Recentemente, o governo anunciou um novo plano de incentivo chamado de “Nova Indústria Brasil”, que visa destinar, até 2026, R$ 300 bilhões para promover o desenvolvimento do setor industrial. Na ocasião do lançamento, o mercado respondeu de forma desconfiada. Isso porque ainda não ficou claro de onde viria o montante destinado ao projeto, além da dúvida sobre as chances de sucesso de uma política industrial. E, em tempos de discussões fiscais, parte dos investidores considerou essa uma pergunta muito importante para ficar sem resposta. Passados alguns dias, porém, os agentes financeiros começaram a mapear as oportunidades (e os riscos) que poderiam vir a partir dali. Segundo analistas, o projeto pode beneficiar empresas ligadas a setores de sustentabilidade. Por outro lado, os bancos privados podem sofrer.
Segundo a apresentação inicial do governo, os recursos do plano serão geridos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), que serão divididos entre R$ 271 bilhões em financiamentos, R$ 21 bilhões de créditos não reembolsáveis e R$ 8 bilhões para compra de ações.
A ideia é que o montante seja usado para diferentes objetivos, como estimular a produtividade das empresas com aquisições de equipamentos; incentivar o acesso das empresas ao mercado internacional e também desenvolver projetos de pesquisa e de sustentabilidade. Inclusive, uma das metas determinadas no programa é a de ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes e aumentar o uso da biodiversidade pela indústria.
“Um dos direcionamentos do programa fala de cadeias agroindustriais sustentáveis e, na minha cabeça, vem biocombustível, que é algo sustentável que deve se beneficiar disso. Aqui no Brasil temos o biodiesel, que vem da soja e está dentro da agroindústria, e temos também o etanol, que pode ser de cana ou de milho. Então, as empresas desses segmentos podem se desenvolver, ser impulsionadas”, afirma João Daronco, analista da Suno.
Dentre as empresas mais beneficiadas neste cenário, o especialista cita a fabricante de máquinas e equipamentos WEG, considerada um caso “óbvio”. Recentemente, a companhia tem ampliado sua participação na geração de energia eólica com novos produtos.
“A WEG virou uma fabricante de turbina eólica, que é um dos grandes vieses energéticos que a gente vê no Brasil. Então, ela será grande beneficiada. Além de tudo, a companhia é grande e tem um apelo junto ao investidor pessoa física”, afirma Phil Soares, analistas da Órama. A WEG também foi apontada pelos analistas da XP como uma das principais favorecidas pelo projeto. Segundo os analistas da corretora, “o foco do programa em digitalização, descarbonização e mobilidade limpa se encaixa diretamente com as iniciativas da companhia”.
Mas as beneficiadas vão muito além da WEG, segundo Daronco, da Suno. Entre os casos “menos óbvios” ele cita companhias voltadas a outras fontes de energia, especialmente a dos biocombustíveis, como a 3tentos, a São Martinho, a Jalles e a Raízen.
“A 3tentos afirmou semana passada que deve entrar para indústria de etanol de milho e ela já atuava em biocombustível por meio da soja, então ela pode se beneficiar. Além delas, a São Martinho, que é produtora de cana, também pode se favorecer, assim como a Jalles, que também é ligada à cana e chegou na bolsa há relativamente pouco tempo. Além disso tem a Raízen, uma das principais produtoras de etanol no Brasil, e a própria Cosan, que é dona da Raízen e ela ganha por tabela”, afirma o especialista.
Um dos pontos mais importantes levantados pelo especialista, porém, é o fato de que o aumento do uso de biocombustíveis e outras fontes de energia leva também a um aumento da industrialização no Brasil. “Ou seja, teremos mais máquinas, mais infraestrutura”, diz.
Uma empresa que se beneficia desse movimento em cadeia é a fabricante de componentes Tupy. A companhia produz peças fundidas e componentes estruturais de motores e estava sendo ameaçada com a chegada de veículos movidos a outras fontes de energia, como os elétricos. Agora, porém, ela pode voltar a ter mais força.
“Com o país investido em biocombustíveis, isso demonstra que vamos continuar tendo motores à combustão. Não será com óleos fósseis, mas com biocombustão. E isso abre espaço para Tupy, que antes estava ameaçado por carros elétricos e agora com essa diretriz nova volta a ganhar apelo”, diz.
Por outro lado, algumas empresas podem ser, de certa forma, prejudicadas com esse projeto, segundo os analistas. Soares, da Órama, explica que os bancos privados acabam perdendo apelo conforme o BNDES ganha mais força.
“O financiamento privado teve um crescimento bastante grande. A preocupação, nesse caso, seria uma possibilidade de voltar ao cenário anterior que havia menos espaço para bancos privados que não conseguiriam competir com as taxas oferecidas pelo BNDES, que eram subsidiadas pelo governo”, afirma o especialista.
Segundo Soares, não apenas os bancos de atacado podem sair prejudicados, mas também os de investimentos, uma vez que algumas companhias podem preferir tentar um empréstimo junto ao BNDES do que se financiar por meio de emissões de títulos no mercado financeiro.
Seja como for, os analistas destacam que o programa do governo ainda deve passar por mudanças e detalhamentos. Seus resultados, portanto, só devem ser sentidos (tanto na economia, quanto nas ações) no futuro. Para Daronco, os reflexos dele nos papéis das empresas só devem acontecer conforme o próprio plano vá sendo colocado em prática. Mas não custa nada que os investidores estejam atentos às oportunidades e, claro, aos riscos.
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