Sua Idade
Publicidade

Por Da Redação


Suzana Pires (Foto: Divulgação/ Gustavo Nogueira) — Foto: Vogue

Depois de mais de 50 anos das “fogueiras dos soutiens”, já temos hoje um pedaço de lugar na sociedade. Temos voz, falamos dos nossos problemas, lutamos por leis que nos atendam, frequentamos a faculdade, construímos negócios e progressos. Ok.

Mas, o que o termo Dona de Si traz é a consciência plena do que é ter poder e assumi-lo no mundo. Dona de si deixa para trás empoderamento. Ele traz o poder à mesa e isso é fato.
No entanto, isso pode ser uma faca de “dois gumes” para qualquer pessoa e para uma mulher pode ser ainda pior.

Por que? Porque assumir poder socialmente ainda nos é novo e algo que estamos tateando. Vivemos os erros e acertos da nossa própria potência e um dos equívocos mais graves é acreditarmos que, por darmos conta de tudo o que a vida nos joga no colo, somos indestrutíveis.

Cuidado. Isso é a cilada da arrogância. Algo normal para os homens, que já estão acostumados e exercerem o seu de maneira distinta da nossa. Mas para nós, essa relação tem caminhos diferentes, pois jamais tivemos medo da nossa fragilidade, jamais deixamos de olhar para nosso lado mais vulnerável. O que parece acontecer é que passamos do momento de reconhecer que temos poder. O momento atual feminino é entender como vamos nos colocar no mundo com nossa potência. E o mais importante: como vamos agir conosco?

+ Mulher é parceira de outra mulher sim!

+ Suzi Pires reflete sobre o impacto de nossas escolhas

O problema de exercermos nossa autoridade, me parece, é que ao misturarmos a arrogância com o antigo padrão de querer agradar, tornamo-nos uma bomba relógio para nossa saúde, física e mental. Não nos damos limite - e muito menos para os outros. Entendemos que quanto mais ocupada, mais sucesso teremos e não, isso é uma perspectiva falsa de progresso.

Entendemos que precisamos manter a mulher contemporânea, mas sem renovar aquela que é romântica. Desta maneira, nos mantemos com os antigos padrões de absorver todas as tarefas “de mulher” e somamos a isso as tarefas de “homem”, sendo, responsáveis, muitas vezes, por todo o sustento da família.

Alô, Dona de Si: acorda! Dessa vez, não com um beijo do príncipe! Antes que o que tenhamos seja ou a visão do teto de um hospital ou a tampa do caixão fechando em cima do nosso lindo rosto cansado.
Estou pegando pesado? Não. Essa é a verdade e ela tem a qualidade de chegar chegando mesmo. Mais uma vez, seremos vítimas da cultura patriarcal de ter de agradar a todos. E que só desta maneira temos realmente valor na sociedade.

+ Documentário, exposição e desfile celebram Penny Slinger, piorneira do feminismo britânico

+ Ana Claudia Michels fala sobre sororidade, feminismo e mudanças que quer ver na moda e no mundo

Aí você pensa: “Peraí, eu sou uma CEO. Eu sou diretora da empresa tal. Eu sou dona do meu negócio, não fico tentando agradar ninguém!” E eu te digo: tens certeza? Te peço que reflita se na sua última reunião você se colocou como queria ou se mediu palavras para não ser taxada de temperamental ou louca; se você está aturando alguém que você já deveria ter substituído para dar mais uma chance... e por aí vai.

Não, não é sobre a bondade feminina que estou me referindo. Eu me refiro a nossa educação para compor, manipular o ambiente, servir, sem dizer objetivamente o que precisamos e queremos. Exercitar isso vai nos ajudar.
Afinal, como podemos gerenciar nossa vida se não fomos ensinadas e muito menos treinadas a dizer não.

Como podemos ter a saúde equilibrada se a última coisa que temos é tempo próprio? Como podemos ter tempo próprio se estamos compromissadas em provar para o mundo nosso valor?! Como podemos ser genuínas se nos inserimos numa teia insana que faz a nossa vida ser um inferno de tarefas?!
Como uma Dona de Si consciente, pode agir para se retirar da cilada que impôs a si mesma?

Sororidade!
Suzi Pires

Mais do vogue