Áder, aliado do premiê Orbán, foi eleito para a função em 2012
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Advogado e membro do Parlamento Europeu pelo partido governista húngaro Fidesz, Janos Áder foi eleito presidente em 2012, numa eleição parlamentar boicotada pela principal legenda de oposição, o Partido Socialista.

Ele tem um histórico de proximidade com políticas polêmicas do premiê Viktor Orbán, tendo ajudado na elaboração de mudanças em leis eleitorais e no papel do Judiciário que provocaram protestos da Comissão Europeia.

Primeiro-ministro: Viktor Orbán

Viktor Orbán é líder do partido Fidesz, criado no final dos anos 1980 como um movimento democrático liberal contra o regime comunista. Em 1998, Orbán tornou-se primeiro-ministro pela primeira vez, por quatro anos, num governo de coalizão. No início do novo século, sua legenda passou a adotar uma plataforma conservadora e nacionalista.

Após oito anos como líder da oposição, Orbán voltou ao poder nas eleições de 2010, favorecido pela perda de credibilidade do Partido Socialista. Ao obter mais de 52% dos votos, ele acumulou suficientes votos no Parlamento para mudar a Constituição, o que ele fez em 2011, introduzindo nacionalismo, valores tradicionais e apoio ao caráter cristão do país.

Viktor Orbán

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Legenda da foto, Viktor Orbán voltou ao poder em 2010 e adotou medidas que reforçaram seu poder

Desde então, Orbán acumulou poder em suas mãos de forma sem precedentes na história recente da Hungria, ao mesmo tempo em que espantava outros líderes da União Europeia com seu populismo nacionalista.

Ele descreveu como seu objetivo para a Hungria a criação de um "Estado iliberal" e argumenta que sistemas autoritários como os da China, Turquia e Rússia são um modelo mais apropriado do que as democracias liberais ocidentais.

Orbán conquistou um terceiro mandato nas eleições de abril de 2018, depois que a mensagem do seu partido Fidesz assegurou uma forte maioria no Parlamento, com dois terços das cadeiras.

O primeiro-ministro nacionalista de direita projetou-se como um salvador da cultura cristã da Hungria contra a migração muçulmana para a Europa.

Entretanto, o pleito deixou a Hungria dividida, já que seu partido obteve seus votos majoritariamente de eleitores mais velhos e do interior, enquanto moradores das cidades e os mais jovens votaram por mudança.

Sua ideologia e seu posicionamento político aproximaram Viktor Orbán do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que encontrou no líder húngaro uma simpatia não oferecida por outros líderes europeus.

MÍDIA

Jornais húngaros

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Legenda da foto, Entidades têm alertado que a liberdade de imprensa tem sido ameaçada na Hungria

O partido governista Fidesz tem buscado exercer um controle maior sobre a mídia húngara, o que recebeu críticas de organizações defensoras da liberdade de imprensa.

Segundo a entidade americana Freedom House, uma nova legislação permitiu uma nova regulação da mídia politizada, e a empresa de radiodifusão pública é a favor do Fidesz. A mídia "é cada vez mais dominada por veículos pró-governo, que são frequentemente usados para caluniar adversários", diz a entidade.

Empresários simpáticos ao Fidesz superaram empresas estrangeiras como investidores em importantes veículos, segundo a entidade Repórteres Sem Fronteiras. Mas a entidade diz que o setor de mídia ainda é diverso, com títulos online realizando reportagens investigativas sobre supostos casos de corrupção envolvendo oficiais.

No final de 2018, quase toda a mídia privada pró-governo uniu-se para formar um conglomerado, a Fundação Europeia Central de Imprensa e Mídia. Dez empresas entregaram seus setores de mídia para a fundação, somando centenas de publicações, sites de internet e veículos de radiodifusão.

Em 2019, segundo as agências Hootsuite e We Are Social, havia 8,6 milhões de usuários de internet, representando 89% da população. O Facebook é a principal rede social, com cerca de 6 milhões de usuários.

