Moda
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Por Liam Freeman


Backstage do inverno 2019 da Dior (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Maria Grazia Chiuri estava em mood reflexivo ao encontrar-se com a Vogue internacional no ateliê da Christian Dior, em Paris, antes de seu desfile de inverno 2019/20. A diretora artística da maison francesa, agora com 55 anos, conheceu Karl Lagerfeld quando era uma designer de 25 anos na Fendi, e as notícias de sua morte a fizeram refletir sobre seu papel no mundo da moda. “Ele era o diretor criativo original, o primeiro a trabalhar sob o nome de outra maison, como a Chanel e a Fendi”, diz. “É necessário refletir sobre a história de uma marca quando se desenha para um nome como Dior, pessoas que estão de fora reconhecem o código, e o código mais importante da Dior é a silhueta dos anos 50”.

Mas nesta temporada, Chiuri não quis contar apenas com as cinturas alfinetadas e saias volumosas do icônico New Look da Dior. Ela está animada com o “ponto de vista completamente novo” que a curadora Oriole Cullen trouxe para a exposição Christian Dior: Designer of Dreams, no Victoria and Albert Museum, em Londres (até 14 de julho). A mostra jogou luz sobre a inclinação anglófila de Mr. Dior – ele não apenas vestia a Princesa Margaret, mas também tinha uma queda por ternos da Savile Row, gostava de começar o dia com um tradicional café da manhã inglês e, em suas próprias palavras, adorava “tradições inglesas, a educação inglesa, a arquitetura inglesa”. E então, Chiuri começou a buscar seu próprio ponto de vista novo para a coleção inverno 2019/20 da Dior.

Maria Grazia Chiuri (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

A silhueta inspirada nas Teddy Girls
“Nunca se sabe de onde virá a inspiração quando o assunto é moda”, diz Chiuri. Para os blazers quadrados da estação, em couro, jeans e veludo, temos que agradecer a Stephen Jones. Cerca de seis meses atrás, o chapeleiro britânico – que cria enfeites de cabeça para a Maison Dior desde 1996 – trouxe a Chiuri uma fotografia tirada pelo pai de seu amigo, o falecido diretor de cinema Ken Russell. Na década de 1950, antes de dirigir filmes como o vencedor do Oscar Mulheres Apaixonadas (1969), e a ópera-rock Tommy (1975), do The Who, Russell passou um tempo documentando Teddy Girls e Boys de Londres com sua câmera Rolleicord. A fotografia que Jones deu a Chiuri mostrava Jean Rayner aos 14 anos, que fez amizade com Russell e o apresentou a essa subcultura do pós-guerra. “Ela tinha muita atitude”, Russell disse ao The Guardian em 2010. “Eram valentes, esses jovens… sabiam seu valor. Simplesmente vestiam o que queriam”. As Teddy Girls criaram uma identidade visual arrebatadora combinando casacos drapeados da era eduardiana – peça característica da aristocracia – com a moda americana inspirada no rock'n'roll, como jeans com barra dobrada e sapatos sem salto. Elas exemplificam, diz Chiuri, tudo que a fascina no estilo britânico: “Ele fala sobre tradição, mas ao mesmo tempo quebra as regras de fato”.

Backstage do inverno 2019 da Dior (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Backstage do inverno 2019 da Dior (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Backstage do inverno 2019 da Dior (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Estampas de camisetas citando literatura feminista
Quando Chiuri entrou para a Dior em julho de 2016 – a primeira mulher a assumir o cargo de diretora criativa nos 73 anos de história da casa – ela aproveitou a oportunidade para repensar sua abordagem em relação à moda. “Eu era bem ingênua quando comecei a trabalhar na moda, tudo tinha a ver com autoexpressão na época”, diz. “Agora, enxergo como minha tarefa oferecer uma mensagem positiva para a sociedade. Realmente acredito que somos responsáveis pela próxima geração”. Na Dior, Chiuri instilou essa mensagem por meio de suas colaboradoras – escolhendo Brigitte Lacombe para fotografar as campanhas e encomendando a artistas mulheres de todo o mundo o novo design da Lady bag da Dior. Seu objetivo, diz, é criar “uma conversa global sobre a feminilidade”. Para sua coleção verão 2017, Chiuri estampou o título dos ensaios de Chimamanda Ngozi Adichie, We Should All Be Feminists, em camisetas brancas; e para o inverno 2019/20, ela novamente decorou a peça básica de algodão com frases feministas, desta vez com a arte de capa de Sisterhood Is Global, a antologia do movimento feminino internacional da autora americana Robin Morgan. “Trata-se de uma promoção para o livro”, completa. “Quero que a Dior colabore com outras mulheres para apoiarmos o ponto de vista umas das outras”.

Backstage do inverno 2019 da Dior (Foto: Photograph by Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Backstage do inverno 2019 da Dior (Foto: Photograph by Jamie Stoker) — Foto: Vogue

O cenário assinado pela artista Tomaso Binga
“Ao colaborar com outro artista, você lhe confere a liberdade para se expressarem”, diz Chiuri. Para o o inverno 2019/20, ela pediu à artista italiana Bianca Pucciarelli Menna, de 88 anos, para criar o cenário. “A encontrei para falar sobre o projeto, e depois deixei nas mãos dela”, Chiuri continua. Menna é mais conhecida por seu alter ego masculino Tomaso Binga, que ela adotou a fim de penetrar no mundo misógino das artes na década de 1960, antes de revelar sua verdadeira identidade como forma de protesto durante o movimento feminista dos anos 70. Construindo sobre dois corpos de trabalho dos anos 70 – Scrittura Vivente e Alfabetiere Murale – Menna fotografou a si mesma nua em poses que lembram letras. Essas fotos foram arrumadas pelo interior do Musée Rodin, em Paris, onde foi o desfile da Dior, de forma que as letras soletrem um dos poemas de Menna. “Palavras são uma fonte muito importante de inspiração para mim”, diz Chiuri. “Livros não são como um filme onde tudo está definido – quando lemos, sonhamos”.

Bianca Pucciarelli Menna (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Dior (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

Dior (Foto: Jamie Stoker) — Foto: Vogue

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