O que se sabe de ataque de Israel a campo de refugiados em Rafah, que deixou mortos e feridos

Um homem parado nos escombros de um prédio destruído

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A destruição do ataque na noite de domingo se tornou aparente na manhã seguinte
  • Author, Thomas Mackintosh e David Gritten
  • Role, BBC News

Pelo menos 45 pessoas foram mortas, incluindo mulheres e crianças, em um ataque aéreo israelense a um acampamento para palestinos desalojados na cidade de Rafah, no sul de Gaza, informou o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas.

Vídeos do incidente, ocorrido na noite de domingo (26/5) no bairro de Tal al-Sultan, mostram uma grande explosão e fortes chamas consumindo o local.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram ter matado dois líderes do Hamas, e que estavam analisando os relatos de que civis foram feridos no ataque.

Horas antes, o Hamas havia disparado oito foguetes a partir de Rafah em direção a Tel Aviv — os primeiros ataques de longo alcance à cidade israelense desde janeiro.

Isso ocorreu dois dias após a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter determinado que Israel suspendesse imediatamente sua ofensiva militar em Rafah, onde se acredita que centenas de milhares de pessoas ainda estejam refugiadas.

Horas depois do ataque aéreo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o ataque foi um "erro trágico", em meio à crescente condenação internacional da explosão.

Durante discurso no parlamento israelense, Netanyahu disse que era fundamental que Israel tomasse “todas as precauções possíveis” para proteger os civis atingidos nos combates em Gaza.

Mas ele insistiu que as Forças de Defesa de Israel adotaram seus “melhores esforços para não prejudicar aqueles que não estão envolvidos” no conflito e prometeu continuar lutando contra o Hamas.

“Não pretendo acabar com a guerra antes de todos os objetivos sejam alcançados”, disse Netanyahu durante o seu discurso, que foi interrompido por protestos de familiares de reféns feitos pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro no sul de Israel.

Pessoas observando escombros em Rafah, Gaza

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As FDI disseram que tinham como alvo figuras importantes do Hamas, mas analisariam os relatos de vítimas civis
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O Crescente Vermelho Palestino disse que o ataque aéreo de domingo teve como alvo tendas para pessoas desalojadas perto de uma instalação da ONU em Tal al-Sultan, a cerca de 2 quilômetros a noroeste do centro de Rafah.

Vídeos com imagens fortes mostram uma série de estruturas em chamas ao lado de uma faixa que dizia "Acampamento de Paz do Kuwait '1'", assim como socorristas e civis carregando vários corpos.

"Estávamos sentados na porta de casa em segurança. De repente, ouvimos o som de um míssil", contou Fadi Dukhan, uma testemunha do ataque, à agência de notícias Reuters.

"Corremos e encontramos a rua coberta de fumaça. Não vimos nada", ele disse, acrescentando que ele e outros avistaram, na sequência, uma menina e um rapaz que haviam sido mortos na explosão.

Em comunicado, as FDI disseram no domingo que realizaram um ataque aéreo em Tal al-Sultan que eliminou dois líderes do Hamas — Yassin Rabia, chefe dos combatentes do grupo armado na Cisjordânia ocupada, e Khaled Nagar, outra autoridade do grupo na Cisjordânia.

"As FDI estão cientes dos relatos que indicam que, como resultado do ataque e do incêndio que foi desencadeado, vários civis na área foram feridos. O incidente está sob análise", acrescentou o comunicado.

Um comunicado inicial insistia que o ataque foi "realizado contra alvos legítimos no âmbito do direito internacional, utilizando munições precisas e com base em informações de inteligência precisas que indicavam a utilização da área pelo Hamas".

Em discurso nesta segunda-feira (27/5), o advogado-geral das FDI classificou o incidente em Rafah como "muito difícil", e disse "lamentar qualquer dano a civis que não estejam envolvidos na guerra".

Incêndio em acampamento de refugiados palestinos

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O fogo se espalhou no domingo em uma área destinada a palestinos desalojados na região de Rafah

O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, afirmou na tarde desta segunda-feira que pelo menos 45 pessoas, incluindo 23 mulheres, crianças e idosos, foram mortas no ataque ao acampamento.

