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Por Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo


No último domingo (28), o Grupo Casas Bahia comunicou ao mercado que fechou um acordo de recuperação extrajudicial (RE) com seus principais credores, os bancos Bradesco e Banco do Brasil Banco do Brasil. Mas afinal, o que é isso e como mexe com as ações da companhia?

Recuperação judicial x Recuperação extrajudicial

Primeiro de tudo, é preciso entender que há uma diferença entre uma recuperação extrajudicial (caso das Casas Bahia) para uma recuperação judicial (como foi, por exemplo, com a Americanas). Como o próprio nome sugere, a recuperação extrajudicial acontece fora das vias judiciais. Portanto, o Poder Judiciário não está auxiliando ou intermediando o acordo. Nesse caso, a empresa pode negociar diretamente com seus credores e elaborar um acordo que poderá ou não ser homologado por um juiz.

Segundo Julia Monteiro, analista da MyCap, uma recuperação extrajudicial tende a ser menos custosa e burocrática, mas envolve menos garantias, o que pode se refletir em uma volatilidade alta das ações.

"A recuperação extrajudicial é diferente da judicial, porque a recuperação judicial costuma ser mais custosa e burocrática, dentro do âmbito judicial, como foi com a Americanas. E ela envolve mais garantias dentro do acordo feito", afirma.

Segundo a analista, as ações das Casas Bahia podem sofrer no pregão desta segunda-feira (29), porque uma recuperação extrajudicial traz consigo muitas incertezas a respeito do que deve acontecer no futuro.

O acordo não foi exatamente uma novidade

Segundo a especialista, esse movimento de um acordo extrajudicial já vinha se desenhando, uma vez que os resultados da companhia já mostravam uma dificuldade na geração de caixa. Portanto, era previsto que a empresa precisasse de algum tipo de plano para se recuperar.

"O fato é que ela vinha apresentando muita dificuldade em ciclos trimestrais, com grande dificuldade de capital de giro, emitindo muitas debêntures. A questão agora é que funcionários e credores certamente ficarão muito temerosos. A ação deve cair bastante, por conta de maior risco. Porque, na verdade, a ação é um reflexo do todo e o valor da empresa e ele deve cair bastante dada essa situação", diz.

Para a analista, um outro detalhe que pode atrapalhar a companhia nesse momento é justamente a taxa de juros ainda alta no Brasil, que torna a própria dívida das Casas Bahia maior e também penaliza o próprio varejo (e, portanto, dificulta a companhia de ter uma recuperação melhor no negócio).

José Daronco, analista da Suno Research, concorda que o cenário é desafiador não só para a companhia, mas para o segmento todo. "As empresas se endividaram no período pós-pandemia, com juros mais baixos, e à medida que juros e inflação subiram, elas se encontraram mais alavancadas e com queda nas vendas", afirma.

Segundo o especialista, desde ano passado, a empresa vem tentando fazer um processo de reestruturação não só financeiro como operacional, com fechamento de lojas e tentativas de renegociação de dívidas.

Carlos Daltozo, chefe de análises da eleven Financial, tem um contraponto. Embora concorde que um acordo por parte da companhia já era esperado, a escolha de um caminho “extrajudicial” foi uma surpresa. Ainda assim, a notícia foi considerada positiva pelo analista devido ao fato de ser um caminho menos custoso e que limita o escopo das dívidas financeiras, sem impactar outros pontos como uma recuperação judicial poderia fazer.

O lado positivo (inclusive nas ações)

Segundo o Valor Econômico, o acordo com o Banco do Brasil e Bradesco propõe que a empresa pague sua dívida bruta (atualmente em R$ 4,1 bilhões) em 72 meses e com um custo médio menor, de CDI (taxa que segue de perto a Selic) mais 1,2% ao ano.

Para Phil Soares, analista da Órama, essa melhora nas condições de pagamento é positiva para a companhia. Ao contrário de Julia, ele acredita que as ações podem subir no pregão desta segunda-feira (29), justamente porque o acordo evidencia que há uma solução em andamento e, portanto, as condições em que a companhia se encontra vão se tornar mais favoráveis.