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RELAÇÕES COM O BRASIL

Apesar de a atual Hungria ter se constituído apenas no século 20, as relações do Brasil com o território vêm do século anterior.

Em 1871, como parte de uma viagem pela Europa, o imperador Dom Pedro 2º visitou o país, que na época fazia parte do Império Áustro-Húngaro. Pouco depois, em 1873, o Brasil abriu um consulado em Budapeste.

Com as mudanças no mapa político europeu vindas com o fim da Primeira Guerra Mundial, o governo republicano brasileiro reconheceu a independência húngara em 1923. A Hungria criou então uma legação (representação diplomática) no Rio de Janeiro em 1927, e o Brasil estabeleceu a sua em Budapeste dois anos depois.

As relações entre os dois países são interrompidas em 1942, em meio à Segunda Guerra, e restabelecidas em 1961, quando Budapeste fazia parte do bloco comunista europeu. Em 1974, a legação brasileira na capital húngara foi elevada à condição de embaixada.

Após o colapso do bloco comunista na Europa, as relações entre Brasil e Hungria ficaram mais positivas, com visitas mútuas de representantes, incluindo a viagem do então presidente-eleito Fernando Henrique Cardoso a Budapeste em 1994.

As relações continuaram amistosas ao longo dos anos, com visitas de altos representantes e a presença do presidente János Áder e do premiê Viktor Orbán na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Ideologicamente próximo de Jair Bolsonaro, Orbán esteve presente na posse do presidente brasileiro, em janeiro de 2019.

O Brasil abriga uma comunidade húngara significativa, com cerca de 100 mil húngaros e descendentes, segundo o Itamaraty, a maioria deles concentrada no Estado de São Paulo. As relações comerciais entre os dois países evoluíram ao longo dos anos e somavam US$ 480 milhões em 2018, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.

LINHA DO TEMPO

Importantes datas na história da Hungria:

Século 9 - Sob a liderança do príncipe Arpad, os magiares estabelecem-se na planície do rio Danúbio.

1000 - Stephen 1º, descendente de Arpad e reconhecido pelo papa como o primeiro rei cristão da Hungria, expande o controle húngaro sobre a base dos montes Cárpatos.

1241-42 - Invasão mongol devasta grandes áreas da Hungria.

1456 - Forças lideradas pelo nobre húngaro Janos Hunyadi derrotam o Exército Otomano no cerco de Belgrado.

1526 - Turcos otomanos derrotam as forças húngaras na Batalha de Mohacs, estabelecendo controle sobre a maior parte do país.

1699 - Os habsburgos austríacos, sob a liderança de Leopoldo 1º, expulsam os turcos.

Forças revolucionárias húngaras em 1918

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Legenda da foto, Em 1918, forças revolucionárias tomaram Budapeste e implantaram uma república

1867 - A Hungria torna-se um parceiro, com o mesmo status dos austríacos, no império Áustro-Húngaro.

1918 - O Império Áustro-Húngaro é desmantelado ao final da Primeira Guerra Mundial. Após uma revolução, uma república é proclamada.

Anos 1920 e 1930 - Após períodos de instabilidade e perda de territórios para outras nações europeias, o país é liderado pelo almirante Miklos Horthy. Seu regime é caracterizado por um amargo ressentimento pela perda de territórios, tornando-se progressivamente mais reacionário e mais próximo da Alemanha Nazista.

1941-45 - A Hungria luta do lado da Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial, perdendo partes de seu território para a Rússia. Os alemães ocupam a Hungria em 1944 depois que o país buscou um armistício. Centenas de milhares de judeus e ciganos são deportados para campos de extermínio.

1947-49 - Os comunistas consolidam seu poder sob ocupação soviética, com uma nova Constituição, a nacionalização da indústria, a coletivização da agricultura e terror em massa.

1956 - Um movimento por democracia e contra a dominação soviética sobre o país, liderado pelo premiê Imre Nagy, é duramente reprimido pelo Exército soviético. János Kádár torna-se chefe do governo e inicia um período de repressão e perseguição de dissidentes. Nagy é preso e executado em 1958.