Um alto funcionário do departamento de Defesa Civil de Gaza, Mohammad al-Mughayyir, disse à agência de notícias AFP que as equipes de resgate haviam visto "corpos carbonizados e membros desmembrados", assim como "casos de amputações, crianças, mulheres e idosos feridos".

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse durante a noite que 15 pessoas mortas e dezenas de feridos haviam sido levados a uma unidade de estabilização de traumas que a instituição apoia.

"Estamos horrorizados com este acontecimento mortal, que mostra mais uma vez que nenhum lugar é seguro. Continuamos a pedir um cessar-fogo imediato e sustentado em Gaza", acrescentou o MSF.

A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) — a maior organização humanitária em Gaza — classificou os relatos como "assustadores", e disse que não foi capaz de estabelecer uma comunicação plena com sua equipe em campo em Rafah.

"Gaza é o inferno na terra. As imagens da noite passada são mais uma prova disso", diz uma postagem da UNRWA no X (antigo Twitter).

O chefe do gabinete de comunicação do governo administrado pelo Hamas, Ismail al-Thawabta, afirmou que o acampamento ficava longe das recentes ações militares e em uma zona designada como segura, para a qual as FDI haviam orientado os civis no leste de Rafah a fugir.

Enquanto isso, o Catar alertou que o ataque poderia complicar suas tentativas de mediação para alcançar um cessar-fogo e um acordo de libertação de reféns.

Dois homens deitados no chão, ao lado de carro, se protegendo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Israelenses se protegendo durante disparos de foguetes perto de Herzliya no domingo

No início de domingo, sirenes de ataque aéreo soaram na região de Tel Aviv, quando o centro de Israel foi atacado por foguetes do Hamas, disparados a partir de Rafah.

Os oito foguetes foram interceptados por sistemas de defesa aérea ou caíram em campos.

O disparo de foguetes destaca a ameaça que o Hamas ainda representa para a população em Israel, embora não tenha havido relatos de feridos.

Ilustra também os desafios que o Exército israelense enfrenta à medida que avança no sul de Gaza para expulsar o Hamas daquilo que chama de seu "último grande reduto".

O braço militar do Hamas disse ter agido em resposta ao "massacre de civis".

Cerca de 1,5 milhão de pessoas haviam se refugiado em Rafah antes de 6 de maio, quando Israel deu início ao que chamou de operações terrestres "direcionadas" em áreas a leste da cidade para destruir os últimos batalhões restantes do Hamas e resgatar reféns que acredita estarem detidos ali .

A ONU estima que mais de 800 mil pessoas fugiram em resposta às ordens das FDI para se retirarem para uma "área humanitária expandida", que se estende de al-Mawasi, a noroeste de Rafah, até a cidade de Khan Younis, no sul, e a cidade central de Deir al-Balah.

Israel lançou uma campanha militar em Gaza para destruir o Hamas em resposta ao ataque do grupo palestino ao sul de Israel em 7 de outubro, no qual cerca de 1,2 mil pessoas morreram e outras 252 foram feitas reféns.

Pelo menos 36.050 pessoas foram mortas em Gaza desde então, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

Protestos de familiares em Israel

Enquanto Netanyahu discursava nesta segunda, parentes de reféns do Hamas protestaram contra as medidas do primeiro-ministro israelense.

Ele foi atacado por alguns familiares por não ter conseguido chegar a um acordo para o regresso dos seus parentes que foram levados pelo Hamas em outubro.

“Em Rafah já evacuámos cerca de um milhão de residentes não-combatentes e, apesar dos nossos maiores esforços para não prejudicar os não-combatentes, algo infelizmente correu tragicamente errado”, insistiu Netanyahu.

“Estamos investigando o incidente e chegaremos a conclusões porque esta é a nossa política”.

Organizações internacionais se alinharam para condenar o ataque, com a União Europeia insistindo que Israel respeitasse uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) da semana passada para suspender os ataques em Rafah.

O principal diplomata do bloco, Josep Borrell, classificou o ataque de domingo como "horrível".

O chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Turk, disse que o ataque sugeria que não houve "nenhuma mudança aparente nos métodos e meios de guerra utilizados por Israel que já levaram a tantas mortes de civis".