No dia 20 de junho, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizou o lançamento de seu novo relatório “Desafios e Estratégias na luta contra a Desinformação Científica”. Elaborado por um grupo de vinte especialistas multidisciplinares, o documento de 66 páginas traz uma análise sobre as múltiplas causas desse importante problema contemporâneo e também lista recomendações para que poder público e sociedade o enfrentem de maneira efetiva.

O vice-presidente da ABC para São Paulo, Glaucius Oliva, abriu a cerimônia destacando que o a desinformação científica atual se agrava pela dinâmica das redes sociais, cujos algoritmos favorecem conteúdos sensacionalistas e, muitas vezes, enganosos. Ele lembrou que áreas como saúde pública e mudanças climáticas são particularmente afetadas por discursos negacionistas e conspiratórios. “Além do diagnóstico, o nosso grupo trouxe propostas para políticas públicas adequadas, juntando o que há de melhor no conhecimento científico sobre o tema”.

Já o vice-presidente para a Região Sul, Ruben Oliven, aproveitou para relembrar a Revolta da Vacina, em 1904, quando a população do Rio de Janeiro ergueu barricadas contra agentes de saúde. “A revolta se deu contra uma medida correta mas mal divulgada. A lição para nós cientistas é a de que não podemos esperar que o conhecimento produzido nos laboratórios seja automaticamente assimilado, é preciso saber comunica-lo”.

A Acadêmica Thaiane Oliveira, especialista em desinformação científica e uma das coordenadoras do grupo de trabalho, ressaltou que a desinformação científica se escora numa das principais características do método científico. “A natureza da ciência é de controvérsias e dúvidas, seu desenvolvimento depende de indagações. É justamente nessa característica que diversas desinformações são produzidas, motivadas por interesses políticos e econômicos. Há um modelo rentável e lucrativo na desinformação”, alertou.

Por fim, a palavra foi passada para Brasília, onde estavam a presidente da ABC, Helena Nader, e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Inicialmente, estava previsto para a ministra participar presencialmente, mas isso não ocorreu por demandas da agenda ministerial. “Essa é uma coroação de mais uma função que a Academia está tentando preencher na sociedade, levando informação naquilo que podemos contribuir”, afirmou Nader.

 

No telão, a presidente da ABC Helena Nader, o presidente da SBPC, Renato Janine e a ministra de CT&I, Luciana Santos. Na mesa, a diretora da ABC Maria Vargas; a Acadêmica Thaiane Oliveira e o diretor da ABC Roberto Lent (Foto: GCOM ABC)

Luciana Santos parabenizou a Academia pela iniciativa, a qual qualificou como “uma contribuição na luta contra o negacionismo que assola o Brasil e o mundo”. Ela lembrou que a desinformação científica contribuiu para a volta de doenças erradicadas, como sarampo e poliomielite. “Esperamos que esse documento ajude a fazer com que a crença nas evidências científicas volte a ser o normal em nossa sociedade”, finalizou.

Acesse o relatório na íntegra.

Cerimônia de lançamento aconteceu em formato híbrido, na sede da ABC, no Rio de Janeiro, e em Brasília, com a ministra da CT&I, Luciana Santos (Foto: GCOM ABC)

Confira as principais recomendações presentes no relatório:

Promoção da Divulgação Científica

Aproximar o conhecimento científico do público é vital, através de exposições temáticas, visitas escolares, workshops e feiras científicas. É crucial investir em redes de divulgadores científicos, especialmente online, e treinar cientistas em mídia. Agências especializadas em divulgação científica devem ser criadas, garantindo que projetos de pesquisa contem com profissionais qualificados.

Fortalecimento da Comunicação Pública das Instituições Científicas

As Instituições de Ensino Superior (IES) devem fortalecer sua comunicação pública para proteger a democracia e promover informações confiáveis. As IES devem consolidar sua capacidade de comunicação, criando uma agência de notícias científica para disseminar informações embasadas em evidências de forma eficiente e confiável.

Educação Midiática e Científica

Integrar a educação midiática e científica nos currículos educacionais é fundamental. Isso inclui a criação de canais eletrônicos e presença ativa nas mídias sociais para a educação científica, além de desenvolver infraestruturas tecnológicas para disseminação de informações. Colaborar com autoridades educacionais para promover o letramento midiático, informacional e científico é essencial, capacitando a comunidade escolar a enfrentar a desinformação.

Linhas de Pesquisa

Conduzir pesquisas para investigar o impacto da desinformação sobre vacinas e outras áreas críticas é crucial. Também é fundamental incentivar a alocação de recursos para eventos e estudos nesse campo, focando na identificação e desmonetização de fontes de desinformação e na redução dos efeitos de amplificação por algoritmos.

Plano de Ação Midiática

Expandir a cobertura científica e capacitar jornalistas em jornalismo científico é essencial. Mitigar desertos informacionais e promover alternativas de acesso à informação são necessários. Apoiar a pluralidade da mídia e a verificação de fatos, estabelecendo cooperação entre verificadores de fatos e a comunidade científica, é fundamental para entregar informações corretas.

Redes de Conexão com a Sociedade Civil

Mobilizar a comunidade acadêmica para regulamentar empresas de plataformas que lucram com a desinformação é crucial. A regulamentação deve proteger a liberdade de expressão e ser baseada em critérios objetivos e evidências sólidas. Transparência e colaboração entre nações, organismos internacionais e sociedade civil são essenciais para desenvolver estratégias conjuntas de regulamentação. Construir redes especializadas na luta contra a desinformação é fundamental para promover a cidadania responsável e a soberania informacional.

O LIVRO ESTÁ DISPONÍVEL AQUI PARA DOWNLOAD GRATUITO

Veja a repercussão:

AGÊNCIA BRASIL
Sistema lucrativo sustenta desinformação científica nas redes sociais
Estudo sobre o assunto foi lançado nesta quinta-feira pela ABC.

JORNAL DA USP
Universidades e pesquisadores precisam se engajar mais no combate à desinformação, diz Academia Brasileira de Ciências 
Mentiras e teorias conspiratórias ameaçam a democracia e a confiança da sociedade na ciência, alerta livro da ABC.

PORTAL R7
Desinformação Científica: Um Ecossistema Lucrativo nas Redes Sociais
O estudo da Academia Brasileira de Ciências (ABC), aponta que a desinformação científica é “sustentada por um ecossistema lucrativo.

METRÓPOLES
Cientistas cobram que plataformas “desmonetizem” fake News
Academia Brasileira de Ciências, que reúne principais cientistas do Brasil, denuncia mecanismos que favorecem propagação de fake news.

ISTO É DINHEIRO
Sistema lucrativo sustenta desinformação científica nas redes sociais
Estudo da Academia Brasileira de Ciências (ABC) aponta que a desinformação científica é “sustentada por um ecossistema lucrativo que inclui a monetização de conteúdo enganoso e a exploração das crenças e emoções do público para ganho financeiro”.


Acesse o documento “Desafios e estratégias na luta contra a desinformação científica”