Anos 1960 - Kádár gradualmente introduz reformas liberalizantes limitadas. Prisioneiros políticos e líderes da Igreja são libertados, enquanto agricultores e trabalhadores da indústria recebem mais direitos.

Tanque soviético em Budapeste em 1956

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Legenda da foto, Em 1956, uma revolta por democracia levou a uma invasão do país por forças soviéticas

1968 - O Novo Mecanismo Econômico introduz elementos de economia de mercado ao gerenciamento estatal comunista, como parte de sua cuidadosa pauta reformista.

1988 - Com idade avançada e saúde debilitada, Kádár é substituído por Karoly Grosz. Grupos de oposição forma o Fórum Democrático Húngaro.

1989 - Em maio, a fronteira com a Áustria é aberta, e milhares de alemães orientais fogem para o Ocidente. O Estado comunista da Hungria é desmantelado, e começa uma transição para uma democracia pluripartidária. Em outubro, a república húngara é proclamada, iniciando uma nova era na história do país.

1990 - Vitória de uma coalizão de centro-direita nas eleições. A Hungria abandona os exercícios militares do Pacto de Varsóvia.

1999 - A Hungria torna-se membro da Otan, a aliança militar ocidental.

Moradores celebram a proclamação da Repúiblica da Hungria

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Legenda da foto, Em 1989, a atual república da Hungria foi proclamada, e a população foi às ruas para celebrar

2004 - Juntamente com outras nove nações europeias, a Hungria entra na União Europeia.

2010 - Após oito anos como líder da oposição, o populista Viktor Orbán volta ao cargo de primeiro-ministro e inicia uma série de medidas para consolidar seu poder.

2011 - Em abril, o Parlamento aprova uma nova Constituição, que opositores dizem ameaçar a democracia com a remoção de sistemas de verificação e equilíbrio de poderes. A UE expressa preocupação com a nova legislação e pede que ela seja retirada.

2011 - O Parlamento, comandado por Orbán, aprova uma polêmica nova lei eleitoral que corta pela metade o número de parlamentares e redesenha fronteiras de zonas eleitorais. Críticos afirmam que a mudança coloca o sistema a favor do partido Fidesz, de Orbán.

2014 - Em abril, o Fidesz vence pela segunda vez seguida as eleições parlamentares. Monitores estrangeiros dizem que regras que restringiam ações de campanha e uma cobertura tendenciosa da mídia favoreceram o partido do governo.

Orbán e Putin

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Legenda da foto, Orbán elogiou o sistema político da Rússia, em que o poder está nas mãos de Putin

2014 - Em julho, o premiê Viktor Orbán diz que o tempo da democracia liberal havia passado e cita Rússia, China e Turquia como Estados "iliberais" bem-sucedidos que servem de inspiração. Em agosto, ele critica as sanções impostas pela UE contra a Rússia devido à crise na Ucrânia. Em setembro, a operadora de gás da Hungria diz ter suspendido a entrega do produto à Ucrânia, enquanto a Rússia aumenta a oferta de gás para a Hungria.

2015 - Em setembro, uma nova lei permite a prisão de migrantes tentando entrar no país pela fronteira com a Sérvia, depois que 200 mil pessoas vindas do Oriente Médio entraram na Hungria nos meses anteriores, na esperança de chegar à Alemanha e outras nações europeias.

2017 - O Parlamento Europeu ameaça suspender a Hungria da UE devido às tentativas do governo de fechar a Universidade Europeia Central, uma instituição liberal baseada em Budapeste.

2018 - Em abril, o partido Fidesz, de Orbán, obtém sua terceira vitória seguida nas eleições parlamentares, mantendo seu domínio sobre o Parlamento, com dois terços das cadeiras. Viktor Orbán mantém-se no cargo de primeiro-ministro. A campanha do Fidesz baseou-se num discurso nacionalista e contra imigração.

Raya

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