Principal avaliação crítica
3,0 de 5 estrelasLeitura gostosa e escrita impecável, mas com alguns furos
Avaliado no Brasil em 15 de fevereiro de 2024
Este foi meu primeiro contato com a obra de Raphael Montes, e é inegável a sua incrível habilidade como escritor. O texto flui com facilidade e a construção dos eventos é, na maior parte, coesa e intrigante. Li o livro em um disparo, sem conseguir largar, e isso diz muito para mim sobre a qualidade de uma história.
Destaco a história envolvente e a complexidade do personagem Téo, cuja racionalização de pensamentos e atitudes psicopatas desperta uma mistura de fascínio e repulsa no leitor.
Apesar disso, algumas partes da trama me pareceram pouco convincentes e, em certos momentos, até infantis. O desfecho, em particular, pareceu forçado, e me deu a sensação de que buscava apenas o impacto chocante, sem manter a mesma qualidade narrativa presente ao longo da obra.
**** Aviso de spoilers ****
Um exemplo disso é a reviravolta em Ilha Grande, quando Clarice consegue nocautear Téo e o prende, com requintes de crueldade. Embora compreensível até certo ponto, a reação dela à morte de Breno e sua tentativa de suicídio parecem exageradas e fora de sintonia com sua caracterização anterior, que parecia querer vingança e inclusive havia recorrido à tortura contra seu captor.
Teria sido mais interessante se ela se revelasse uma antagonista igualmente astuta e amoral, subvertendo as expectativas do leitor e ampliando a complexidade da trama.
Mas o simples fato de querer um final diferente não é motivo para que eu desgoste de um livro, nem diminui a sua qualidade. O que me incomodou mais no final não foi O QUE aconteceu e sim, COMO aconteceu.
A partir do acidente de carro dos dois, senti que a escrita ficou preguiçosa e os acontecimentos se tornaram mecânicos, como se o autor tivesse perdido o fôlego e quisesse apenas terminar logo a história. O cuidado com os detalhes se perdeu e as resoluções se tornaram rasas e até um pouco clichês, a exemplo da perda de memória de Clarice.
Embora eu aprecie finais abertos ou até mesmo favoráveis aos vilões, o desfecho deste livro pareceu mais preocupado em surpreender do que em fazer sentido narrativo. Foi um fim anticlimático para um livro quase perfeito, mas ainda assim, a experiência foi muito positiva e, sem dúvidas, pretendo explorar mais obras de Raphael Montes no futuro.