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É doutor em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo e pesquisador da área de Exploração e Produção do Instituto Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)

As oportunidades para a produção de petróleo na Bacia do ES

A Bacia do Espírito Santo vem registrando aumento na produção de petróleo e gás em 2024. No entanto, manter essa tendência de crescimento será um desafio importante

  • Francismar Ferreira É doutor em Geografia pela Universidade Federal do Espírito Santo e pesquisador da área de Exploração e Produção do Instituto Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep)
Publicado em 27/06/2024 às 15h20

A Bacia do Espírito Santo vem registrando aumento na produção de petróleo e gás em 2024. Ele ocorre em contexto marcado pela expansão e consolidação da atuação das petroleiras independentes. No entanto, manter essa tendência de crescimento, promover novas descobertas, modernizar e ampliar a infraestrutura, além de impulsionar a economia local e regional, serão desafios importantes a serem enfrentados no médio e longo prazo por essas empresas.

Para abordar a exploração e produção (E&P) de petróleo e gás no Espírito Santo, é necessário apontar a existência de duas bacias: a Bacia do Espírito Santo (B-ES), que se estende por terra e mar na região que vai da capital até a divisa com a Bahia; e a porção norte da Bacia de Campos, que se estende pelo mar no Sul do Estado até Vitória.

Entre janeiro e abril de 2024, a produção de petróleo e gás da B-ES foi de 21,95 mil barris de óleo equivalente por dia (Mboe/d) em média. Esse volume representa um aumento de 17% em relação à produção média do ano de 2023, e ainda corresponde a 10,7% da produção do Estado e 0,51% da produção nacional. A expansão representa, em certa medida, a retomada de investimentos na bacia, liderados essencialmente pela atuação das petroleiras independentes.

A produção de petróleo e gás na B-ES teve início no final da década de 1960 e atingiu seu auge em 2008, quando produziu 114 Mboe/d. Contudo, a partir de 2011, a produção na bacia passou a apresentar forte declínio, saindo de 102,94 Mboe/d e chegando a atingir 15,05 Mboe/d em 2022. Trata-se de uma redução de 85% da produção no período.

No gráfico a seguir, essa redução pode ser visualizada:

Produção de petróleo e gás na Bacia do ES
Produção de petróleo e gás na Bacia do ES. Crédito: Divulgação/Ineep

A redução da produção na B-ES se relaciona basicamente a dois fatores. O primeiro, se refere ao amadurecimento natural da bacia, especialmente em sua porção terrestre, que em 2024 completa 55 anos de operações desde a primeira descoberta comercial. O segundo decorre da redução dos investimentos da Petrobras no segmento de E&P, especialmente para aquelas áreas fora do pré-sal a partir de 2016, o que implicou na redução de projetos de revitalização dos campos e restringiu novos avanços exploratórios.

Entre 2020 e 2023, a Petrobras, no âmbito de sua política de desinvestimentos, vendeu todos seus campos de produção na B-ES. Ao todo, foram 42 ativos vendidos para cinco diferentes empresas por cerca de R$ 4,22 bilhões, de acordo com levantamento do Ineep. Com isso, a Petrobras encerrou, em 2024, sua participação na produção de petróleo e gás na bacia conforme indicado no gráfico acima. Essas atividades acabaram sendo assumidas por um conjunto de petroleiras independentes.

Ao todo, existem 11 petroleiras independentes operando campos de produção de petróleo e gás na B-ES (3R Petroleum, BGM, BW Offshore, Capixaba Energia, Imetame Energia, Mandacaru Energia, Origem Energia, Petrosynergy, Seacrest, Tarmar Energia e Vipetro). Entre elas, destacam-se a BW Energy com uma produção média de 9,64 Mboe/d, a Seacrest com 8,28 Mboe/d e 3R Petroleum com uma produção média de 3,33 Mboe/d. Essas petroleiras, que adquiriram seus ativos da Petrobras, foram responsáveis por cerca de 96,8% da produção média na bacia entre janeiro e abril de 2024.

Após concluírem a aquisição dos campos da Petrobras, as independentes iniciam uma nova etapa na B-ES. Trata-se de uma fase de consolidação em que os desafios, no médio e longo prazo, consistem em avançar no desenvolvimento de projetos de revitalização dos campos de produção, visando prolongar a vida produtiva dos mesmos, investir no segmento exploratório mirando a realização de novas descobertas, ampliar e modernizar as infraestruturas e impulsionar a economia local e regional por meio da manutenção e adensamento da cadeia produtiva de óleo e gás do Estado.

Apesar de não estar produzindo, a Petrobras permanece com os ativos exploratórios na B-ES. Ao todo, são seis blocos contratados na porção marítima da bacia. Trata-se de uma área da B-ES relativamente pouco explorada, principalmente em águas profundas e ultraprofundas, o que, em certa medida, acaba tornando a bacia uma fronteira exploratória com potencial no pós e pré-sal. Entre 2018 e 2022, a Petrobras perfurou apenas 4 poços pioneiros nesta região. Em 2023, não realizou novas perfurações.

Em 2024, a estatal retomou as atividades exploratórias com novas perfurações. Além disso, Repsol, CNOOC, BW Energy e 3R operam outros quatro blocos na porção marítima da B-ES, o que indica o interesse de outras petroleiras na bacia e, de certa forma, reafirma o potencial para novas descobertas.

Apesar de madura, a B-ES ainda apresenta importantes possibilidades energéticas e econômicas. Investimentos em projetos de revitalização dos campos maduros por petroleiras independentes poderão ampliar e prolongar a vida produtiva desses campos. Além disso, avanços exploratórios, especialmente na porção marítima, poderão ampliar as reservas da região. Nesse contexto, a Petrobras se apresenta como peça-chave no processo. Seus investimentos no pós e pré-sal da bacia são e serão fundamentais para realizar novas descobertas e viabilizar a participação da Petrobras na produção da bacia.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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