Cultura
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Por Nô Mello


Autorretrato com Vestido Laranja (1920) (Foto: Divulgação) — Foto: Vogue

Aqui e lá fora, Tarsila do Amaral (1886-1973) é sem dúvida o nome mais célebre da arte brasileira na atualidade. No Brasil, já ganhou personagem protagonista em minissérie da Globo (Um Só Coração, de 2004), inspirou o verão 2017/18 da Osklen, e suas obras hoje em dia estampam de cadernos de escola a rótulos de vinho. No exterior, foi coroada com retrospectiva no MoMA ano passado, que culminou com o museu comprando sua tela A Lua (1928) por US$ 20 milhões - o valor mais alto já pago por uma obra de um pintor brasileiro.

Mesmo assim, fazia mais de década que a artista, fundadora do modernismo brasileiro, não tinha uma exposição em sua terra natal. O hiato chega ao fim graças à Tarsila Popular, mostra do Masp que reúne 120 obras de todas as fases de sua trajetória. “Pode-se dizer que, dentro da história da nossa pintura, Tarsila foi a primeira que conseguiu realizar uma obra de fato nacional”, defende o curador Fernando Oliva. “Seu principal dilema caminhava junto com o desafio da primeira geração modernista brasileira: buscar um meio caminho entre o vernacular e a arte moderna.”

tela Pastoral (1927) (Foto: Divulgação) — Foto: Vogue

Nascida em Capivari, interior de São Paulo, em uma tradicional família de fazendeiros, Tarsila realmente personificava este clash entre o que se via na arte da Europa do começo do século 20 (cubismo, dadaísmo, futurismo, e por aí vai) versus o que se via pelo Brasil fora dos museus. Mesmo tendo estudado entre 1920 e 1922 em Paris, na Académie Julien (voltou porque soube da articulação que rolava em São Paulo para a realização da Semana de Arte Moderna, da qual não participou), foram as cores, formas e figuras brasileiras que a colocaram no mapa das artes. Em 1923, nasce A Negra, considerada sua primeira obra-prima e um dos highlights da mostra do Masp. Na sequência, veio aquela que viria a ser sua “Mona Lisa”: a tela Abaporu (1928), parada obrigatória da exposição. Depois de uma temporada na União Soviética em 1931, onde visitou Moscou e São Petersburgo no auge do comunismo, iniciou sua fase de temática social, de onde saíram Operários e Segunda Classe, ambas de 1933 e que integram a seleção do Masp.

Interessante também ver a obra de Tarsila contrastada com a de Djanira Motta e Silva, que ocupa o subsolo do museu paulistano até o dia 19 (a de Tarsila fica no primeiro andar), e que se destacou, ao lado da colega de movimento, como uma das primeiras mulheres a terem seu valor reconhecido na arte brasileira. “Se você pensar que parte da história da arte canônica no Brasil é contada por homens, achamos que tanto uma quanto a outra mereciam uma reapresentação e uma revisão”, completa o curador.

Masp: Avenida Paulista, 1.578. Até 28 de julho.

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