Principal avaliação positiva
5,0 de 5 estrelasTorto Arado um novo clássico da literatura brasileira.
Avaliado no Brasil em 28 de agosto de 2020
Na FLIPELÔ (Festa Literária Internacional do Pelourinho) em Salvador, deste ano (2019), fui a uma mesa incrível com Ana Maria Gonçalves autora de um defeito de cor e o até então desconhecido Itamar Vieira Júnior chamada “(in) visibilidades sociais: a literatura como espaço de vozes historicamente silenciadas”. Gostei muito das falas do Itamar, das suas referências literárias e fiquei empolgado para ler seu mais novo livro, Torto Arado. Dia 24 de agosto foi o lançamento do livro, mas não pude ir, pois estava a comemorar meu aniversário, porém os deuses da literatura me deram mais uma oportunidade, Itamar Vieira Júnior estará na FLICA, Festa Literária Internacional de Cachoeira, cidade do Recôncavo baiano, na quinta-feira, 19:00. Então tratei de comprar meu exemplar de Torto Arado e acabei de lê-lo hoje (22 de outubro). Quando o primeiro capítulo findou eu estava horrorizado e fascinado. Ao longo da leitura tive acessos de choro. A história narra uma realidade muito próxima da que eu vivi de perto. Minha infância foi na roça, interior da Bahia, numa localidade rural, Terra Seca, de um município chamado Laje, minha avó morava na terra alheia, e podia morar lá para cuidar da terra, na colheita do cacau eu e meu irmão de 5 e 4 anos ajudávamos a pegar o cacau. Em nossas aventuras com facão quase tive meu dedo arrancado por ele.
Quando chagamos a Terra Seca não havia eletricidade na maioria das casa, fogão a gás, ou água encanada e isso foi início da década de 90, tenho apenas 31 anos, por isso a realidade narrada em Torto Arado me foi familiar e arrebatadora. Sai da roça aos 10 fui morar na cidade, e aos 18 vim estudar em Salvador, sou um leitor voraz, mas pouquíssimos livros se aproximaram em narrar vidas como a da minha infância, como de pessoas como minha avó. Zeca Chapéu Grande personagem de Torto Arado me remetia as história que minha avó contava sobre seu pai, Lídio, que também era curador. Por essas outras esse livro me tocou profundamente, porém seu mérito como em qualquer grande clássico está em um texto belo, lírico, melancólico, violento.
As construções das narradoras, os ecos entre os capítulos, dá a uma realidade tão triste também beleza, vida, exuberância, amores, desejos. Uma prosa lapidada, uma história de grande força e com personagens que se tornaram parte do meu imaginário, Bibiana e Belonísia, assim como Ivan Karamázov, Blimunda, Úrsula de Cem anos de Solidão, André de Lavoura Arcaica e tantos outros, faz dessa obra um retrato artístico de grande beleza e importância. Senti depois de findar a leitura, que nem eu, nem minha avó, nem meu bisavô, morreremos, estamos eternizados nos reflexos desses personagens de papel e tinta.