Renda Variável

Por Isabel Filgueiras, Valor Investe — São Paulo


As ações da Americanas perderam mais de 85% do valor nos últimos 10 dias, após empresa informar, em fato relevante, que havia um rombo de R$ 20 bilhões que não constava em seus balanços. De lá para cá, os papéis ficaram abaixo de R$ 1, valendo apenas centavos, tornando, assim, o que se chama de "penny stocks".

O declínio foi feroz. E continuou na medida em que fatos novos vinham à tona. Em poucos dias, o caixa da empresa, que o ex-presidente Sergio Rial informou ser de R$ 8 bilhões na semana passada, encolheu para R$ 800 milhões. Logo depois, ao protocolar o pedido de recuperação de judicial, baixou para R$ 250 milhões. A recuperação judicial e a cotação baixíssima das ações seriam então uma oportunidade para o investidor? Vale a pena comprar os papéis agora?

A resposta pura e simples é: não. Pelo menos de acordo com os especialistas ouvidos pelo Valor Investe. O investimento em papéis da Americanas agora não passa de especulação. Os principais bancos de investimentos, analistas e gestoras colocaram os papéis na geladeira.

Até mesmo a definição de quanto vale o papel em relação ao desempenho da empresa (valuation) está difícil de calcular. As gigantescas inconsistências no balanço, que esconderam dívidas de R$ 20 bilhões, colocam em dúvida todos os dados do documento.

"Comprar agora? De jeito nenhum. A situação vem piorando e a cada dia temos novas surpresas. É melhor utilizar seus recursos em outros papéis, sem precisar se preocupar com o risco e as questão não respondidas das Americanas", avalia o analista da Levante, Flávio Conde.

Segundo Conde, ainda há muitas perguntas a serem respondidas. A empresa deve pelo menos três explicações ao mercado:

  1. Informar qual é o balanço real da empresa. Apresentá-lo auditado e republicar balanços anteriores para justificar como uma dívida de R$ 19 bilhões passa a R$ 43 bilhões;
  2. Quanto os acionistas de referência realmente estão dispostos a colocar na companhia? (Leia-se o trio de bilionários que estão entre os mais ricos do Brasil: Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira);
  3. Qual vai ser o novo prazo que eles podem pagar a dívida.

'Sem essas informações não há preço, não há cotação e não dá pra avaliar quanto a empresa pode valer", argumenta o analista.

Do jeito que está, as chances de ganhar dinheiro com a ação são equivalentes a acertar um alvo móvel, num descampado e com os olhos vendados e pouca munição.

Para quem argumenta que "está barato", um exemplo de "o que está ruim pode piorar" são as ações da Oi, que recentemente também passou por recuperação judicial. Quando as ações chegaram perto de R$ 1, muitos enxergaram uma possibilidade, porque "já estavam muito baratas". Mas os especialistas ouvido pelo Valor Investe lembram que o papel caiu ainda mais e chegou a ser negociado por R$ 0,18.

A Oi não faliu, mas encolheu de tamanho e já não tem a mesma representatividade de antes no setor de telecomunicações. A empresa se manteve na bolsa após um grupamento de ações, que transformou várias ações em um só para aumentar o valor unitário.

"Vimos uma deterioração muito rápida. Os fornecedores exigindo pagamento à vista, os vendedores do marketplace se descadastrando e os clientes com medo de não receber os produtos. É um risco muito grande, eu não investiria meus recursos nisso. Tem uma série de fatores que faz com que investir no papel seja muito arriscado", afirma Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research. Para ele, o papel pode cair mais ainda.

"Quem tem muito recurso no papel tem que vender, porque ele pode cair muito ainda. Vamos lembrar que essa é a quarta maior recuperação judicial do Brasil, atrás de Samarco, Odebrecht e a Oi", completa.

Recuperação judicial

A empresa tem um prazo de 60 dias para apresentar o plano de recuperação judicial. Depois disso, os credores precisam aprovar o documento para que ele seja posto em prática.

Um dos recursos para tentar turbinar o caixa seria uma oferta primária e subsequente de ações (follow-on). Mas para realizá-la, a empresa precisaria do aval dos credores pela aprovação da proposta, com os mínimos detalhes, no plano de recuperação.

Se isso ocorrer, haveria mais ações disponíveis, o que poderia aumentar a oferta e até derrubar mais o preço do papel. É, portanto, improvável que isso ocorra.

Enquanto o mercado estiver no escuro quanto a detalhes do balanço, do que houve e de como será a restruturação, qualquer movimento de compra é demasiadamente arriscado.

Por outro lado, se o plano for bem feito e consistente aos olhos dos credores e investidores, os papéis podem até subir. Mas a volatilidade deve ser constante por todo o processo de recuperação, que costuma ter altos e baixos e demorar anos para se completar.

O grande problema é que a incógnita sobre a real situação da companhia permanece, gerando muita desconfiança (com razão). Por muito menos, papéis como da resseguradora IRB perderam a credibilidade do mercado e até hoje não a recuperaram.

Talvez mais difícil que retomar as vendas e melhorar o caixa seja ganhar de novo o respeito e a confiança de credores e investidores.

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