"No curtíssimo prazo, a notícia é positiva. O preço em que as ações da companhia são negociadas hoje reflete uma alta probabilidade de a empresa precisar tomar crédito. Mas com esse acordo com oa bancos, essa probabilidade é reduzida. Então, devemos observar uma alta no papel no pregão de hoje", diz.

Ainda que o analista concorde que o ambiente é desafiador para a companhia, especialmente com a tendência de que os juros se mantenham altos, ele vê o movimento com bons olhos.

Daronco, da Suno, também vê a medida como algo positivo. Para ele, era "evidente" que a companhia teria um problema no curto prazo, tendo em vista que a operação seguiria deficitária sem que algum tipo de medida fosse tomada.

"Quando ela faz esse acordo, ela alonga o passivo dela para dar um fôlego para a companhia superar esse desafio e voltar a ter lucratividade e gerar caixa. Além disso, o custo da dívida diminuiu. Como era um custo bem elevado, e que vinha corroendo o resultado, a mudança é bem positiva. Acredito que isso deve pôr fim às expectativas mais negativas em relação à companhia. Então, acredito que com isso, ela vai conseguir mais rapidamente voltar a ser uma empresa lucrativa", diz.

Daltozo, da Eleven, destaca ainda que o acordo mostra que a companhia vai ter agora um foco total na sua recuperação operacional, o que pode se refletir positivamente nos balanços futuros.

"A gente vê como positivo esse pedido de recuperação, porque mostra que a companhia tem trabalhado para resolver a questão financeira e abre caminho para um movimento de ajuste da operação. Eles reduziram custos, fecharam várias lojas no ano passado, mas agora com essa solução encontrada para o problema financeiro, o foco agora vai ser totalmente na operação".

Para analistas do Bradesco BBI, o acordo dá um fôlegal importante para a companhia no curto e médio prazo, no entanto, eles mantém uma visão mais cautelosa sobre as ações da companhia, pelo menos até que a empresa de fato apresente uma evolução nos seus fundamentos e na execução da reestruturação de suas operações. Os analistas da casa têm recomendação neutra para Grupo Casas Bahia, com preço-alvo em R$ 12, potencial de alta de mais de 120% sobre o fechamento de sexta-feira (26).

Para analistas da XP investimentos, o acordo é um passo importante para a reestruturação da companhia. Assim como Soares, da Órama, os analistas afirmam que os termos reduzem de maneira significativa o peso da dívida no balanço da empresa nos próximos três anos e não comprometem as obrigações existentes com fornecedores e funcionários.

A XP tem recomendação neutra para Grupo Casas Bahia, com preço-alvo em R$ 8, potencial de alta de 47% sobre o fechamento de sexta-feira (26).

Ações sofrendo há tempos

Não é de hoje que as ações do Grupo Casas Bahia vinham sofrendo. Não à toa, no fim do ano passado, a companhia propôs um agrupamento de seus papéis de 25 para um.

Para quem não sabe, isso significa que cada 25 papéis da companhia negociados na bolsa se "juntariam" e seriam transformados em um. Isso aconteceu justamente devido ao baixo valor que os papéis estavam sendo negociados. As ações da empresa estão cotadas a menos de R$ 1 e, com isso, elas ganhavam a classificação de "penny stock" (jargão do mercado usado para papéis que valem centavos). A própria B3 pede para quem esse grupamento seja feito quando papéis caem para patamares tão baixos.

A bolsa faz essa orientação porque quando alguma ação é negociada a valores muito pequenos, toda movimentação que acontece em seus papéis tem variações percentuais muito distorcidas. Se uma ação varia R$ 0,01, por exemplo, pode haver uma alta ou queda significativa, de 3%, 5%, o que dificulta ao investidor ter uma visão clara da movimentação daquele ativo.

Agora, os investidores aguardam para ver como a notícia será recebida no pregão.

Contém informações do Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico

Casas Bahia — Foto: Divulgação/Casas Bahia
Casas Bahia — Foto: Divulgação/Casas Bahia
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