Expansão do Brics: 'Você escolhe os países e depois define os critérios', diz Amorim

Celso Amorim

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Declaração do principal conselheiro de Lula para política externa vai na contramão de posições do presidente sobre assunto
  • Author, Leandro Prazeres
  • Role, Enviado da BBC News Brasil a Joanesburgo (África do Sul)
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Ex-ministro das Relações Exteriores e atual assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim descartou a necessidade de critérios objetivos para escolher novos integrantes para o Brics.

"Você escolhe os países e aí depois define os critérios", disse Amorim a jornalistas em Joanesburgo, na África do Sul, onde acontece a 15ª Cúpula do Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A expansão do Brics é o principal tema da cúpula deste ano e a definição sobre quais seriam os novos membros do grupo vem gerando especulações desde o início do encontro.

A declaração de Amorim vai na contramão do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e membros da diplomacia brasileira vinham dizendo publicamente sobre o possível aumento no número de membros do grupo.

Na terça-feira (22/8), por exemplo, Lula disse que seria necessário estabelecer regras para a adesão de novos integrantes.

"Temos que ter critério para manter o que reuniu o grupo em primeiro lugar: países em desenvolvimento de distintas regiões do mundo que não encontravam, nas instituições globais do pós-guerra, o espaço correspondente que seria proporcional ao tamanho de suas economias e populações. É essencial que os novos países membros estejam de acordo com esta questão para uma governança global mais representativa e equilibrada", disse Lula em entrevista concedida ao jornal sul-africano Sunday Times publicada no domingo (20/8).

Na semana passada, integrantes do Ministério das Relações Exteriores disseram a jornalistas em Brasília que o Brasil negociava o estabelecimento de critérios específicos a partir dos quais os pedidos de adesão ao bloco seriam avaliadas.

Entre esses critérios, estaria a necessidade de que os novos membros fossem favor��veis à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, uma pauta histórica da diplomacia brasileira.

"Nessa ampliação, é importante que se fortaleça o ímpeto reformista do Brics, inclusive em matéria de reforma do conselho de segurança", disse o secretário para as regiões da Ásia e Oceano Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo Saboia, em conversa com jornalistas na semana passada à qual a BBC News Brasil esteve presente.

Expansão

Lula e Janja chegando

Crédito, YANDISA MONAKALI/GCIS/HANDOUT/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto, O presidente Lula e a primeira-dama Janja Silva na chegada a Joanesburgo; ele já sinalizou apoio à entrada de alguns novos membros ao Brics
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O movimento de expansão do Brics vem sendo liderado pela China e pela Rússia.

Especialistas avaliam que a iniciativa é uma forma de os dois países evitarem o isolamento gerado pelo tensionamento das suas relações com os Estados Unidos e com a Europa Ocidental.

Os chineses são acusados pelos americanos de práticas comerciais predatórias e espionagem, o que o governo chinês nega.

A Rússia vem sendo alvo de sanções impostas por países da Europa Ocidental e pelos Estados Unidos por conta da invasão russa à Ucrânia, iniciada em 2022.

Inicialmente, o Brasil e a Índia vinham apresentando resistência à expansão desejada por russos e chineses, mas nos últimos dias, o governo Lula passou a dar demonstrações de que não vetaria a entrada de novos integrantes.

Nesta semana, a BBC News Brasil mostrou que três países que despontavam como favoritos a ingressar no bloco são: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

Fontes ligadas às negociações para a expansão do grupo com quem a BBC News Brasil conversou em caráter reservado nos últimos dois dias apontam a expectativa de que cinco países devem ser anunciados como novos membros do bloco: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Argentina e Irã.

A Indonésia, que era apontada como uma das favoritas a entrar no bloco, entraria em um segundo momento, segundo esse entendimento.

Os líderes do bloco terão mais reuniões sobre o assunto nesta quarta-feira (23/8), segundo dia da cúpula.